domingo, 20 de abril de 2025

Não pise em notas para salvar moedas.

 
            — Tá, mas me diz aí, Léo… você ignoraria uma nota de cem reais no chão pra pegar umas moedinhas de um real? — perguntei, quebrando o silêncio da praça.

Ele me olhou como se eu tivesse acabado de falar que a Terra é plana.

— Claro que não, né? — respondeu, franzindo a testa. — Quem, em sã consciência, faria isso?

— É… então por que você faz isso com a sua vida?

Ele riu. Daquele jeito que a gente ri quando leva uma invertida que até dói, mas tenta bancar o firme.

— Ah, como assim? Agora me perdi.

— Ué, toda vez que você sacrifica algo grande que pode construir no futuro por causa de alguma besteira do agora, você está literalmente pisando numa nota de cem reais pra catar moedas. E ainda acha que está fazendo um baita negócio.

Ele parou. Coçou a nuca. Deu uma bicuda numa pedra. Sinal de que a ficha estava começando a cair.

— Tá falando de quê? Da faculdade? Do estágio? Da minha mãe querendo que eu vá para a entrevista amanhã?

— De tudo isso, e mais. Tipo quando você desiste de estudar porque quer ver mais um episódio de uma série. Ou quando prefere agradar o grupo só pra não parecer “diferentão”, mesmo que isso vá contra o que você acredita.

— Ahhh, mas às vezes é só uma série, pô.

— Hoje é só uma série. Amanhã é só uma saída. Depois, é só mais um mês sem fazer nada. Quando você percebe, empilhou moedas atrás de moedas… e perdeu a chance de segurar a nota que estava te esperando ali, quietinha.

Ele suspirou. Aquele suspiro de quem não quer admitir que entendeu.

— Tá, mas e se eu não tiver certeza se é uma nota mesmo? E se for só mais uma nota falsa, dessas do jogo Banco Imobiliário?

— Aí entra o jogo da coragem. Porque a verdade, Léo, é que a nota só vira nota de verdade quando você aposta nela. Você precisa acreditar nela antes de saber se vai dar certo. Porque, se for esperar certeza, irmão, você nunca vai sair do lugar.

Ele abaixou o boné, meio envergonhado.

— Cara… você ensaia esses discursos no espelho?

— Não, mas se quiser, eu passo a cobrar.

Ele riu. E era disso que eu gostava nas conversas com ele: ele ria até das verdades mais duras.

— Mas fala aí… e quando a moeda brilha mais? Tipo, brilha mesmo, parece ouro.

— Essa é a pegadinha. Porque nem tudo que brilha é ouro. Às vezes, é só uma moeda polida com ansiedade. Outras, é só vaidade querendo ser o centro do universo. Você precisa parar, respirar e se perguntar: “Essa escolha me aproxima ou me afasta do que eu quero de verdade?”

— Mas e se eu ainda não sei o que eu quero?

— Então essa é a primeira missão. Descobrir. E não vai ser em uma semana, nem vendo vídeos de influenciadores no TikTok. Vai ser vivendo, errando, testando. Mas, pra isso, você precisa parar de pegar moedas e começar a olhar para aquilo que realmente interessa. Para o que vale mesmo.

— Parece fácil na teoria, né?

— Nunca disse que era fácil. Só disse que era melhor.

— Tá. Mas e se todo mundo ao meu redor só quiser moedas?

— Então você vai ter que decidir se quer andar com colecionadores de moedas… ou com quem tem coragem de correr atrás de nota. Às vezes, para se valorizar, você vai precisar andar um tempo sozinho.

Ele ficou em silêncio. Dessa vez, não foi aquele silêncio desconfortável. Foi tipo quando o celular trava porque está processando alguma coisa muito pesada.

— E se eu já tiver pisado em várias notas?

— Bem-vindo ao clube. Eu mesmo já fiz isso. Mais de uma vez. Mas a vida não é sobre nunca errar. É sobre perceber o erro e começar a acertar.

— Tipo começar hoje?

— Tipo agora.

— E se eu tropeçar de novo?

— Então levanta. Só não transforma o tropeço em residência. Caiu? Levanta. Caiu de novo? Aprende a cair melhor.

Ele sorriu.

— Caraca… parece que você me deu um soco com palavras.

— Ainda bem que foi com palavras. Se fosse com a mão, você desmaiava.

Ele riu alto. E naquele riso, eu vi alívio.

— Valeu, mano. De verdade. Acho que eu precisava ouvir isso.

— E eu precisava falar. Porque falar essas coisas me ajuda a lembrar delas também. A gente fala pros outros, mas, no fundo, é pra gente mesmo, né?

— É… parece até terapia.

— Só que de graça e na praça.

E assim a conversa terminou. Mas ficou no ar aquele silêncio bom, de quando duas pessoas se entendem sem precisar falar mais nada. A gente levantou do banco, jogou as latinhas no lixo e foi embora, cada um pensando nas próprias notas e moedas da vida.

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Esse diálogo é tipo um lembrete para não deixar a vida passar no piloto automático. As “notas” são o que dão cor à tua história — aqueles momentos, sonhos e paixões que te fazem sentir que está valendo a pena. Elas não vêm com um manual, e às vezes a gente precisa cavar um pouco para encontrá-las.

Pode ser aquela vontade de aprender algo novo, de viajar, de criar, ou até de passar uma tarde com alguém que te faz rir até doer a barriga. O truque é não deixar as moedas — as contas, os prazos, as pressões — apagarem o brilho das notas. Porque, no fim, são elas que ficam.

Sabe aquele vazio que às vezes bate? É tipo um sinal de que tu estás precisando de mais notas na tua vida. Então, faz um experimento: tenta algo que te assusta um pouco, mas que te deixa curioso. Escreve uma lista do que te fazia feliz quando tu eras mais jovem. Ou simplesmente pare por cinco minutos e pergunta: “O que me faria sorrir hoje?”

As notas estão aí, esperando para serem descobertas. E não precisa ser nada grandioso — às vezes, é só pegar um café com um amigo ou rabiscar algo num caderno.

Se esse papo te tocou, compartilha com alguém que precisa de um empurrão. Joga no grupo da galera, posta com uma legenda que é a tua cara, ou marca aquele amigo que está precisando de um lembrete. A vida é muito curta para correr atrás só de moedas, né? Então, bora caçar as notas que fazem teu coração bater mais forte.

Diz aí: quais são as tuas notas?

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