O
auditório da escola pública estava cheio. As cadeiras velhas rangiam enquanto
os alunos da 5ª à 9ª séries se ajeitavam, uns cutucando os amigos, outros
fuçando nos celulares por baixo das mochilas. O sol entrava pelas janelas
empoeiradas, e o ventilador barulhento tentava espantar o calor daquele dia
quente.
No
palco, uma mulher de óculos redondos e cabelo preso num coque simples segurava
um microfone. Era a doutora Ruth, psicóloga que entendia tudo de jovens. Ela
deu um sorriso largo e esperou o barulho diminuir.
—
Oi, pessoal! Tudo bem com vocês? — começou ela, animada. — Eu sou a Ruth, e
hoje vim falar de algo importante. Quem aqui já ouviu falar dos desafios da
internet?
Algumas
mãos subiram, meio tímidas. Um menino no fundo gritou:
— Tipo aquele do balde de gelo?
Ruth
riu e balançou a cabeça.
—
Esse foi tranquilo, né? Mas eu estou falando de outros, que às vezes mexem com
a gente de um jeito ruim. Alguém já viu algo esquisito ou perigoso nesses
desafios?
Uma
garota de trança, na terceira fileira, levantou a mão.
—
Eu vi um que mandava apagar a luz e ficar olhando pro espelho de noite. Minha
amiga achou graça, mas eu fiquei com medo.
—
Ótimo exemplo! — disse Ruth, apontando para ela. — Esses desafios podem parecer
brincadeira, mas alguns deixam a gente assustado ou até machucado. Já ouviram
falar de alguém que se feriu por causa disso?
O
silêncio caiu pesado. Um menino de boné falou baixo:
—
Meu primo disse que um amigo dele se cortou por causa de um desafio. Ele ficou
muito triste depois.
Ruth
assentiu, séria.
—
É disso que eu quero falar. A internet é um lugar incrível, cheia de jogos e
amigos, mas também esconde coisas perigosas. Então, deixa eu explicar
direitinho: alguns desafios pedem para você se machucar, como se fosse um teste
de coragem. Isso já deixou adolescentes com cicatrizes e, em alguns casos,
consequências ainda mais graves.
Uma
menina de cabelo cacheado perguntou:
—
Tipo o quê, doutora?
—
Tipo jovens que pararam de comer por dias ou que se cortaram com faca por causa
de vídeos na internet — respondeu Ruth, andando pelo palco. — E, em casos muito
tristes, alguns não aguentaram a pressão e morreram. Por isso eu vim aqui: para
ajudar vocês a se protegerem disso.
Um
garoto magrinho, de óculos, falou:
—
Por que alguém inventa essas coisas?
—
Boa pergunta! — disse Ruth. — Às vezes, é para chamar atenção na internet,
ganhar “likes”. Outras vezes, é só maldade mesmo. Mas o perigo é que essas
ideias voam rápido, como um boato na escola. E aí muita gente acaba entrando na
onda sem pensar.
Uma
menina quietinha, no canto, levantou a voz:
—
Minha prima ficou viciada num aplicativo. Ela achava que, se não fizesse o que
mandavam, ia acontecer algo ruim com a gente.
—
Isso é horrível, né? — respondeu Ruth. — Chama-se chantagem emocional. É quando
alguém te faz sentir que não tem escolha. Para se proteger, o primeiro passo é
desconfiar. Se parece louco ou te dá medo, já é sinal de problema.
Um
menino de camiseta da seleção perguntou:
—
Mas como eu sei o que é perigoso?
—
Boa, você está esperto! — disse Ruth, animada. — Olha só: se te mandam fazer
algo que você não faria sozinho, como se machucar ou passar vergonha, pare e
pense. Pergunte: “Por que isso está me mandando fazer algo tão estranho?” E, se
puder, mostre para um adulto em quem você confia.
Uma
garota de mochila rosa falou:
—
Minha mãe diz pra eu contar tudo pra ela, mas eu fico com vergonha.
—
Sua mãe está certíssima! — exclamou Ruth. — Contar para alguém é como pedir um
mapa quando você está perdido. Por exemplo: se você vê um desafio que manda
apagar fogo com a mão, contar para um adulto pode te salvar de uma queimadura
feia. Pensem assim: se vocês não podem contar para sua mãe ou pai, é porque tem
algo errado.
Um
menino grandão, na frente, cruzou os braços.
