segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Solidão ou Solitude? Uma conversa sobre estar bem consigo mesmo.

 
            Isabela estava fazendo as unhas na sala de casa, quando seu irmão, Fábio, chegou do trabalho.

— Cara, tô me sentindo meio estranho esses dias. — disse Fábio, jogando a mochila no chão da sala, com um suspiro pesado. O tipo de suspiro que carrega cansaço e algo que não se explica fácil.

— Estranho como? — perguntou Isabela, largando o esmalte sobre a mesa e cruzando as pernas. O olhar curioso denunciava que ela queria entender mais.

— Sei lá... parece que tô sozinho no mundo, sabe? Não importa onde eu esteja, eu sinto que ninguém me entende de verdade. É como se eu tivesse desconectado de tudo.

— Hum, entendi. Você tá falando de solidão? É aquela sensação esquisita de vazio, tipo estar no meio de uma multidão e, ainda assim, se sentir sozinho?

— É isso! Bem desse jeito. E é ruim, sabe? Pesa. Às vezes, até gosto de ficar sozinho, no meu canto, mas tem horas que eu até queria conversar, fazer parte de algo, e parece que estou invisível para o resto do mundo, como aconteceu agora na faculdade, por exemplo.

— Olha, solidão é bem isso mesmo: se sentir isolado, desconectado, como se você não pertencesse àquele lugar em que se encontra. Mas sabia que muita gente confunde solidão com solitude?

— Solitude? Nunca ouvi falar dessa palavra.

— Pois é, é uma palavra meio esquecida, mas importante. Solitude é quando você está sozinho por escolha, e gosta disso. É aquele momento em que você curte estar só, sem precisar de companhia pra se sentir completo. É como se fosse um abraço em si mesmo.

— Tipo quando eu escuto música sozinho no quarto pra pensar melhor? Ou quando dou um rolê de bike sem falar com ninguém?

— Exatamente! Isso é solitude. A diferença é que na solidão você sente falta de algo, como se algo estivesse errado. Na solitude, você se sente em paz, conectado consigo mesmo.

— Nunca pensei nisso desse jeito... Mas então, como eu saio dessa sensação ruim de solidão? Porque, sinceramente, tá um saco.

— Primeiro, aceita que tá tudo bem não estar rodeado de gente o tempo todo. Tem muita gente que se obriga a ir pra festas ou lugares cheios só pra não encarar a própria companhia. E isso é bem comum.

— Já fiz isso várias vezes... E sabe o que é pior? Fico mais vazio ainda.

— Porque a solução não é quantidade de gente ao seu redor, mas qualidade — tanto das suas relações quanto do tempo que você passa consigo mesmo.

— Faz sentido. Mas transformar essa sensação de solidão em solitude parece meio abstrato, não?

— Nem tanto. Em vez de pensar "ninguém quer estar ou falar comigo", tenta pensar "vou aproveitar esse tempo pra cuidar de mim, descobrir coisas novas". É uma mudança de perspectiva.

— Parece mais fácil falar do que fazer.

— É verdade, no começo é estranho mesmo. Mas funciona. Quando você começa a gostar da sua própria companhia, tudo muda. Sério.

— Mas isso não é meio egoísta? Sei lá, gostar de estar sozinho parece que você não liga pros outros.

— De jeito nenhum! Egoísmo é ignorar os outros por conveniência. Solitude é autocuidado, é se dar tempo pra respirar, se entender. Quando você aprende a fazer isso, suas relações com os outros até melhoram.

— Nunca me preocupei com essas coisas.

— E talvez esteja na hora de começar. Uma pessoa que sabe estar bem, sozinha, não é carente, não vive se agarrando a qualquer companhia pra preencher um vazio.

— Mas e quando a solidão vem em forma de saudade? Tipo, de alguém que partiu ou de um amor que acabou?

— Aí é mais complicado. A saudade é uma forma de solidão, mas também pode ser um caminho pra solitude. Você aprende a conviver com a falta, a transformar a dor em crescimento.

— Crescimento? Como assim?

— Tipo, você começa a se conhecer mais. A entender que a felicidade não depende só dos outros, mas também de você.

