domingo, 13 de abril de 2025

As pessoas só pisarão em você enquanto você se mantiver no papel de vítima e não decidir se levantar.

 
            — Cara, por que você tá sempre com essa cara de quem acabou de perder o ônibus? — perguntei, jogando a mochila no canto da sala.

Ele me olhou com aquele olhar perdido que só quem já se sentiu atropelado pela vida conhece. Suspirou fundo e soltou:

— Porque eu tô cansado. De tudo. Das pessoas, dos problemas, de tentar e não sair do lugar.

— Mas você vai ficar aí sentado se lamentando até quando?

— Eu não tô me lamentando, tô só... aceitando. A vida tem dessas, sabe? Uns vencem, outros só assistem.

— Não, velho. Não aceita isso, não. Porque, enquanto você se mantiver no chão, todo mundo vai passar por cima. Ninguém desvia de quem se joga no caminho e finge que não tem força pra levantar.

Ele ficou em silêncio por uns segundos. Um silêncio meio azedo, daqueles que incomodam até o pensamento.

— Então o que você quer que eu faça? Que eu finja que tá tudo bem e vire o bambambã da galera?

— Não. Quero que você entenda que não é sobre fingir. É sobre decidir. Tem uma diferença enorme entre estar no chão porque caiu... e permanecer lá porque desistiu.

— Fácil falar isso quando você tá com a vida andando.

— Fácil nada. Eu também já fui o “pisado”. Já fui aquele que se sentia invisível, que achava que ninguém se importava. A diferença é que, um dia, eu me cansei. Cansei de ser o personagem secundário da minha própria história.

— Mas e quando tudo dá errado? Quando parece que o universo te escolheu como saco de pancada?

— Aí é quando você mais precisa se levantar. Sabe por quê? Porque o mundo não tem dó de quem se entrega. E quem só reclama acaba ficando surdo pro que pode mudar sua vida.

Ele me olhou meio desconfiado. Como quem quer acreditar, mas tem medo de ser feito de bobo de novo.

— E se eu levantar e o mundo continuar batendo?

— Vai bater. A diferença é que, em pé, você pode revidar. Deitado, você só apanha.

— Mas, às vezes, é mais fácil continuar no chão. Pelo menos, lá ninguém espera nada de você.

— E é aí que mora o perigo. Quando você se acostuma com pouco, começa a chamar migalha de banquete. Quando se acomoda na dor, ela vira lar.

— Tá, mas e se eu não conseguir? E se eu levantar e cair de novo?

— Então levanta outra vez. E mais uma. E mais uma. Cada vez que você se levanta, prova que ainda tem controle. Cair faz parte, mas permanecer no chão é escolha.

— E se as pessoas continuarem me pisando?

— Só pisam em quem se coloca no lugar de tapete. Se você se levantar, se impor, mostrar que não tá mais ali pra servir de degrau, vão ter que aprender a te respeitar.

Ele ficou me olhando como quem nunca tinha ouvido isso antes. Talvez ninguém nunca tivesse falado com ele desse jeito. Ou talvez ele só estivesse esperando alguém acreditar que ele ainda podia.

— Cara, eu não sei nem por onde começar...

— Começa por não se chamar mais de fracasso. Começa por mudar o discurso. Você não é um coitado. Você é alguém que caiu, mas que ainda tem escolha.

— Parece tão simples...

— E é. O complicado é que a gente insiste em pintar o drama com as cores mais escuras. Mas, no fundo, é só levantar. Literalmente.

— E se ninguém me der a mão?

— Aprende a levantar sozinho. E, quando estiver firme, aí sim, ajuda quem ainda tá no chão. Mas sem carregar nas costas, hein? Ajudar não é virar muleta dos outros.

— Às vezes, parece que você leu um manual secreto da vida...

— Que nada. Eu só aprendi na marra. Quebrando a cara. Escorregando na própria teimosia. Mas uma coisa eu sei: o chão não cura ninguém. E também não é o meu nem o seu lugar.

— Engraçado... até ontem eu achava que a vida tava me sacaneando. Agora tô começando a achar que eu que tava dando espaço pra isso.

— Exatamente. A vida só pisa onde você deixa. Só invade onde você não fecha a porta. Só machuca onde você não coloca limite.

— E como eu faço pra manter a cabeça erguida quando tudo ao redor parece desmoronar?

— Foca no que você quer construir. Porque quem vive só apagando incêndio nunca tem tempo pra levantar um castelo.

— Tá... então, se eu levantar agora, o que eu faço depois?

— Anda. Anda na direção do que você acredita. Mesmo que seja devagar. E, quando tropeçar — porque vai acontecer —, respira, xinga baixinho se quiser, mas não volta pro chão de onde saiu.

— Eu ainda tenho medo.

— Normal. Medo é sinal de que você se importa. Mas coragem não é ausência de medo. É agir mesmo com ele no bolso.

— Tá... acho que vou tentar. Levantar, digo.

— Não tenta. Faz. Tentar ainda é uma desculpa disfarçada. Quem tenta deixa uma porta aberta pra desistir.

Ele deu um leve sorriso. O primeiro do dia, talvez. E eu senti que, naquele instante, ele não tinha mudado o mundo... mas tinha começado a mudar o dele.

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Agora é com você, que tá lendo isso aí, talvez se sentindo meio derrotado, meio esquecido. Mas presta atenção em uma coisa: ninguém pisa em quem anda com a cabeça erguida. As pessoas só te veem como vítima quando você se enxerga assim. A decisão de levantar é sua. E, quando você levanta, o jogo muda.

Não se acostume a ser o coitado da história. Você não é figurante no filme da sua própria vida. E, se ninguém escreveu um final feliz pra você até agora, tá na hora de você mesmo pegar a caneta. A dor pode até visitar, mas não deixa ela morar aí.

Compartilha esse texto com alguém que você sabe que tá precisando ouvir isso. Às vezes, uma frase muda o dia de alguém. E, às vezes, um empurrãozinho — mesmo vindo de palavras — é tudo que a gente precisa pra, enfim, sair do chão. Porque, cá entre nós, o mundo é muito grande pra você viver rastejando.

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