terça-feira, 15 de abril de 2025

Desafios na Internet: Diversão ou Perigo?

 
O auditório da escola pública estava cheio. As cadeiras velhas rangiam enquanto os alunos da 5ª à 9ª séries se ajeitavam, uns cutucando os amigos, outros fuçando nos celulares por baixo das mochilas. O sol entrava pelas janelas empoeiradas, e o ventilador barulhento tentava espantar o calor daquele dia quente.

No palco, uma mulher de óculos redondos e cabelo preso num coque simples segurava um microfone. Era a doutora Ruth, psicóloga que entendia tudo de jovens. Ela deu um sorriso largo e esperou o barulho diminuir.

— Oi, pessoal! Tudo bem com vocês? — começou ela, animada. — Eu sou a Ruth, e hoje vim falar de algo importante. Quem aqui já ouviu falar dos desafios da internet?

Algumas mãos subiram, meio tímidas. Um menino no fundo gritou:

— Tipo aquele do balde de gelo?

Ruth riu e balançou a cabeça.

— Esse foi tranquilo, né? Mas eu estou falando de outros, que às vezes mexem com a gente de um jeito ruim. Alguém já viu algo esquisito ou perigoso nesses desafios?

Uma garota de trança, na terceira fileira, levantou a mão.

— Eu vi um que mandava apagar a luz e ficar olhando pro espelho de noite. Minha amiga achou graça, mas eu fiquei com medo.

— Ótimo exemplo! — disse Ruth, apontando para ela. — Esses desafios podem parecer brincadeira, mas alguns deixam a gente assustado ou até machucado. Já ouviram falar de alguém que se feriu por causa disso?

O silêncio caiu pesado. Um menino de boné falou baixo:

— Meu primo disse que um amigo dele se cortou por causa de um desafio. Ele ficou muito triste depois.

Ruth assentiu, séria.

— É disso que eu quero falar. A internet é um lugar incrível, cheia de jogos e amigos, mas também esconde coisas perigosas. Então, deixa eu explicar direitinho: alguns desafios pedem para você se machucar, como se fosse um teste de coragem. Isso já deixou adolescentes com cicatrizes e, em alguns casos, consequências ainda mais graves.

Uma menina de cabelo cacheado perguntou:

— Tipo o quê, doutora?

— Tipo jovens que pararam de comer por dias ou que se cortaram com faca por causa de vídeos na internet — respondeu Ruth, andando pelo palco. — E, em casos muito tristes, alguns não aguentaram a pressão e morreram. Por isso eu vim aqui: para ajudar vocês a se protegerem disso.

Um garoto magrinho, de óculos, falou:

— Por que alguém inventa essas coisas?

— Boa pergunta! — disse Ruth. — Às vezes, é para chamar atenção na internet, ganhar “likes”. Outras vezes, é só maldade mesmo. Mas o perigo é que essas ideias voam rápido, como um boato na escola. E aí muita gente acaba entrando na onda sem pensar.

Uma menina quietinha, no canto, levantou a voz:

— Minha prima ficou viciada num aplicativo. Ela achava que, se não fizesse o que mandavam, ia acontecer algo ruim com a gente.

— Isso é horrível, né? — respondeu Ruth. — Chama-se chantagem emocional. É quando alguém te faz sentir que não tem escolha. Para se proteger, o primeiro passo é desconfiar. Se parece louco ou te dá medo, já é sinal de problema.

Um menino de camiseta da seleção perguntou:

— Mas como eu sei o que é perigoso?

— Boa, você está esperto! — disse Ruth, animada. — Olha só: se te mandam fazer algo que você não faria sozinho, como se machucar ou passar vergonha, pare e pense. Pergunte: “Por que isso está me mandando fazer algo tão estranho?” E, se puder, mostre para um adulto em quem você confia.

Uma garota de mochila rosa falou:

— Minha mãe diz pra eu contar tudo pra ela, mas eu fico com vergonha.

— Sua mãe está certíssima! — exclamou Ruth. — Contar para alguém é como pedir um mapa quando você está perdido. Por exemplo: se você vê um desafio que manda apagar fogo com a mão, contar para um adulto pode te salvar de uma queimadura feia. Pensem assim: se vocês não podem contar para sua mãe ou pai, é porque tem algo errado.

