—
Cara, posso te perguntar uma parada meio filosófica? — ele disse, mexendo no
milkshake com o canudo como se aquilo fosse resolver a vida.
—
Manda.
—
Como é que você ainda acredita nessas coisas de “seguir em frente”, “foco”,
“vai dar certo”, se tá todo mundo largando tudo?
—
Hm... boa pergunta. Mas já aviso que minha resposta não vem com glitter nem
frase pronta de caneca.
Ele
riu.
— Tô falando sério, cara. Parece que a galera ao redor só vive reclamando, parando no meio do caminho... tipo, tudo desandando. E aí você lá: firme. Como assim?
—
Vou te contar uma coisa. Manter o foco quando todo mundo ao redor tá desistindo
é como remar contra a correnteza. Dá cãibra, o braço treme, o sol queima a
cara. Mas... se você parar, vai descer a correnteza como todo mundo.
—
Caramba... profundo. Mas você não cansa?
—
Claro que canso. Já quis largar tudo mil vezes. Só que tem uma coisa que eu
descobri: a desistência dos outros não pode ser a desculpa da minha.
—
E como é que você segura isso? Como você não se contamina?
—
A verdade? Eu me contamino, sim. Só que aprendi a filtrar. Tipo, se você anda
só com quem tá sempre dizendo que vai parar, uma hora você para também. Eu
comecei a me cercar de gente que, mesmo ralando, andava. Acredita? Às vezes, essa
galera é só um ou dois. Mas é o suficiente pra não enlouquecer. Tipo, se você
estiver numa reunião de trabalho e for o mais inteligente da mesa, muito
provavelmente você está na mesa errada.
—
E se não tiver ninguém mais na mesa?
—
Aí você é o primeiro. Alguém tem que ser o primeiro maluco que decide acreditar
quando tudo tá desmoronando.
Ele
ficou em silêncio, mexendo no milkshake com mais intensidade, como se cavasse
alguma resposta no fundo do copo.
—
Mas e o medo? Tipo... medo de ser o único sonhando?
—
Ah, o medo... esse é companheiro de viagem. Anda do meu lado todo dia. Mas sabe
o que eu percebi? Coragem não é não sentir medo. É continuar mesmo sentindo.
Use o medo como motivação, e não como desculpa para desistir.
—
Tá, mas e se eu decidir errado?
—
Vai errar. Vai quebrar a cara. Vai doer. Mas, olha... tem uma coisa mais
dolorida ainda: saber que você desistiu antes de tentar de verdade.
Ele
me olhou de canto, com aquela expressão de quem estava tentando fingir que não
estava emocionado.
—
E quando as pessoas começam a te chamar de teimoso, de sonhador demais?
—
Aí você sorri. Porque você sabe que os mesmos que hoje te chamam de louco,
amanhã vão te chamar de exemplo.
—
Sério isso?
—
Sério. Já aconteceu comigo. Gente que dizia: “Larga isso, vai procurar algo
mais real”... depois veio me perguntar como eu fiz pra conseguir.
—
Mas você não ficou com raiva?
—
Fiquei. Eu sou humano, pô. Mas depois entendi: as pessoas falam do lugar onde
elas vivem. Quem só conhece desistência, só consegue enxergar fim.
Ele
mordeu o canudo, pensativo.
—
Às vezes eu sinto que tô sozinho demais nisso, sabe?
—
Provavelmente você tá. E tá tudo bem. As maiores conquistas da vida normalmente
nascem no silêncio, na dúvida e na solidão. Depois vem o barulho do sucesso.
Mas, no início... é só você e sua fé.
—
Nossa... isso foi bonito. Posso tatuar?
—
Pode. Mas espera eu patentear antes.
Ele
riu, aliviado. Às vezes, a gente só precisa ouvir que tá tudo bem se sentir
perdido.
—
Então você acha que eu devo continuar?
—
Eu acho que você deve fazer uma pergunta antes: você ainda quer?
—
Quero, claro.
—
Então continua. Simples assim.
—
E se, no final de tudo, eu tiver pego o caminho errado?
—
Pelo menos você vai dormir em paz, sabendo que tentou. Tem gente que dorme
todos os dias com a consciência de que desistiu cedo demais. Isso sim é pesado.
—
Tá... mas o mundo tá tão estranho. Tá todo mundo indo embora, parando no meio
do caminho, dizendo que não vale a pena...
—
É aí que você se destaca. Quem continua quando todos param vira história. Quem
vai embora junto com todo mundo... só vira estatística.
Ele
respirou fundo — um daqueles suspiros que limpam a alma. Ficou em silêncio por
um tempo. Depois sorriu.
—
Obrigado.
—
Por quê?
—
Por me lembrar que nem todo mundo precisa parar só porque a maioria já cansou.
—
Não precisa. E nem deve.
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Manter
o foco quando tudo ao redor vira bagunça é desafiador. É como ser o único de
guarda-chuva no meio da tempestade, enquanto os outros já se molharam e
decidiram que não vale mais a pena tentar se proteger. Mas sabe o que é louco?
Você pode ser exatamente a pessoa que mostra que ainda vale. Que ainda dá. Que
ainda pode.
Essa
conversa não é só um bate-papo entre dois amigos. É um espelho. Um lembrete de
que resistir enquanto o mundo grita “desista” é um ato de coragem que poucos
estão dispostos a ter. E é justamente por isso que ele tem tanto valor.
Então,
se você se sente meio solitário nesse caminho, saiba: você não está sozinho.
Pode ser que, por enquanto, você esteja caminhando por uma trilha vazia. Mas
continue. Porque, lá na frente, alguém vai se inspirar nos seus passos para
também não parar. E aí... o que era deserto vira caminho.
Gostou?
Manda para aquele amigo que tá quase desistindo. Talvez ele só esteja esperando
uma conversa dessas para lembrar que ainda dá tempo de conquistar aquele sonho
tão desejado.
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