—
E se eu não tiver ninguém pra contar?
—
Sempre tem alguém — respondeu Ruth, com um olhar gentil. — Pode ser um
professor, um vizinho ou até um amigo mais velho. E, olha só, eu vou deixar meu
contato com a escola. Se precisar, é só me chamar que eu te ajudo a sair dessa.
A
plateia deu uma risadinha. Uma menina de rabo de cavalo perguntou:
—
Doutora, alguém já morreu mesmo por causa disso?
Ruth
respirou fundo.
—
Sim, infelizmente. Teve casos de jovens que seguiram desafios tão perigosos que
não sobreviveram. Por exemplo, um que mandava prender a respiração até
desmaiar. Parece bobeira, mas o corpo não aguenta. Por isso vocês precisam
ficar espertos.
Um
menino, que estava comendo uma bolacha, falou:
—
Então é melhor parar de usar celular?
—
Nada disso! — Ruth riu. — O celular é igual a uma bicicleta: pode te levar para
lugares legais ou te fazer cair num buraco. Para se proteger, usem o bom senso.
Se um vídeo ou mensagem te deixa nervoso, desligue e respire fundo.
Uma
garotinha com jeitinho de tímida perguntou:
—
E se eu já fiz um desafio bobo? Eu sou burra?
—
Nunca! — disse Ruth, firme. — Todo mundo já caiu numa cilada alguma vez. O que
importa é aprender com isso. Se fez algo que te deixou mal, conte para alguém.
Isso já te protege de cair de novo.
Um
menino de cabelo azul gritou:
—
Mas os adultos não ficam no celular o dia todo também?
Ruth
caiu na gargalhada.
—
Verdade, eles também exageram! Mas vocês estão crescendo agora, e o cérebro de
vocês está formando quem vocês vão ser. Então, para se proteger, coloquem
limites. Tipo: “Vou ver vídeo por uma hora, depois vou jogar bola.” Funciona!
Uma
menina de saia jeans perguntou:
—
Doutora, como eu me protejo de verdade?
—
Vou te dar três dicas simples — respondeu Ruth. — Uma: desconfie do que parece
arriscado. Duas: peça ajuda se tiver dúvida. Três: lembrem-se de que vocês
mandam na vida de vocês, não um vídeo idiota. Anotou?
Um
garoto, que até então mexia na mochila, falou:
—
Minha irmã disse que eu sou fraco por não fazer o que os outros fazem.
—
Fraco é quem segue qualquer coisa sem pensar — disse Ruth. — Força é dizer
“não” quando te pressionam. Imagina: te mandam pular de uma ponte num vídeo.
Você pula ou fala “tô fora”? O forte é quem fala “tô fora”.
Uma
menina de cabelo curto perguntou:
—
E se eu já tô me sentindo mal por causa disso?
—
Então você já está no caminho certo — respondeu Ruth, suave. — Reconhecer é o
começo. Se está se sentindo mal, procure alguém para conversar. Pode ser até
comigo depois da palestra. A gente acha um jeito de tirar esse peso.
O
sinal tocou, mas ninguém correu. Um menino gritou:
—
Doutora, volta outro dia?
Ruth
sorriu, guardando o microfone.
—
Se vocês quiserem, eu volto, sim! Mas levem isso com vocês: a internet é só uma
ferramenta. Quem decide o que fazer com ela são vocês. Combinado?
Os
alunos aplaudiram, alguns batendo os pés. Ruth acenou enquanto eles saíam,
ainda falando alto sobre o que tinham ouvido.
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A
palestra da doutora Ruth mostrou que a internet tem muitas coisas legais, mas
também esconde perigos que podem machucar. Os desafios online, embora pareçam
brincadeiras, podem deixar marcas no corpo e na mente. A boa notícia é que é
possível se proteger com atitudes simples: desconfiar, pedir ajuda e tomar as
rédeas da própria vida.
Se
você está enfrentando algo assim, não se sinta sozinho. Não é sua culpa, e você
é mais forte do que qualquer pressão boba. Levante a cabeça, respire fundo e
procure alguém para lhe dar a mão — isso já muda tudo.
Se
você está se sentindo no escuro, lembre-se: é só acender uma luzinha
conversando com alguém. Converse com seus pais, irmãos ou irmãs mais velhas,
com seus avós, com sua professora. Você vai ver que o caminho fica bem mais
claro. Força aí!
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