— Arthur encostou as costas na mureta da praça, olhando pro chão como quem tenta achar uma resposta perdida ali. “Mano… já pensou se a gente fosse uma empresa? Tipo… você seria cliente de você mesmo?”
— Lívia soltou uma risadinha curta, meio surpresa. “Que viagem é essa, Arthur? Mas… fala aí. O que você quis dizer com isso?”
— Ele levantou o rosto devagar, olhando para o céu como quem procura coragem. “É que… sei lá. A gente cobra tanto dos outros. Cobra atenção, cuidado, palavra boa… Aí eu fiquei pensando: se eu fosse uma empresa, será que eu entregava tudo isso pra mim?”
— Lívia se ajeitou no banco, brincando com o cadarço do tênis. “Pior que faz sentido. Quando a gente fala de empresa, vem logo um monte de coisa na cabeça: missão, valores, atendimento, qualidade… Mas e quando a gente olha pra gente mesma? Será que bate?”
— Arthur sorriu torto. “Pois é. Tipo… eu mesmo vivo me tratando como um produto de segunda linha. Reclamo do ‘serviço’, mas continuo sem atualizar nada.”
— Ela ergueu a sobrancelha, brincando. “Atualizar, viu? Agora falou como uma empresa mesmo.”
— Ele riu. “Falei sem querer… Mas tu entendeu. Imagina: você, cliente. Você, empresa. Você se fidelizaria? Você ia recomendar seus serviços por aí?”
— Lívia suspirou, meio pensativa. “Vou ser sincera… acho que não. Tem dias que eu nem me dou bom-dia. Como é que eu ia querer ser cliente disso?”
— Arthur balançou a cabeça devagar. “Eu te entendo. Às vezes eu falho comigo também. Falo que vou cuidar de mim, melhorar minhas coisas… e fico empurrando com a barriga.”
— Ela sorriu de leve, num jeito carinhoso. “Mas olha… tem gente que se escolheria como cliente, sabia? Gente que se trata bem, que se respeita. Isso é bonito.”
— Arthur respirou fundo. “Se fosse esse o caso… parabéns pra quem consegue, né? Porque essa pessoa aí já entendeu o valor dela. Já entendeu o próprio ‘produto’.”
— Lívia concordou com a cabeça. “É tipo quando a gente admira alguém que realmente se cuida. Dá orgulho. Dá vontade de ser assim também.”
— Ele ajeitou a mochila no colo, num jeito tímido. “Mas e quando a resposta é não? O que a gente faz com o ‘cliente insatisfeito’ que mora dentro da gente?”
— Lívia olhou para longe, como quem relembra algo. “A gente ajusta o serviço, ué. Igual empresa faz. Troca o que tá quebrado, arruma o que tá frouxo, melhora o atendimento.”
— Arthur riu. “Melhorar o atendimento comigo mesmo… olha aí.”
— Ela cutucou o braço dele. “Ué, não é? Você vive sendo rígido com você. Qualquer erro seu vira um escândalo.”
— Ele deu um meio sorriso culpado. “É… sou um cliente exigente demais, talvez.”
— Lívia soltou uma risada leve. “E também daqueles que ligam reclamando por tudo.”
— Arthur levantou as mãos, se rendendo. “Tá bom, tá bom. Mas me diz uma coisa… como é que a gente começa esse processo aí? De virar um cliente satisfeito?”
— Lívia deu de ombros. “Primeiro, eu acho que tem que descobrir seus valores. Igual empresa faz. Tipo: o que é importante pra você de verdade? O que guia suas escolhas?”
— Ele ouviu com atenção, sério de verdade. “E depois disso?”
— Ela continuou, calma. “Depois vem a missão. Propósito, sabe? O que você quer fazer com a sua vida, Arthur? Pra onde você quer ir?”
— Ele mordeu o lábio inferior, pensativo. “Aí pega.”
— Lívia falou com um carinho firme. “Pega porque é sério. E porque ninguém ensina pra gente. Mas é importante.”
— Arthur concordou devagar. “Tá. E metas? Empresas têm metas. A gente também?”
— Ela abriu um sorriso leve. “Claro. Não precisa ser nada gigante. Mas precisa ser real. Precisa ter um jeito de medir. Precisa ter um prazo. Não adianta querer mudar e não ter direção.”
— Ele fechou os olhos por um instante. “E depois disso tudo? Eu planejo o quê?”
— Lívia falou como quem entrega um segredo. “Ah, aí você monta o plano de ação. Pequenos passos. Coisa que você consegue fazer. Não adianta botar uma lista gigante que você abandona no terceiro dia.”
— Arthur deu uma risada curtinha. “Acontece com frequência.”
— Ela completou: “E aí você executa. Mas não como um robô. Como alguém que tá tentando. Permite-se errar. Dá espaço pra melhorar. Aprende no caminho.”
— Ele balançou a cabeça de novo. “E avalia os resultados, né? Igual empresa.”
— Lívia levantou um dedo. “Exato. Olha o que funcionou. O que falhou. E ajusta. Sem drama.”
— Arthur respirou fundo, como quem engole um novo entendimento. “E aí continua esse processo… pra sempre?”
— Ela sorriu, mansa. “Pra sempre. Porque a gente nunca tá pronto de verdade. Mas dá pra ficar cada vez melhor.”
— Arthur apoiou o queixo na mão, olhando pra ela com um brilho novo no olhar. “Engraçado… nunca tinha pensado em mim como meu próprio cliente.”
— Lívia cruzou as pernas. “Pois comece. Porque você é seu maior patrimônio. E, sinceramente, se você não cuidar da sua ‘empresa’, ninguém cuida.”
— Ele respirou fundo, como quem finalmente entendeu. “Então a gente tem que ser a melhor empresa possível pra nós mesmos, né?”
— Ela sorriu grande. “Exatamente. E isso serve pra tudo na vida.”
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Cuidar de si mesmo é como cuidar de uma empresa da qual você é dono e cliente ao mesmo tempo. Quando você entende isso, passa a se tratar com mais respeito, mais atenção, mais verdade. Descobre que seus valores e sua missão importam — muito mais do que você imaginava.
Ser seu próprio melhor cliente é um processo contínuo. Não é sobre perfeição, mas sobre progresso. Todo ajuste, toda meta cumprida, todo tropeço superado vira parte da sua história de crescimento.
E no fim das contas, a grande moral é simples: você merece o melhor atendimento que existe. Você merece se ouvir, se tratar bem e se desenvolver. Seja a empresa que você sempre quis encontrar no mundo — porque você vai conviver com você até o último dia da sua vida.

Muito bom, uma empresa pessoal, mas saber administrar, vai surtir um bom resultado.
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