Paulo,
17 anos, está sentado em um banco, mexendo no celular, com cara de quem está
meio perdido. Ao lado, senta-se Clara, 22 anos, com um caderno na mão e um
sorriso que parece saber mais do que diz. Ele puxa papo.
—
Tô de saco cheio, Clara. Todo mundo quer me dizer o que fazer, o que pensar.
Parece que estão gritando na minha orelha o tempo todo.
—
Sei como é. Mas, Paulo, já parou pra pensar que, às vezes, não é quem está
falando que faz a diferença, mas se você está mesmo querendo ouvir?
— Como assim? Se a pessoa tá falando um monte de coisa que não faz sentido, eu vou ouvir por quê? É tipo ouvir rádio fora da estação, só chiado.
—
Boa essa do rádio! Mas deixa eu te contar uma coisa. Eu já fui igualzinha a
você. Achava que o mundo tava cheio de gente querendo enfiar ideias na minha
cabeça. Tipo aqueles grupos que brigam pra decidir quem tá certo sobre... sei
lá, como o mundo devia funcionar. Sabe do que eu tô falando, né?
—
Sei. Todo mundo quer ser o dono da verdade. Mas, tipo, eu não ligo pra isso. Só
quero viver minha vida, curtir meu rolê. Por que eu tenho que escolher um lado?
—
E quem disse que você tem que escolher um lado? Olha, eu aprendi uma coisa: não
adianta falar pra quem não quer ouvir. É como tentar ensinar um cachorro a
dançar forró. Ele até pode mexer as patas, mas não vai entender o ritmo.
—
Um cachorro dançando forró? Tá, Clara, você viajou nessa. Mas explica isso
direito. O que você quer dizer com “não querer ouvir”?
—
Beleza, vou te contar como eu vejo isso. Quando eu tinha uns 18 anos, eu vivia
brigando com meus amigos por causa de ideias. Cada um tinha uma opinião sobre
como as coisas deviam ser, como se o mundo fosse uma receita de bolo e todo
mundo tivesse a receita certa. Eu ouvia, mas, na real, não escutava. Sabe a
diferença?
—
Acho que sim. Ouvir é tipo... deixar o som entrar. Escutar é prestar atenção de
verdade?
—
Exatamente! Você tá ligado. Eu ouvia as pessoas falando, mas tava com os
ouvidos tapados pelo que eu já achava que era certo. Era como se eu tivesse um
filtro na cabeça: se não combinasse com o que eu pensava, eu ignorava.
Desligava o rádio, sabe?
— Tá, mas e se o que tão falando é só besteira? Tipo, ideias que não fazem sentido nenhum? Ou de coisas que estão acontecendo na nossa frente, mas que fazemos questão de não enxergar?
—
Aí é que tá! Eu também pensava assim. Mas, um dia, um professor me disse uma
coisa que mudou tudo: “Clara, até na besteira tem algo pra aprender, nem que
seja como não fazer as coisas”. Então, comecei a escutar de verdade. Não pra
concordar, mas pra entender por que as pessoas pensam daquele jeito.
—
Tá, mas e se eu não quero entender? Às vezes, parece que tão tentando me
convencer de algo que eu sei que não presta, que está me levando para um futuro
ruim.
—
Aí é que tá o pulo do gato, Paulo. Escutar não é concordar. É tipo... abrir a
janela pra deixar o vento entrar, mas você decide se o deixa bagunçar ou não a
sua casa. Quando você escuta, começa a ver o mundo pelos olhos dos outros. E
isso te dá poder.
—
Poder? Como assim?
—
Quando você entende o que move as pessoas, começa a enxergar o jogo. Tipo,
imagina um tabuleiro de xadrez. Se você só olha as suas peças, vai perder. Mas,
se entende o que o outro tá planejando, você joga melhor. É isso que escutar
faz: te dá mais jogadas.
—
Hum... Então, tipo, eu não preciso concordar com as ideias malucas dos outros,
mas posso tentar entender de onde elas vêm?
—
Isso! Eu comecei a fazer isso e, cara, mudou tudo. Tipo, eu via as pessoas
brigando por ideias, cada uma achando que tava salvando o mundo. Mas, na real,
elas só queriam ser ouvidas. Quando eu comecei a escutar, vi que nem tudo era
besteira. Às vezes, até quem tá “errado” tem um ponto que faz sentido.
