segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Não mostre o seu universo para quem não sabe nem mesmo observar as estrelas.

            Gabriel e João estavam sentados na varanda da casa de João, escutando música e tomando um capeta. Lá no céu, as estrelas brilhavam como se quisessem roubar a cena, e Gabriel parecia mais interessado nelas do que naquilo que João falava sobre sua namorada. 

Tá tudo certo aí? — João perguntou, largando o copo com a bebida e notando o olhar distante de Gabriel. 

Sei lá. — Gabriel suspirou. — Acho que tá bom, mas tem tanta coisa na minha cabeça que fica difícil focar. 

Fala aí, o que tá pegando? — João se ajeitou na cadeira, pronto para ouvir. 

Gabriel demorou alguns segundos antes de responder. 

— É sobre aquele projeto da feira de ciências que eu tô coordenando. Não sei mais o que fazer com o pessoal da minha turma. 

— Por quê? O projeto tava indo bem, não tava? 

Tava. Quer dizer, as ideias estão legais, mas eles… — Gabriel fez uma pausa, tentando não soar muito crítico. — Parece que ninguém tá levando a sério. Sempre que eu proponho algo, eles só fazem o básico ou nem tentam. É frustrante

João levantou uma sobrancelha. 

— E já falou isso pra eles? 

. — Gabriel balançou a cabeça. — Mas não adianta. Eles me olham como se eu fosse o único que se importa. 

— Então por que não troca de grupo? Trabalha com outra galera. 

Gabriel soltou uma risada amarga. 

— Não dá. Foi o professor que escolheu as turmas. Ele disse que era pra gente "aprender a trabalhar com pessoas diferentes". Só que eu tô aprendendo a perder a paciência, isso sim. 

João ficou em silêncio por um momento, observando o amigo. 

— Tá, então trocar de turma não rola. Mas e se você mudasse a forma de abordar isso? 

Como assim? — Gabriel olhou para João, confuso. 

— Pensa comigo. Talvez você esteja tentando compartilhar algo importante demais com quem não sabe valorizar. É como tentar mostrar as estrelas pra quem só olha pro chão. Às vezes, o problema não é o que você tá criando, mas pra quem você tá mostrando. 

Gabriel ficou pensativo. 

— E o que eu faço? Paro de tentar? 

Não, cara. Não é isso. — João explicou. — Mas você precisa ajustar as expectativas. Se eles não vão mudar, mude o jeito de lidar com eles. Foca no que você pode fazer sozinho ou no que depende menos deles. E, no final, quem realmente estiver interessado, vai te acompanhar. 

Isso parece meio solitário. — Gabriel murmurou, olhando para o céu. 

— Pode ser no começo, mas pensa bem. Esse projeto é seu, certo? É algo que você acredita. Não deixa a falta de comprometimento deles apagar o brilho da sua ideia. Se precisar, coloca mais esforço na parte que depende de você e deixa claro que eles vão ter que fazer o mínimo. 

Gabriel balançou a cabeça devagar. 

— Faz sentido. Mas ainda é difícil, sabe? Parece que eu tô carregando tudo nas costas. 

E talvez você esteja mesmo. — João deu de ombros. — Mas isso também é uma chance de mostrar o quanto você consegue brilhar sozinho, mesmo com gente que não tá ajudando. No futuro, vai ser o seu nome que vai se destacar, não o deles. 

Nunca tinha pensado nisso. — Gabriel finalmente sorriu, ainda que de leve. 

É porque você tá focado em mudar as estrelas do céu quando, na verdade, precisa só ajustar o seu telescópio. — João riu. 

Gabriel deu uma risada sincera, pela primeira vez naquela noite. 

— Cara, às vezes você parece mais filósofo do que um parceiro de aventuras. 

— E às vezes você parece esquecer que seu universo é incrível. Só precisa escolher bem quem merece conhecê-lo. 

O céu continuava estrelado, mas agora Gabriel olhava para ele com menos peso nos ombros. Afinal, nem todo mundo sabe admirar o infinito, mas isso não significa que ele deveria parar de brilhar.

Nem todo mundo que cruza o nosso caminho está preparado para enxergar o que carregamos por dentro. Algumas pessoas não têm a maturidade ou o interesse necessário para valorizar o que compartilhamos com elas. Isso não significa que o que temos é pequeno ou insignificante; apenas não é para todo mundo. Gabriel percebeu isso ao tentar conduzir um projeto com colegas que não compartilhavam sua dedicação.

A maior lição que ele tirou é que, em situações assim, não adianta insistir em mudar os outros. O foco deve ser em ajustar a forma como você lida com a situação. Gabriel aprendeu que, mesmo com dificuldades, é possível seguir em frente dando o seu melhor, independentemente do esforço (ou falta dele) dos outros.

            No fim, ele descobriu que seu trabalho e comprometimento refletiam quem ele realmente era. E mais importante, entendeu que o verdadeiro valor do que você cria está em quem você se torna durante o processo, e não necessariamente em quem te acompanha.

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