Um menino grandão, na frente, cruzou os braços.

— E se eu não tiver ninguém pra contar?

— Sempre tem alguém — respondeu Ruth, com um olhar gentil. — Pode ser um professor, um vizinho ou até um amigo mais velho. E, olha só, eu vou deixar meu contato com a escola. Se precisar, é só me chamar que eu te ajudo a sair dessa.

A plateia deu uma risadinha. Uma menina de rabo de cavalo perguntou:

— Doutora, alguém já morreu mesmo por causa disso?

Ruth respirou fundo.

— Sim, infelizmente. Teve casos de jovens que seguiram desafios tão perigosos que não sobreviveram. Por exemplo, um que mandava prender a respiração até desmaiar. Parece bobeira, mas o corpo não aguenta. Por isso vocês precisam ficar espertos.

Um menino, que estava comendo uma bolacha, falou:

— Então é melhor parar de usar celular?

— Nada disso! — Ruth riu. — O celular é igual a uma bicicleta: pode te levar para lugares legais ou te fazer cair num buraco. Para se proteger, usem o bom senso. Se um vídeo ou mensagem te deixa nervoso, desligue e respire fundo.

Uma garotinha com jeitinho de tímida perguntou:

— E se eu já fiz um desafio bobo? Eu sou burra?

— Nunca! — disse Ruth, firme. — Todo mundo já caiu numa cilada alguma vez. O que importa é aprender com isso. Se fez algo que te deixou mal, conte para alguém. Isso já te protege de cair de novo.

Um menino de cabelo azul gritou:

— Mas os adultos não ficam no celular o dia todo também?

Ruth caiu na gargalhada.

— Verdade, eles também exageram! Mas vocês estão crescendo agora, e o cérebro de vocês está formando quem vocês vão ser. Então, para se proteger, coloquem limites. Tipo: “Vou ver vídeo por uma hora, depois vou jogar bola.” Funciona!

Uma menina de saia jeans perguntou:

— Doutora, como eu me protejo de verdade?

— Vou te dar três dicas simples — respondeu Ruth. — Uma: desconfie do que parece arriscado. Duas: peça ajuda se tiver dúvida. Três: lembrem-se de que vocês mandam na vida de vocês, não um vídeo idiota. Anotou?

Um garoto, que até então mexia na mochila, falou:

— Minha irmã disse que eu sou fraco por não fazer o que os outros fazem.

— Fraco é quem segue qualquer coisa sem pensar — disse Ruth. — Força é dizer “não” quando te pressionam. Imagina: te mandam pular de uma ponte num vídeo. Você pula ou fala “tô fora”? O forte é quem fala “tô fora”.

Uma menina de cabelo curto perguntou:

— E se eu já tô me sentindo mal por causa disso?

— Então você já está no caminho certo — respondeu Ruth, suave. — Reconhecer é o começo. Se está se sentindo mal, procure alguém para conversar. Pode ser até comigo depois da palestra. A gente acha um jeito de tirar esse peso.

O sinal tocou, mas ninguém correu. Um menino gritou:

— Doutora, volta outro dia?

Ruth sorriu, guardando o microfone.

— Se vocês quiserem, eu volto, sim! Mas levem isso com vocês: a internet é só uma ferramenta. Quem decide o que fazer com ela são vocês. Combinado?

Os alunos aplaudiram, alguns batendo os pés. Ruth acenou enquanto eles saíam, ainda falando alto sobre o que tinham ouvido.

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A palestra da doutora Ruth mostrou que a internet tem muitas coisas legais, mas também esconde perigos que podem machucar. Os desafios online, embora pareçam brincadeiras, podem deixar marcas no corpo e na mente. A boa notícia é que é possível se proteger com atitudes simples: desconfiar, pedir ajuda e tomar as rédeas da própria vida.

Se você está enfrentando algo assim, não se sinta sozinho. Não é sua culpa, e você é mais forte do que qualquer pressão boba. Levante a cabeça, respire fundo e procure alguém para lhe dar a mão — isso já muda tudo.

Se você está se sentindo no escuro, lembre-se: é só acender uma luzinha conversando com alguém. Converse com seus pais, irmãos ou irmãs mais velhas, com seus avós, com sua professora. Você vai ver que o caminho fica bem mais claro. Força aí!

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