domingo, 23 de novembro de 2025

Se você fosse uma empresa, seria seu próprio cliente?


Arthur encostou as costas na mureta da praça, olhando pro chão como quem tenta achar uma resposta perdida ali. “Mano… já pensou se a gente fosse uma empresa? Tipo… você seria cliente de você mesmo?”

Lívia soltou uma risadinha curta, meio surpresa. “Que viagem é essa, Arthur? Mas… fala aí. O que você quis dizer com isso?”

Ele levantou o rosto devagar, olhando para o céu como quem procura coragem. “É que… sei lá. A gente cobra tanto dos outros. Cobra atenção, cuidado, palavra boa… Aí eu fiquei pensando: se eu fosse uma empresa, será que eu entregava tudo isso pra mim?”

Lívia se ajeitou no banco, brincando com o cadarço do tênis. “Pior que faz sentido. Quando a gente fala de empresa, vem logo um monte de coisa na cabeça: missão, valores, atendimento, qualidade… Mas e quando a gente olha pra gente mesma? Será que bate?”

Arthur sorriu torto. “Pois é. Tipo… eu mesmo vivo me tratando como um produto de segunda linha. Reclamo do ‘serviço’, mas continuo sem atualizar nada.”

Ela ergueu a sobrancelha, brincando. “Atualizar, viu? Agora falou como uma empresa mesmo.”

Ele riu. “Falei sem querer… Mas tu entendeu. Imagina: você, cliente. Você, empresa. Você se fidelizaria? Você ia recomendar seus serviços por aí?”

Lívia suspirou, meio pensativa. “Vou ser sincera… acho que não. Tem dias que eu nem me dou bom-dia. Como é que eu ia querer ser cliente disso?”

Arthur balançou a cabeça devagar. “Eu te entendo. Às vezes eu falho comigo também. Falo que vou cuidar de mim, melhorar minhas coisas… e fico empurrando com a barriga.”

Ela sorriu de leve, num jeito carinhoso. “Mas olha… tem gente que se escolheria como cliente, sabia? Gente que se trata bem, que se respeita. Isso é bonito.”

Arthur respirou fundo. “Se fosse esse o caso… parabéns pra quem consegue, né? Porque essa pessoa aí já entendeu o valor dela. Já entendeu o próprio ‘produto’.”

Lívia concordou com a cabeça. “É tipo quando a gente admira alguém que realmente se cuida. Dá orgulho. Dá vontade de ser assim também.”

Ele ajeitou a mochila no colo, num jeito tímido. “Mas e quando a resposta é não? O que a gente faz com o ‘cliente insatisfeito’ que mora dentro da gente?”

Lívia olhou para longe, como quem relembra algo. “A gente ajusta o serviço, ué. Igual empresa faz. Troca o que tá quebrado, arruma o que tá frouxo, melhora o atendimento.”

Arthur riu. “Melhorar o atendimento comigo mesmo… olha aí.”

Ela cutucou o braço dele. “Ué, não é? Você vive sendo rígido com você. Qualquer erro seu vira um escândalo.”

Ele deu um meio sorriso culpado. “É… sou um cliente exigente demais, talvez.”

Lívia soltou uma risada leve. “E também daqueles que ligam reclamando por tudo.”

Arthur levantou as mãos, se rendendo. “Tá bom, tá bom. Mas me diz uma coisa… como é que a gente começa esse processo aí? De virar um cliente satisfeito?”

Lívia deu de ombros. “Primeiro, eu acho que tem que descobrir seus valores. Igual empresa faz. Tipo: o que é importante pra você de verdade? O que guia suas escolhas?”

Ele ouviu com atenção, sério de verdade. “E depois disso?”

Ela continuou, calma. “Depois vem a missão. Propósito, sabe? O que você quer fazer com a sua vida, Arthur? Pra onde você quer ir?”

Ele mordeu o lábio inferior, pensativo. “Aí pega.”

Lívia falou com um carinho firme. “Pega porque é sério. E porque ninguém ensina pra gente. Mas é importante.”

Arthur concordou devagar. “Tá. E metas? Empresas têm metas. A gente também?”

Ela abriu um sorriso leve. “Claro. Não precisa ser nada gigante. Mas precisa ser real. Precisa ter um jeito de medir. Precisa ter um prazo. Não adianta querer mudar e não ter direção.”

Ele fechou os olhos por um instante. “E depois disso tudo? Eu planejo o quê?”

Lívia falou como quem entrega um segredo. “Ah, aí você monta o plano de ação. Pequenos passos. Coisa que você consegue fazer. Não adianta botar uma lista gigante que você abandona no terceiro dia.”

Arthur deu uma risada curtinha. “Acontece com frequência.”

Ela completou: “E aí você executa. Mas não como um robô. Como alguém que tá tentando. Permite-se errar. Dá espaço pra melhorar. Aprende no caminho.”

Ele balançou a cabeça de novo. “E avalia os resultados, né? Igual empresa.”

Lívia levantou um dedo. “Exato. Olha o que funcionou. O que falhou. E ajusta. Sem drama.”

Arthur respirou fundo, como quem engole um novo entendimento. “E aí continua esse processo… pra sempre?”

Ela sorriu, mansa. “Pra sempre. Porque a gente nunca tá pronto de verdade. Mas dá pra ficar cada vez melhor.”

Arthur apoiou o queixo na mão, olhando pra ela com um brilho novo no olhar. “Engraçado… nunca tinha pensado em mim como meu próprio cliente.”

Lívia cruzou as pernas. “Pois comece. Porque você é seu maior patrimônio. E, sinceramente, se você não cuidar da sua ‘empresa’, ninguém cuida.”

Ele respirou fundo, como quem finalmente entendeu. “Então a gente tem que ser a melhor empresa possível pra nós mesmos, né?”

Ela sorriu grande. “Exatamente. E isso serve pra tudo na vida.”

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Cuidar de si mesmo é como cuidar de uma empresa da qual você é dono e cliente ao mesmo tempo. Quando você entende isso, passa a se tratar com mais respeito, mais atenção, mais verdade. Descobre que seus valores e sua missão importam — muito mais do que você imaginava.

Ser seu próprio melhor cliente é um processo contínuo. Não é sobre perfeição, mas sobre progresso. Todo ajuste, toda meta cumprida, todo tropeço superado vira parte da sua história de crescimento.

E no fim das contas, a grande moral é simples: você merece o melhor atendimento que existe. Você merece se ouvir, se tratar bem e se desenvolver. Seja a empresa que você sempre quis encontrar no mundo — porque você vai conviver com você até o último dia da sua vida.

Um comentário:

  1. Muito bom, uma empresa pessoal, mas saber administrar, vai surtir um bom resultado.

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