—
Tá, mas e se for um cara gritando que está tudo uma maravilha, que não temos
problemas, que temos de aceitar as coisas sem questionar? Eu tenho que escutar isso?
—
Aí, meu amigo, você escuta, ri por dentro e pensa: “Tá, esse cara tá viajando,
mas porque ele acredita nisso?”. Talvez ele só precise de alguém que explique
as coisas de um jeito que faça sentido pra ele. Ou talvez ele só queira chamar atenção. O importante é: você não precisa comprar a ideia, mas entender o outro
te faz mais esperto.
—
Tá, Clara, você tá me convencendo. Mas, tipo, e se eu escutar e acabar mudando
de ideia? Não parece... sei lá, fraqueza?
—
Fraqueza? Não, Paulo, isso é coragem. Mudar de ideia quando você vê algo novo,
algo que faz mais sentido, é sinal de que você tá crescendo. Eu já mudei de
ideia um monte de vezes. Às vezes, é desconfortável, mas é como trocar de
roupa: às vezes, a antiga não serve mais.
—
Você explica as coisas de um jeito que parece fácil, né? Mas, na real, ainda
acho que tem muita gente que só quer gritar e não ouvir ninguém.
—
E tem mesmo! Mas sabe o que eu faço? Eu escolho com quem vale a pena conversar.
Nem todo mundo tá pronto pra escutar, assim como nem todo mundo tá pronto pra
falar algo que valha a pena. É como escolher um parceiro de dança: se o outro
só pisa no seu pé, melhor dançar sozinho.
—
Você e suas metáforas, Clara! Tá, mas me diz uma coisa: como eu sei quando vale
a pena escutar alguém?
—
Boa pergunta! Eu sigo uma regrinha: se a pessoa tá falando com respeito, com
vontade de explicar e não só de gritar, eu dou uma chance. E, mesmo que eu
discorde, tento tirar algo dali. Nem que seja só entender melhor o que eu
penso.
—
Tá bom, Clara. Vou tentar essa coisa de escutar mais. Mas, se eu virar um
filósofo por sua causa, a culpa é sua!
—
Se você virar filósofo, me convida pra tomar um café e discutir o sentido da
vida. Combinado?
—
Combinado! Mas agora me diz: você sempre foi assim, tipo, sábia?
—
Sábia? Eu? Nada disso! Eu só aprendi que fechar os ouvidos é como fechar uma
porta: você pode ficar seguro, mas nunca vai saber o que está do outro lado. E,
Paulo, o mundo tá cheio de portas pra abrir.
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E
aí, o que achou do papo entre Paulo e Clara?
A
ideia por trás desse diálogo é simples, mas poderosa: não adianta falar para
quem não quer ouvir, mas também não adianta fechar os ouvidos para tudo. A
metáfora que usamos aqui é sobre como a gente lida com ideias, especialmente
aquelas que mexem com o jeito que o mundo funciona – tipo as discussões que
rolam soltas por aí, sabe?
Escutar
não é só deixar o som entrar; é tentar entender o outro, mesmo que você
discorde. E isso, meus amigos, é o que te faz crescer de verdade.
Quando
a Clara fala sobre “abrir a janela” ou “jogar xadrez”, ela está te convidando a
olhar para o mundo com mais curiosidade. Não é sobre engolir qualquer ideia que
te jogam, mas sobre ter coragem de ouvir, refletir e, quem sabe, mudar de
ideia, se fizer sentido. É um convite para você, jovem, que está navegando
nesse mar de opiniões, para não se afogar ao tentar "quebrar" uma onda. Escolha suas conversas,
abra os ouvidos com sabedoria e, principalmente, não tenha medo de aprender.
Porque, no fim, o mundo não muda só com quem grita mais alto, mas com quem sabe
ouvir – e falar – na hora certa.
Então,
bora tentar?
Escute
uma ideia nova hoje, mesmo que pareça estranha. Quem sabe você não descobre
algo que te surpreenda? E, se esse texto te fez pensar, compartilhe com aquele
amigo que precisa de um empurrãozinho para abrir os ouvidos. Vamos espalhar
essa ideia juntos?
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