—
Tá, mas me diz aí, Léo… você ignoraria uma nota de cem reais no chão pra pegar
umas moedinhas de um real? — perguntei, quebrando o silêncio da praça.
Ele
me olhou como se eu tivesse acabado de falar que a Terra é plana.
—
Claro que não, né? — respondeu, franzindo a testa. — Quem, em sã consciência,
faria isso?
—
É… então por que você faz isso com a sua vida?
Ele
riu. Daquele jeito que a gente ri quando leva uma invertida que até dói, mas
tenta bancar o firme.
— Ah, como assim? Agora me perdi.
—
Ué, toda vez que você sacrifica algo grande que pode construir no futuro por
causa de alguma besteira do agora, você está literalmente pisando numa nota de
cem reais pra catar moedas. E ainda acha que está fazendo um baita negócio.
Ele
parou. Coçou a nuca. Deu uma bicuda numa pedra. Sinal de que a ficha estava
começando a cair.
—
Tá falando de quê? Da faculdade? Do estágio? Da minha mãe querendo que eu vá
para a entrevista amanhã?
—
De tudo isso, e mais. Tipo quando você desiste de estudar porque quer ver mais
um episódio de uma série. Ou quando prefere agradar o grupo só pra não parecer
“diferentão”, mesmo que isso vá contra o que você acredita.
—
Ahhh, mas às vezes é só uma série, pô.
—
Hoje é só uma série. Amanhã é só uma saída. Depois, é só mais um mês sem fazer
nada. Quando você percebe, empilhou moedas atrás de moedas… e perdeu a chance
de segurar a nota que estava te esperando ali, quietinha.
Ele
suspirou. Aquele suspiro de quem não quer admitir que entendeu.
—
Tá, mas e se eu não tiver certeza se é uma nota mesmo? E se for só mais uma
nota falsa, dessas do jogo Banco Imobiliário?
—
Aí entra o jogo da coragem. Porque a verdade, Léo, é que a nota só vira nota de
verdade quando você aposta nela. Você precisa acreditar nela antes de saber se
vai dar certo. Porque, se for esperar certeza, irmão, você nunca vai sair do
lugar.
Ele
abaixou o boné, meio envergonhado.
—
Cara… você ensaia esses discursos no espelho?
—
Não, mas se quiser, eu passo a cobrar.
Ele
riu. E era disso que eu gostava nas conversas com ele: ele ria até das verdades
mais duras.
—
Mas fala aí… e quando a moeda brilha mais? Tipo, brilha mesmo, parece ouro.
—
Essa é a pegadinha. Porque nem tudo que brilha é ouro. Às vezes, é só uma moeda
polida com ansiedade. Outras, é só vaidade querendo ser o centro do universo.
Você precisa parar, respirar e se perguntar: “Essa escolha me aproxima ou me
afasta do que eu quero de verdade?”
—
Mas e se eu ainda não sei o que eu quero?
—
Então essa é a primeira missão. Descobrir. E não vai ser em uma semana, nem
vendo vídeos de influenciadores no TikTok. Vai ser vivendo, errando, testando.
Mas, pra isso, você precisa parar de pegar moedas e começar a olhar para aquilo que realmente interessa. Para o que vale mesmo.
—
Parece fácil na teoria, né?
—
Nunca disse que era fácil. Só disse que era melhor.
—
Tá. Mas e se todo mundo ao meu redor só quiser moedas?
—
Então você vai ter que decidir se quer andar com colecionadores de moedas… ou
com quem tem coragem de correr atrás de nota. Às vezes, para se valorizar, você
vai precisar andar um tempo sozinho.
Ele
ficou em silêncio. Dessa vez, não foi aquele silêncio desconfortável. Foi tipo
quando o celular trava porque está processando alguma coisa muito pesada.
—
E se eu já tiver pisado em várias notas?
—
Bem-vindo ao clube. Eu mesmo já fiz isso. Mais de uma vez. Mas a vida não é
sobre nunca errar. É sobre perceber o erro e começar a acertar.
—
Tipo começar hoje?
—
Tipo agora.
—
E se eu tropeçar de novo?
—
Então levanta. Só não transforma o tropeço em residência. Caiu? Levanta. Caiu
de novo? Aprende a cair melhor.
Ele
sorriu.
—
Caraca… parece que você me deu um soco com palavras.
—
Ainda bem que foi com palavras. Se fosse com a mão, você desmaiava.
Ele
riu alto. E naquele riso, eu vi alívio.
—
Valeu, mano. De verdade. Acho que eu precisava ouvir isso.
—
E eu precisava falar. Porque falar essas coisas me ajuda a lembrar delas
também. A gente fala pros outros, mas, no fundo, é pra gente mesmo, né?
—
É… parece até terapia.
—
Só que de graça e na praça.
E
assim a conversa terminou. Mas ficou no ar aquele silêncio bom, de quando duas
pessoas se entendem sem precisar falar mais nada. A gente levantou do banco,
jogou as latinhas no lixo e foi embora, cada um pensando nas próprias notas e
moedas da vida.
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Esse
diálogo é tipo um lembrete para não deixar a vida passar no piloto automático.
As “notas” são o que dão cor à tua história — aqueles momentos, sonhos e
paixões que te fazem sentir que está valendo a pena. Elas não vêm com um
manual, e às vezes a gente precisa cavar um pouco para encontrá-las.
Pode
ser aquela vontade de aprender algo novo, de viajar, de criar, ou até de passar
uma tarde com alguém que te faz rir até doer a barriga. O truque é não deixar
as moedas — as contas, os prazos, as pressões — apagarem o brilho das notas.
Porque, no fim, são elas que ficam.
Sabe
aquele vazio que às vezes bate? É tipo um sinal de que tu estás precisando de
mais notas na tua vida. Então, faz um experimento: tenta algo que te assusta um
pouco, mas que te deixa curioso. Escreve uma lista do que te fazia feliz quando
tu eras mais jovem. Ou simplesmente pare por cinco minutos e pergunta: “O que
me faria sorrir hoje?”
As
notas estão aí, esperando para serem descobertas. E não precisa ser nada
grandioso — às vezes, é só pegar um café com um amigo ou rabiscar algo num
caderno.
Se
esse papo te tocou, compartilha com alguém que precisa de um empurrão. Joga no
grupo da galera, posta com uma legenda que é a tua cara, ou marca aquele amigo
que está precisando de um lembrete. A vida é muito curta para correr atrás só de
moedas, né? Então, bora caçar as notas que fazem teu coração bater mais forte.
Diz
aí: quais são as tuas notas?
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