—
Cara, por que você tá sempre com essa cara de quem acabou de perder o ônibus? —
perguntei, jogando a mochila no canto da sala.
Ele
me olhou com aquele olhar perdido que só quem já se sentiu atropelado pela vida
conhece. Suspirou fundo e soltou:
—
Porque eu tô cansado. De tudo. Das pessoas, dos problemas, de tentar e não sair
do lugar.
—
Mas você vai ficar aí sentado se lamentando até quando?
— Eu não tô me lamentando, tô só... aceitando. A vida tem dessas, sabe? Uns vencem, outros só assistem.
—
Não, velho. Não aceita isso, não. Porque, enquanto você se mantiver no chão,
todo mundo vai passar por cima. Ninguém desvia de quem se joga no caminho e
finge que não tem força pra levantar.
Ele
ficou em silêncio por uns segundos. Um silêncio meio azedo, daqueles que
incomodam até o pensamento.
—
Então o que você quer que eu faça? Que eu finja que tá tudo bem e vire o
bambambã da galera?
—
Não. Quero que você entenda que não é sobre fingir. É sobre decidir. Tem uma
diferença enorme entre estar no chão porque caiu... e permanecer lá porque
desistiu.
—
Fácil falar isso quando você tá com a vida andando.
—
Fácil nada. Eu também já fui o “pisado”. Já fui aquele que se sentia invisível,
que achava que ninguém se importava. A diferença é que, um dia, eu me cansei.
Cansei de ser o personagem secundário da minha própria história.
—
Mas e quando tudo dá errado? Quando parece que o universo te escolheu como saco
de pancada?
—
Aí é quando você mais precisa se levantar. Sabe por quê? Porque o mundo não tem
dó de quem se entrega. E quem só reclama acaba ficando surdo pro que pode mudar
sua vida.
Ele
me olhou meio desconfiado. Como quem quer acreditar, mas tem medo de ser feito
de bobo de novo.
—
E se eu levantar e o mundo continuar batendo?
—
Vai bater. A diferença é que, em pé, você pode revidar. Deitado, você só
apanha.
—
Mas, às vezes, é mais fácil continuar no chão. Pelo menos, lá ninguém espera
nada de você.
—
E é aí que mora o perigo. Quando você se acostuma com pouco, começa a chamar
migalha de banquete. Quando se acomoda na dor, ela vira lar.
—
Tá, mas e se eu não conseguir? E se eu levantar e cair de novo?
—
Então levanta outra vez. E mais uma. E mais uma. Cada vez que você se levanta,
prova que ainda tem controle. Cair faz parte, mas permanecer no chão é escolha.
—
E se as pessoas continuarem me pisando?
—
Só pisam em quem se coloca no lugar de tapete. Se você se levantar, se impor,
mostrar que não tá mais ali pra servir de degrau, vão ter que aprender a te
respeitar.
Ele
ficou me olhando como quem nunca tinha ouvido isso antes. Talvez ninguém nunca
tivesse falado com ele desse jeito. Ou talvez ele só estivesse esperando alguém
acreditar que ele ainda podia.
—
Cara, eu não sei nem por onde começar...
—
Começa por não se chamar mais de fracasso. Começa por mudar o discurso. Você
não é um coitado. Você é alguém que caiu, mas que ainda tem escolha.
—
Parece tão simples...
—
E é. O complicado é que a gente insiste em pintar o drama com as cores mais
escuras. Mas, no fundo, é só levantar. Literalmente.
—
E se ninguém me der a mão?
—
Aprende a levantar sozinho. E, quando estiver firme, aí sim, ajuda quem ainda
tá no chão. Mas sem carregar nas costas, hein? Ajudar não é virar muleta dos
outros.
—
Às vezes, parece que você leu um manual secreto da vida...
—
Que nada. Eu só aprendi na marra. Quebrando a cara. Escorregando na própria
teimosia. Mas uma coisa eu sei: o chão não cura ninguém. E também não é o meu
nem o seu lugar.
—
Engraçado... até ontem eu achava que a vida tava me sacaneando. Agora tô
começando a achar que eu que tava dando espaço pra isso.
—
Exatamente. A vida só pisa onde você deixa. Só invade onde você não fecha a
porta. Só machuca onde você não coloca limite.
—
E como eu faço pra manter a cabeça erguida quando tudo ao redor parece
desmoronar?
—
Foca no que você quer construir. Porque quem vive só apagando incêndio nunca
tem tempo pra levantar um castelo.
—
Tá... então, se eu levantar agora, o que eu faço depois?
—
Anda. Anda na direção do que você acredita. Mesmo que seja devagar. E, quando
tropeçar — porque vai acontecer —, respira, xinga baixinho se quiser, mas não
volta pro chão de onde saiu.
—
Eu ainda tenho medo.
—
Normal. Medo é sinal de que você se importa. Mas coragem não é ausência de
medo. É agir mesmo com ele no bolso.
—
Tá... acho que vou tentar. Levantar, digo.
—
Não tenta. Faz. Tentar ainda é uma desculpa disfarçada. Quem tenta deixa uma
porta aberta pra desistir.
Ele
deu um leve sorriso. O primeiro do dia, talvez. E eu senti que, naquele
instante, ele não tinha mudado o mundo... mas tinha começado a mudar o dele.
—---------------
Agora
é com você, que tá lendo isso aí, talvez se sentindo meio derrotado, meio
esquecido. Mas presta atenção em uma coisa: ninguém pisa em quem anda com a
cabeça erguida. As pessoas só te veem como vítima quando você se enxerga assim.
A decisão de levantar é sua. E, quando você levanta, o jogo muda.
Não
se acostume a ser o coitado da história. Você não é figurante no filme da sua
própria vida. E, se ninguém escreveu um final feliz pra você até agora, tá na
hora de você mesmo pegar a caneta. A dor pode até visitar, mas não deixa ela
morar aí.
Compartilha
esse texto com alguém que você sabe que tá precisando ouvir isso. Às vezes, uma
frase muda o dia de alguém. E, às vezes, um empurrãozinho — mesmo vindo de
palavras — é tudo que a gente precisa pra, enfim, sair do chão. Porque, cá
entre nós, o mundo é muito grande pra você viver rastejando.
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