— E se a gente não conseguir? Se a solidão for maior que a gente?

— Aí é importante pedir ajuda. Amigos, família, terapia... Ninguém precisa enfrentar tudo sozinho.

— Verdade. Mas e a solitude? Ela não é justamente sobre estar sozinho?

— Sim, mas solitude não é isolamento. É um momento seu, mas você ainda pode compartilhar suas descobertas depois.

— Entendi. Então, solitude é tipo uma pausa pra recarregar as energias?

— Exatamente! É como se você fosse uma bateria. Às vezes, precisa se desconectar pra se reconectar.

— E a solidão? Ela tem algum lado bom?

— Até tem. Ela nos faz refletir, nos empurra pra mudanças. Mas o importante é não ficar preso nela.

— E como saber se estamos presos?

— Quando a solidão vira um hábito, quando você se afasta de tudo e de todos. Aí é hora de repensar.

— E a solitude? Ela pode virar solidão?

— Pode, se você se perder no processo. Por isso é importante equilibrar. Ficar sozinho, mas sem se isolar completamente.

— Equilíbrio é a palavra, então?

— Sim! Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A solitude é um remédio, mas em excesso pode virar veneno.

— E como a gente sabe que está no caminho certo?

— Quando você se sente em paz, mesmo sozinho. Quando a companhia de si mesmo já é suficiente.

— E se a gente nunca chegar lá?

— Não tem problema. O importante é tentar. A jornada já é uma conquista.

— E os outros? Eles podem atrapalhar?

— Podem, se você deixar. Mas também podem ajudar. Depende de como você lida com as relações.

— E como lidar?

— Sendo sincero. Comunicando o que sente. E entendendo que nem todo mundo vai entender sua solitude.

— E se eles acharem que você está fugindo?

  Aí você explica. Mostra que é um momento seu, mas que você ainda se importa com eles.

— E se não aceitarem?

— Aí é problema deles. Você não pode controlar como os outros reagem, só como você age.

— E no fim, qual é a maior diferença entre solidão e solitude?

— A solidão é uma ferida, a solitude é um remédio. Uma te afasta do mundo, a outra te aproxima de si mesmo.

— Parece que solitude é tipo um superpoder.

— E é mesmo! Quem domina a solitude encontra paz.

— Paz? Que tipo de paz?

— Paz de não depender da validação constante dos outros. Paz de saber que, mesmo sozinho, você está inteiro, completo.

— Isso é complicado...

— Sim, mas vale a pena tentar. A gente cresce muito quando para de ter medo da própria companhia.

— Você gosta de ficar sozinha, então?

— Gosto. Não é que eu não curta estar com outras pessoas, mas aprendi a valorizar meus momentos comigo mesma.

— Como você fez isso?

— Aceitei que estar sozinha não significa estar abandonada. Depois, comecei a usar esses momentos pra coisas que me fazem bem: ler, escrever, dançar sozinha na sala, ouvir música alta sem me preocupar.

— Não se sentia esquisita?

— No começo sim. Mas depois percebi que essa esquisitice era só um medo de ser julgada. Quando você para de se preocupar com o que os outros pensam, fica mais fácil.

— Acho que quero tentar isso.

— Começa devagar. Desliga o celular por uma hora, faz algo que você gosta sozinho. Aos poucos, você vai ver como é bom.

— Vou tentar. Quem sabe eu descubra que minha própria companhia não é tão ruim assim.

— Tenho certeza que não é. Você só precisa se dar uma chance.

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Solidão e solitude são experiências diferentes, embora muita gente confunda as duas. Enquanto a solidão pode ser dolorosa e trazer um sentimento de abandono, a solitude é uma escolha consciente, onde você encontra conforto na própria companhia. 

Aprender a gostar de estar consigo mesmo é um processo que leva tempo, mas transforma a vida. Quando você descobre a beleza da solitude, percebe que não precisa estar cercado de pessoas o tempo todo para se sentir completo. 

Então, se um dia você se sentir perdido, lembre-se: a chave não é fugir da solidão, mas transformá-la em um momento de conexão consigo mesmo. É ali que você descobre o quanto sua própria companhia pode ser incrível.

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