domingo, 24 de novembro de 2024

Esperar dói, esquecer também dói, mas não saber se deve esperar ou esquecer, dói mais ainda.

 

O quarto de Clara estava tão bagunçado quanto ela se sentia por dentro. Pilhas de roupas jogadas na cadeira, um livro aberto no chão, e a cama mal arrumada. Ela estava sentada no meio daquele caos, abraçando um travesseiro como se fosse a única coisa que a sustentava. Ana, sentada no tapete encostada na cama, segurava uma caneca de chá que já tinha esfriado. 

Ele te bloqueou mesmo? — Ana perguntou, quebrando o silêncio que já durava alguns minutos. 

Clara olhou para o chão, evitando o olhar da amiga. 

— Bloqueou. Primeiro no WhatsApp, depois nas outras redes sociais... É como se ele quisesse me apagar da vida dele de uma vez. 

Ana franziu a testa, mexendo na borda da caneca. 

— Isso é duro, amiga. Mas o que você sente agora? Raiva? Tristeza? 

Clara soltou um riso amargo. 

— Tudo junto. Às vezes, fico com raiva dele por ser tão covarde. Em outros momentos, acho que é culpa minha, que eu deveria ter feito algo diferente. E, no fim, só sobra essa tristeza que parece que vai me engolir. 

Ana suspirou e colocou a caneca no chão. 

— Ok, mas vamos lá... você acha que ele realmente merece essa energia toda que você tá gastando? 

Clara levantou o olhar, mostrando um pouco de irritação. 

Não é questão de merecer, Ana! Não dá pra desligar o que eu sinto como se fosse um botão. Ele era importante pra mim, e agora eu nem sei o que fazer com tudo isso aqui dentro. — Ela apontou para o peito. 

Ana ficou em silêncio por um momento, escolhendo bem as palavras. 

— Tá, eu entendo. Não é fácil. Mas ficar nessa dúvida, esperando que algo mude, não tá te fazendo bem. 

E o que você quer que eu faça? — Clara rebateu, com a voz embargada. — Esqueça? Finja que nunca aconteceu? 

Não, não é isso... — Ana respondeu, tentando manter a calma. — Esquecer não é fingir que nada existiu. É aceitar que acabou e dar um espaço pra você mesma se curar. 

Clara deixou o travesseiro de lado e cruzou os braços. 

— Fácil falar, né? Você não tá sentindo o que eu sinto. Você já teve alguém que parecia ser tudo e, de repente, te jogou fora como se fosse nada? 

Ana engoliu seco, lembrando de seus próprios traumas. 

— Já. E foi horrível. Passei meses chorando, me culpando, revivendo cada detalhe. Mas sabe o que eu aprendi? Ficar presa nessa espera só me machucava mais. Era como se eu tivesse me acorrentado a algo que nem existia mais. 

Clara olhou para ela com os olhos cheios de lágrimas. 

— Então, o que você fez? 

Ana se mexeu no tapete, aproximando-se da cama. 

— Eu comecei devagar. Primeiro, parei de checar as redes sociais dele. Depois, tirei as fotos do meu celular, mas guardei num lugar onde eu não visse todo dia. Não foi de uma vez. Esquecer é um processo, não uma decisão de um segundo. 

Mas e se eu esperar? Se der mais um tempo? Talvez ele volte... — Clara sussurrou, como se nem ela acreditasse no que dizia. 

Ana balançou a cabeça. 

— Pode ser que volte. Ou pode ser que não. Mas, enquanto você espera, a sua vida tá parada. Ele tá seguindo em frente, e você? Tá aqui, sofrendo por alguém que nem sequer se importa o suficiente pra te dar uma explicação. 

Clara abaixou a cabeça, sentindo o peso das palavras da amiga. 

— Então, eu só devo desistir? 

Ana segurou a mão de Clara com firmeza. 

— Não é sobre desistir. É sobre se escolher. Sobre entender que você merece mais do que alguém que te trata assim. Não tô dizendo que vai ser fácil, mas você precisa começar a pensar no que te faz bem, não no que ele vai ou não fazer. 

O quarto ficou em silêncio, exceto pelo barulho leve da chuva começando lá fora. Clara passou as mãos pelo rosto, respirando fundo. 

— Eu não sei se consigo... 

Você consegue — Ana respondeu, firme. — E eu tô aqui pra te ajudar. Mas, por favor, não se abandone por causa de quem já decidiu te abandonar. 

Clara deixou escapar um pequeno sorriso entre as lágrimas. 

— Obrigada, Ana. 

Pra isso que servem as amigas. — Ana respondeu, puxando Clara para um abraço apertado. 

Naquele quarto bagunçado, no meio de tanto caos, Clara sentiu que talvez pudesse começar a organizar a própria vida — um passo de cada vez.

Esperar é acreditar que algo ainda pode acontecer, é dar espaço para a possibilidade, mesmo que ela pareça distante. É como manter uma vela acesa em um quarto escuro, esperando que a luz ilumine tudo novamente. Porém, esperar exige paciência e, muitas vezes, pode nos manter presos em um lugar que já não nos pertence. 

Esquecer, por outro lado, não é apagar o passado, mas aceitar que ele não pode ser mudado. É liberar espaço para novas experiências, deixar que as feridas cicatrizem e entender que o tempo não volta. Esquecer não é sinal de fraqueza; é um ato de coragem, de desapegar do que nos machuca para seguir em frente. 

A moral do diálogo entre Clara e Ana é clara: não se trata apenas de esperar ou esquecer, mas de se escolher. Às vezes, o mais importante não é decidir rápido, mas respeitar o próprio tempo, cuidar de si e lembrar que o amor-próprio sempre deve ser maior que qualquer dúvida ou dor.

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