Clara
e Gilson, amigos de longa data, após realizarem sua caminhada diária, pararam
numa praça para recuperar o fôlego e tomar uma água de coco, comprada na
tendinha do seu Manuel.
—
Ei, você já parou pra pensar no que é ser feliz? — perguntou Clara, sentada no
banco da praça, enquanto observava as crianças brincando.
—
Claro que já. Mas acho que a gente complica demais isso. Felicidade não é algo
tão distante, sabe? — respondeu Gilson, sentado ao seu lado, com um sorriso
tranquilo.
—
Complicamos? Como assim? — Clara franziu a testa, curiosa.
— Tipo, a gente fica tão focado no que não tem, no que falta, que esquece de olhar ao redor. Felicidade não é ter tudo, é perceber que já temos mais do que o necessário.
—
Hum, interessante. Mas como assim "mais do que o necessário"? — ela
insistiu, balançando os pés.
—
Olha só... — Gilson apontou para as crianças correndo. — Elas estão felizes
agora, não porque têm brinquedos caros ou roupas de marca, mas porque estão
vivendo o momento. Elas têm o essencial: saúde, liberdade, um lugar pra
brincar. Isso já é mais do que muita gente tem. Talvez algumas delas nunca
viram o mar, por exemplo, mas isso não tira o sorriso do rostinho delas.
—
Verdade... — Clara suspirou, refletindo. — A gente vive reclamando de coisas
pequenas, né? Tipo, "ah, meu celular tá lento" ou "não tenho o
tênis da moda". Mas esquece que tem gente que nem celular tem.
—
Exato! — Gilson concordou, animado. — A felicidade começa quando a gente para
de comparar nossa vida com a dos outros e começa a agradecer pelo que já
conquistou. Não é sobre ter tudo, é sobre valorizar o que já está aqui.
—
Mas e quando a gente tá passando por um momento difícil? Como ser feliz assim?
— Clara olhou para ele, com um misto de dúvida e esperança.
—
Bom, momentos difíceis vão sempre existir. A questão é como a gente os encara.
Se a gente focar só no problema, fica difícil ver a luz. Mas se a gente parar e
pensar: "O que eu tenho agora que me ajuda a superar isso?", aí a
perspectiva muda.
—
Tipo, mesmo nos piores dias, a gente ainda tem algo bom? — ela perguntou,
tentando entender.
—
Sim! Pode ser um amigo que te escuta, um lugar pra dormir, um prato de comida
quente... Coisas que parecem simples, mas que fazem toda a diferença. A
felicidade está nesses detalhes.
—
E quando a gente se sente sozinho? — Clara baixou o olhar, como se a pergunta
fosse mais pessoal do que ela gostaria de admitir.
—
A solidão dói, eu sei. Mas até nesses momentos, a gente pode encontrar conforto
nas pequenas coisas. Um livro que te inspira, uma música que acalma, um passeio
no parque... São coisas que lembram que a vida ainda tem beleza, mesmo quando a
gente se sente perdido.
—
É... às vezes a gente só precisa parar e respirar, né? — ela sorriu, como se
algo tivesse clareado em sua mente.
—
Isso mesmo! Respirar, olhar ao redor e perceber que, mesmo nos dias mais
cinzas, ainda há cores. A felicidade não é um destino, é uma escolha diária.
—
E como a gente faz pra escolher ser feliz? — Clara inclinou a cabeça, como se
estivesse anotando mentalmente cada palavra.
—
Começa com gratidão. Todo dia, antes de dormir, pense em três coisas boas que
aconteceram. Pode ser algo simples, como um café quente de manhã ou um elogio
que você recebeu. Aos poucos, você treina sua mente pra enxergar o positivo.
—
E se não tiver nada de bom no dia? — ela questionou, meio cética.
—
Sempre tem. Pode ser que a gente não perceba de primeira, mas até o fato de
acordar todos os dias já é uma vitória. A vida é cheia de pequenos milagres que
a gente ignora.
—
Pequenos milagres... gostei dessa. — Clara sorriu, como se a frase tivesse
tocado algo dentro dela.
—
Pois é. A felicidade não está no que a gente conquista lá na frente, mas no que
a gente vive aqui e agora. É como um quebra-cabeça: cada momento bom é uma peça
que completa o quadro.
—
E quando a gente se sente insatisfeito? Tipo, querendo mais, mesmo tendo o
suficiente? — ela perguntou, como se estivesse cutucando uma ferida.
—
Isso é normal, todo mundo sente. Mas a chave é equilíbrio. Querer mais não é
ruim, desde que a gente não deixe isso apagar o que já temos. Sonhar alto é
bom, mas não pode virar uma obsessão.
—
Então, dá pra ser feliz e ainda querer mais? — Clara pareceu aliviada com a
ideia.
—
Claro! A felicidade não é estagnação. Você pode ser grato pelo que tem e ainda
correr atrás de outros sonhos. Só não pode deixar que a busca pelo
"mais" te cegue para o "já tenho".
—
Gostei disso. — Ela olhou para o horizonte, como se estivesse assimilando tudo.
— Acho que a gente precisa mesmo parar de complicar as coisas.
—
É isso. A vida já é complexa por si só. A gente não precisa acrescentar mais
peso. Ser feliz é simples: é olhar ao redor e perceber que, mesmo com os
desafios, a gente já tem mais do que o necessário.
—
E você, Gilson, se sente feliz? — Clara olhou para ele, com um sorriso sincero.
—
Nem sempre. Mas eu tento. E é isso que importa: tentar, todo dia, enxergar a
beleza nas pequenas coisas. Porque, no fim, é isso que faz a vida valer a pena.
—
Obrigada. — Ela deu um leve tapinha no ombro dele. — Acho que eu precisava
ouvir isso.
—
De nada. A gente só precisa lembrar que a felicidade não está lá longe. Ela
está aqui, bem na nossa frente, só esperando a gente perceber.
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Ser
feliz não é sobre ter tudo o que se deseja, mas sobre reconhecer o valor do que
já se tem. Muitas vezes, passamos tanto tempo focados no que falta que
esquecemos de apreciar o que já conquistamos. A felicidade está nos detalhes:
num abraço, num dia ensolarado, numa refeição quente. Ela não é um destino, mas
uma jornada que construímos a cada escolha.
Para
você que está lendo isso, pare por um momento e olhe ao seu redor. O que você
tem hoje que te faz sentir grato? Pode ser algo simples, mas é justamente nessa
simplicidade que a verdadeira felicidade mora. Não espere pelo dia perfeito
para ser feliz; encontre a beleza no dia que você está vivendo agora.
E
lembre-se: a vida é feita de altos e baixos, mas mesmo nos momentos mais
difíceis, há algo que nos sustenta. A felicidade não é a ausência de problemas,
mas a capacidade de enxergar a luz mesmo nas sombras. Então, respire fundo,
agradeça pelo que já tem e siga em frente. Porque, no fim das contas, você já
tem mais do que o necessário para ser feliz.
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