Gabriel e João estavam sentados na varanda da casa de João, escutando música e tomando um capeta. Lá no céu, as estrelas brilhavam como se quisessem roubar a cena, e Gabriel parecia mais interessado nelas do que naquilo que João falava sobre sua namorada.
—
Tá tudo certo aí? — João perguntou, largando o copo com a bebida e
notando o olhar distante de Gabriel.
—
Sei lá. — Gabriel suspirou. — Acho que tá bom, mas tem tanta coisa na
minha cabeça que fica difícil focar.
— Fala aí, o que tá pegando? — João se ajeitou na cadeira, pronto para ouvir.
Gabriel
demorou alguns segundos antes de responder.
— É sobre aquele projeto da feira de ciências que eu tô
coordenando. Não sei mais o que fazer com o pessoal da minha turma.
— Por quê? O projeto tava indo bem, não tava?
—
Tava. Quer dizer, as ideias estão legais, mas eles… — Gabriel fez uma
pausa, tentando não soar muito crítico. — Parece que ninguém tá levando a
sério. Sempre que eu proponho algo, eles só fazem o básico ou nem tentam. É
frustrante.
João
levantou uma sobrancelha.
— E já falou isso pra eles?
—
Já. — Gabriel balançou a cabeça. — Mas não adianta. Eles me olham
como se eu fosse o único que se importa.
— Então por que não troca de grupo? Trabalha com outra
galera.
Gabriel
soltou uma risada amarga.
— Não dá. Foi o professor que escolheu as turmas. Ele disse
que era pra gente "aprender a trabalhar com pessoas diferentes". Só
que eu tô aprendendo a perder a paciência, isso sim.
João
ficou em silêncio por um momento, observando o amigo.
— Tá, então trocar de turma não rola. Mas e se você mudasse
a forma de abordar isso?
—
Como assim? — Gabriel olhou para João, confuso.
— Pensa comigo. Talvez você esteja tentando compartilhar
algo importante demais com quem não sabe valorizar. É como tentar mostrar as
estrelas pra quem só olha pro chão. Às vezes, o problema não é o que você tá
criando, mas pra quem você tá mostrando.
Gabriel
ficou pensativo.
— E o que eu faço? Paro de tentar?
—
Não, cara. Não é isso. — João explicou. — Mas você precisa ajustar as
expectativas. Se eles não vão mudar, mude o jeito de lidar com eles. Foca no
que você pode fazer sozinho ou no que depende menos deles. E, no final, quem
realmente estiver interessado, vai te acompanhar.
—
Isso parece meio solitário. — Gabriel murmurou, olhando para o céu.
— Pode ser no começo, mas pensa bem. Esse projeto é seu,
certo? É algo que você acredita. Não deixa a falta de comprometimento deles
apagar o brilho da sua ideia. Se precisar, coloca mais esforço na parte que
depende de você e deixa claro que eles vão ter que fazer o mínimo.
Gabriel
balançou a cabeça devagar.
— Faz sentido. Mas ainda é difícil, sabe? Parece que eu tô
carregando tudo nas costas.
—
E talvez você esteja mesmo. — João deu de ombros. — Mas isso também é
uma chance de mostrar o quanto você consegue brilhar sozinho, mesmo com gente
que não tá ajudando. No futuro, vai ser o seu nome que vai se destacar, não o
deles.
—
Nunca tinha pensado nisso. — Gabriel finalmente sorriu, ainda que de
leve.
—
É porque você tá focado em mudar as estrelas do céu quando, na verdade,
precisa só ajustar o seu telescópio. — João riu.
Gabriel
deu uma risada sincera, pela primeira vez naquela noite.
— Cara, às vezes você parece mais filósofo do que um
parceiro de aventuras.
— E às vezes você parece esquecer que seu universo é
incrível. Só precisa escolher bem quem merece conhecê-lo.
O
céu continuava estrelado, mas agora Gabriel olhava para ele com menos peso nos
ombros. Afinal, nem todo mundo sabe admirar o infinito, mas isso não significa
que ele deveria parar de brilhar.
Nem
todo mundo que cruza o nosso caminho está preparado para enxergar o que
carregamos por dentro. Algumas pessoas não têm a maturidade ou o interesse
necessário para valorizar o que compartilhamos com elas. Isso não significa que
o que temos é pequeno ou insignificante; apenas não é para todo mundo. Gabriel
percebeu isso ao tentar conduzir um projeto com colegas que não compartilhavam
sua dedicação.
A
maior lição que ele tirou é que, em situações assim, não adianta insistir em
mudar os outros. O foco deve ser em ajustar a forma como você lida com a
situação. Gabriel aprendeu que, mesmo com dificuldades, é possível seguir em
frente dando o seu melhor, independentemente do esforço (ou falta dele) dos
outros.
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