Era só mais um dia na república universitária, um local que reunia vários jovens estudantes, vindos de diferentes partes do estado, todos em busca de realizar seus sonhos. Luiz e Miguel não eram diferentes. Dividiam o mesmo quarto, embora tivessem objetivos distintos. Luiz queria ser médico, enquanto Miguel sonhava em se tornar um advogado que orgulhasse seus pais, amigos e conhecidos na cidadezinha do interior.
Miguel havia saído cedo em busca de um estágio, algo que o ajudaria a custear sua permanência na capital, aliviando o peso financeiro sobre sua família. Um pouco antes do meio-dia, ele voltou e encontrou Luiz o esperando para almoçarem no restaurante da universidade.
— Cara, tô cansado... — Miguel se jogou no sofá do quarto da república, largando a mochila no chão.
— Que foi, Miguel? Chegou da entrevista e tá com essa cara esquisita? — perguntou Luiz, sem tirar os olhos do celular.
— Sei lá, mano... Fui naquela entrevista de estágio hoje. Sabe aquela empresa que todo mundo sonha em trabalhar?
— E aí? Deu bom? O que aconteceu?
— Então... Fiz todos os testes. Passei. Mas...
— Como assim “mas”? Era isso que você queria, não era?
— Na real... não. Tô me sentindo meio perdido. Tipo, a empresa é top, o salário é maneiro, mas...
— Desembucha logo, Miguel!
— É que, enquanto eu tava lá, vi um monte de gente com aquela cara de segunda-feira, sabe? Todo mundo correndo que nem formiga pra realizar o trabalho. Ou seja, o sonho do dono da empresa.
— E qual o problema? É assim mesmo, não é? Quando estamos trabalhando para alguém, é lógico que estamos ajudando a realizar os sonhos dela.
— Pois é, Luiz... Mas aí que tá. Lembra daquele projeto de aplicativo que eu tava desenvolvendo? Aquele que ajuda estudantes a se organizar financeiramente e a conquistar seu espaço?
— Aquele que você não para de falar 24 horas por dia? Claro que lembro! Você não deixa a gente esquecer. — Luiz deu risada.
— Então... Se eu aceitar esse estágio, vou ter que enterrar essa ideia. Não vai sobrar tempo nem energia pra desenvolver meu próprio negócio. Vou estar o dia inteiro no emprego e à noite na faculdade.
Luiz finalmente largou o celular e sentou-se reto no sofá.
— Pera aí... Você tá me dizendo que vai recusar o estágio dos sonhos por causa de uma ideia? Uma ideia que ainda nem saiu do papel e que nem tem certeza de que vai dar certo?
— Mano, não é só uma ideia. É O MEU sonho. Já pensou quantos estudantes eu vou poder ajudar com esse aplicativo? Você mesmo, não vive reclamando que não sabe onde colocar o dinheiro e que todo fim de mês fica que nem doido procurando alternativas pra pagar as contas?
— Mas e a grana? A estabilidade? Cara, todo mundo tá correndo atrás disso! Não é fácil arranjar um estágio hoje em dia.
— Sabe o que minha vó sempre dizia? “Se não trabalhar para realizar teus sonhos, vai acabar trabalhando para que outra pessoa realize os sonhos dela.”
— Profundo isso aí... Mas também meio assustador, não?
— Por quê?
— Porque é mais fácil seguir o caminho que todo mundo segue. Tipo, é mais seguro, né?
— Mais seguro pra quem, Luiz? Pro cara que tá lá em cima colhendo os frutos do trabalho dos outros? E os nossos sonhos, onde ficam?
Luiz coçou a cabeça, pensativo.
— Mas e se der errado? Você não realiza seus sonhos e ainda perde o estágio.
— E se der certo? Já pensou? Todo mundo começa do zero, mano. Até mesmo aquele cara lá da empresa começou de algum lugar. A empresa não caiu do céu no colo dele. Ele deve ter batalhado pra chegar onde chegou.
— Não é tão simples assim...
— Claro que não é! Mas também não é impossível. Olha só: tenho minhas economias, posso fazer uns freelances pra me manter, e o mais importante: tenho uma ideia que pode ajudar muita gente. Começando por mim.
— Você realmente acredita nisso, né?
— Com toda a força! E sabe por quê? Porque, se eu não acreditar nos meus sonhos, quem vai acreditar? Você é um que tá duvidando, apesar de termos começado o projeto juntos.
Luiz pegou novamente o celular, mas, dessa vez, pra abrir o bloco de notas.
— Não é bem assim. Eu acredito em você. É que me preocupo. Mas beleza, então vamos nos aprofundar mais sobre esse aplicativo aí. Quem sabe eu não continuo nessa loucura junto com você?
Miguel abriu um sorriso de orelha a orelha.
— Agora sim! Vamos trabalhar pelos nossos sonhos e não pelos de outras pessoas. Deixa eu te mostrar os protótipos que eu já fiz...
Esse diálogo nos faz refletir sobre uma escolha que muitos jovens enfrentam: seguir o caminho aparentemente seguro ou arriscar-se em busca dos próprios sonhos. Não existe resposta certa ou errada, mas existe a SUA resposta.
A mensagem central não é sobre abandonar oportunidades, mas sobre reconhecer que cada minuto dedicado exclusivamente aos sonhos de outros é um minuto a menos investido nos seus próprios. É sobre encontrar equilíbrio e, principalmente, coragem para dar os primeiros passos.
No fim, tudo se resume a uma escolha pessoal: você quer ser protagonista da sua história ou coadjuvante na história de outra pessoa? A decisão, como sempre, é sua. Mas, cuidado! Pense com a cabeça, não só com o coração. Procure sempre ter os pés no chão. Melhor adiar um projeto pessoal do que não estar devidamente preparado e alicerçado, jogando todo um sonho fora.
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