O
dia amanheceu lindo e, na casa do senhor Carlos, como em todos os domingos, o
café da manhã não tinha horário. Já passava das 10 horas da manhã quando o
senhor Carlos, seu filho Jefferson, de 16 anos, e Pedro, também com 16 anos e
amigo da família, sentaram-se na varanda para tomar o café.
Na
segunda-feira, Jefferson começaria seu primeiro emprego, o que o deixava
apreensivo e muito nervoso. O medo de enfrentar o novo era visível no semblante
do jovem. Aquele brincalhão, que fazia todos sorrirem, dava lugar a uma
seriedade estranha naquele dia. Após o primeiro gole de café, ele encontrou um
restinho de coragem dentro de si e puxou assunto com o pai.
—
Pai, tô muito nervoso com o dia de amanhã. Nem consegui dormir direito essa
noite — disse Jefferson, mexendo ansiosamente na xícara de café.
—
Calma, cara! Também fiquei assim no meu primeiro dia. É normal — respondeu
Pedro, que estava lá para passar o domingo com o melhor amigo.
— Normal? Tô quase surtando aqui! E se eu fizer tudo errado? E se não gostarem de mim? — Jefferson passou a mão pelos cabelos, claramente aflito.
Carlos,
pai de Jefferson, observava a cena com um sorriso compreensivo no rosto. Aos 50
anos, já tinha visto muitos jovens passarem por essa mesma situação. Agora
aposentado, no tempo em que trabalhava, era responsável por orientar os mais
jovens que chegavam à empresa.
—
Filho, sabe quantas pessoas passam por isso todos os dias? Todo mundo tem um
primeiro dia. Eu tive, Pedro teve, sua mãe teve...
—
É, mas vocês são diferentes. Vocês são... preparados — Jefferson respondeu,
brincando com o guardanapo sobre a mesa.
Pedro
riu e quase engasgou com o pão que comia.
—
Preparados? Jefferson, você tá de brincadeira, né? Lembra quando comecei há
dois meses? Eu tremia tanto que derrubei café no teclado do computador no
primeiro dia!
—
Sério isso? — Jefferson perguntou, finalmente esboçando um pequeno sorriso.
—
Pior que sim! E nem foi só isso. Chamei meu supervisor de "tio" sem
querer. Imagina a vergonha! Mas, no final, deu tudo certo, pois ele se mostrou
um cara legal, me apoiou e deu dicas importantes.
Carlos
riu, lembrando-se de seu próprio primeiro dia.
—
Sabem o que eu fiz no meu primeiro dia de trabalho? Fui trabalhar com a camisa
do avesso. Só percebi quando uma cliente apontou, três horas depois que
cheguei.
Os
três riram juntos, quebrando um pouco da tensão no ar.
—
Mas, pai, como você lidou com isso? Com o medo de fazer besteira? — Jefferson
perguntou, mais calmo.
—
Olha, filho, vou te contar um segredo que aprendi nesses anos todos: todo mundo
comete erros, principalmente no começo. O importante não é ser perfeito, é
estar disposto a aprender.
Pedro
concordou com a cabeça.
—
É verdade, Jefferson. Lembra quando começamos a andar de bike? Quantas vezes a
gente caiu?
—
Um monte — Jefferson respondeu, sorrindo ao lembrar.
—
E hoje? A gente anda sem nem pensar. Até sem as mãos. Com o trabalho é a mesma
coisa. Daqui a dois meses você vai olhar pra trás e rir dessas preocupações.
Carlos
serviu mais café para todos antes de continuar:
—
Sabe o que mais me ajudou no começo? Fazer perguntas. Muita gente tem medo de
parecer bobo perguntando, mas é justamente o contrário. Quem pergunta mostra
que está interessado em fazer certo.
—
Mas e se eu perguntar demais? — Jefferson questionou.
—
Melhor perguntar demais do que fazer errado, não é? — Pedro respondeu. — No meu
trabalho, sempre que tenho dúvida, pergunto. Meu supervisor até disse que
prefere explicar mil vezes do que ter que consertar um erro depois.
—
E outra coisa, filho: seja você mesmo. Não precisa fingir ser outra pessoa ou
um sabe-tudo. Eles te contrataram pelo que viram em você na entrevista.
Jefferson
pareceu refletir sobre isso por um momento.
—
Como você se sente hoje, Pedro? Depois de dois meses?
—
Cara, é incrível como a gente se adapta rápido. Nas primeiras semanas eu ficava
super tenso, achando que ia fazer besteira o tempo todo. Hoje já conheço a
galera, sei a rotina, até ajudo os outros quando posso.
—
E ainda tá aprendendo? — Jefferson perguntou.
—
Todo dia! E isso é o mais legal. Cada dia aprendo algo novo, conheço alguém
diferente. O trabalho acaba sendo muito mais que só... trabalhar, sabe?
Carlos
sorriu, orgulhoso da maturidade dos garotos.
—
E tem mais uma coisa importante: todo mundo já foi iniciante um dia. As pessoas
entendem isso. Ninguém espera que você chegue sabendo tudo.
—
É, mas e se eu fizer algo muito errado? — Jefferson ainda parecia preocupado.
—
Aí você assume o erro, aprende com ele e segue em frente — Pedro respondeu
prontamente. — Mês passado, salvei um arquivo errado e achei que tinha perdido
o trabalho de uma semana. Quase chorei! Mas minha colega me ajudou a recuperar
e me ensinou um jeito de evitar isso.
—
O importante é a honestidade, filho. Se errar, assume. Se não souber, pergunta.
Se precisar de ajuda, peça — Carlos completou.
Jefferson
respirou fundo, parecendo mais tranquilo.
—
Valeu, pai. Valeu, Pedro. Acho que precisava ouvir isso tudo.
—
E lembra: todo mundo começou um dia. Daqui a um tempo, vai ser você dando
conselho pra algum novato nervoso — Pedro brincou.
Carlos
levantou-se e deu um abraço no filho.
—
Vai dar tudo certo, filho. Só seja você mesmo e mostre vontade de aprender. O
resto vem naturalmente.
---------------------------------------------------------------
Esta
história retrata um momento universal na vida de todo jovem: o medo e a
ansiedade diante do primeiro emprego. Através do diálogo entre Jefferson, Pedro
e Carlos, vemos como o apoio e a compreensão podem transformar o medo em
coragem.
A
conversa nos ensina que erros são naturais e fazem parte do processo de
aprendizagem. Não é a ausência de erros que define nosso sucesso, mas nossa
disposição para aprender com eles e seguir em frente.
Por
fim, a mensagem mais importante é que todos já passaram por momentos de
insegurança e dúvida. O que faz a diferença é como escolhemos enfrentar esses
momentos: com medo paralisante ou com coragem para dar o primeiro passo, mesmo
que tremendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário