segunda-feira, 28 de abril de 2025

Pratique gratidão todos os dias.

 
               — Cara, de verdade... Não aguento mais esse papo de gratidão — resmungou Vini, largado no banco da praça. — Toda hora aparece alguém falando pra agradecer até pelo copo d'água que bebeu.

Eu ri. Não era sarcasmo, era aquele riso de quem já pensou a mesma coisa um dia.

— Sabe que eu também achava isso meio papo de livro de autoajuda, né? — falei, jogando uma pedra longe. — Até entender que praticar gratidão é tipo cuidar de um jardim invisível.

Vini arqueou uma sobrancelha, desconfiado.

— Jardim invisível?

— É. Imagina que sua vida é um jardim. Cada vez que você agradece de verdade, rega uma plantinha. Só que, se você esquece de regar, as plantas começam a morrer... e, de repente, parece que nada presta, que tá tudo seco.

Ele deu uma risada, balançando a cabeça.

— Grande coisa! Meu jardim já virou deserto faz tempo, então.

— Então começa a regar hoje, mano — insisti. — Gratidão não é só agradecer quando ganha presente caro, tipo um celular novo. É agradecer por coisa pequena. Tipo... acordar. Ter um amigo pra zoar. Ter um banco pra sentar nesta praça fedida.

Vini olhou em volta, fazendo careta.

— Banco desconfortável e praça fedida. Ótima coisa pra agradecer.

— Melhor do que não ter nada — rebati. — Gratidão muda a lente que a gente usa pra ver o mundo. Você começa a enxergar menos o lixo e mais as flores.

Ele pegou outra pedra, brincando de mirar na árvore.

— Tá, mas e quando tudo dá errado? Você quer que eu agradeça quando eu me lasco?

— É exatamente aí que a gratidão é mais forte — respondi. — Quando a vida te dá limão azedo, ser grato é o jeito de achar a limonada escondida.

Vini jogou a pedra no chão, rindo.

— Pô, você virou poeta agora?

— Não é poesia, não. É treino. Todo dia, uma coisinha boa. Nem que seja: "Hoje consegui sobreviver ao professor de física sem dormir." Já é uma vitória, pô!

Ele gargalhou.

— Essa eu agradeço mesmo.

— A vida não é feita só de grandes eventos — continuei. — É feita desses pequenos momentos que a gente geralmente ignora.

Vini ficou pensativo, mexendo na aba do boné.

— Tá... mas agradecer muda o quê na prática?

— Muda tudo. Agradecer foca seu cérebro no que é bom, em vez de ficar só remoendo o que é ruim. É tipo mudar a estação de rádio: sair da FM do "reclame" e entrar na AM da "resiliência".

— Nossa... AM? Velho, nem rádio AM existe mais!

— Exato — ri. — Gratidão é tão rara hoje que virou raridade!

Ele deu uma risada alta, dessa vez mais leve.

— Tá, professor. Como é que eu começo esse negócio aí?

— Começa hoje. Quando chegar em casa, antes de dormir, pensa em três coisas pelas quais você é grato. Três só. Não precisa escrever em pergaminho nem fazer ritual com incenso.

— Só pensar?

— Só pensar já é bom. Se quiser escrever, melhor ainda. Mas o importante é sentir. Não adianta fazer lista de supermercado tipo "grato pelo ar, grato pela água, grato pela pizza". Tem que ser de verdade.

Ele jogou o boné no colo, olhando para o céu.

— Tipo... grato por esse céu azul, mesmo com umas nuvens feias?

— Tipo isso. Porque até as nuvens feias fazem parte do céu bonito.

Vini respirou fundo, parecendo saborear a ideia.

— E se eu esquecer um dia?

— Relaxa. Não é penitência. É treino. Igual academia. Falhou um dia? Volta no outro. O importante é não abandonar o jardim.

— Jardim invisível — repetiu ele, sorrindo de canto.

— Isso aí, mano. Gratidão é o que deixa a vida menos árida e muito mais viva.

Vini ficou quieto um tempo, como quem está regando uma plantinha mental.

— Valeu, velho. Eu tava precisando ouvir isso.

— E eu tava precisando falar. No fim, acho que praticar gratidão também é isso: ser grato pelas conversas que viram chaves na nossa cabeça.

Ele levantou-se, ajeitando o boné.

— Bora, então. Bora praticar essa parada aí.

— Bora. Um passo de cada vez. E lembra: mesmo que o mundo não mude amanhã, você segue em frente.

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Se você chegou até aqui, me conceda mais dois minutinhos: praticar gratidão todos os dias é mais do que um hábito bonito — é uma estratégia de sobrevivência emocional. Num mundo que vive gritando que "nada nunca é suficiente", ser grato é um ato de rebeldia. É você dizendo: "Eu reconheço o que já tenho, e isso me faz mais forte."

Ninguém está dizendo para você fingir que a vida é perfeita. Não é sobre tapar os olhos para os problemas. É sobre perceber que, mesmo nas piores fases, ainda existem motivos para sorrir. Talvez seja uma música que tocou no fone, um abraço de alguém que você ama, ou até o fato de ter conseguido levantar da cama num dia difícil. Cada pequena vitória conta.

Então, se hoje você quiser começar a mudar seu jeito de olhar para a vida, já sabe: pratique gratidão. Todos os dias. Sem pressão, sem mágica, sem receita pronta. Só com o coração aberto e a vontade real de ver flores nascendo no seu próprio jardim. Quem sabe amanhã você não inspire alguém a cuidar do seu jardim invisível também?

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