quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Cicatrizes são marcas de superação que só um verdadeiro guerreiro possui.

 
            Final de tarde, Léo acompanhava Clara, que havia levado sua irmã, Luiza, de apenas 8 anos, para brincar na praça.

— Ei, já reparou nessa cicatriz na minha mão? — perguntou Léo, esticando o braço pra mostrar uma linha meio tortuosa que cruzava a palma.

— Claro, como não? Parece que você brigou com a faca do pão e perdeu — respondeu Clara, rindo enquanto mexia no cabelo, sentada no balanço da praça.

— Quase isso! Foi numa queda de skate, uns dois meses atrás. Eu tava tentando um ollie e... bom, o chão ganhou — ele deu um sorriso torto, como se revivesse a cena.

— E tu ainda acha isso legal?

— Não é que eu ache legal. É que essa marca me lembra que eu caí, mas levantei,  tentei de novo, até conseguir. Sabe, tipo um troféu esquisito — Léo deu de ombros, olhando pro céu que começava a ficar laranja.

— Humm, nunca pensei assim. Pra mim, cicatriz é só... sei lá, uma coisa feia que a gente esconde — Clara falou, quase num sussurro, enquanto brincava com a pulseira no pulso.

— Pois é, eu também pensava assim. Até que um dia minha vó disse uma coisa que ficou na minha cabeça: “Cicatrizes são marcas de superação que só um verdadeiro guerreiro possui” — Léo repetiu, imitando a voz rouca da avó.

— Sério? Tua vó é tipo filósofa? — Clara riu, mas tinha um brilho de interesse nos olhos.

— Ela é mais tipo uma contadora de histórias. Mas essa frase me fez enxergar essas marcas de outro jeito. Não é só um machucado que ficou, é uma prova de que eu lutei — ele falou, batendo leve no peito.

— Tá, mas e as cicatrizes que não dá pra ver? Tipo, as de dentro? — Clara perguntou, agora mais séria, olhando pro chão.

— Essas são as mais pesadas, né? Não aparecem na foto, mas a gente sente o peso delas todo dia — Léo respondeu, coçando a nuca, pensativo.

— É. Às vezes, sinto que tô carregando um monte delas e ninguém vê — Clara confessou, abraçando os próprios joelhos.

— Eu te entendo. Já passei por umas barras que ninguém imagina. Mas sabe o que eu descobri? Essas cicatrizes invisíveis também são minhas medalhas — ele disse, com um tom firme, mas tranquilo.

— Medalhas? Como assim? — Clara virou o rosto pra ele, franzindo a testa.

— Tipo, cada vez que eu superei uma tristeza, uma raiva ou um medo, ficou uma marquinha na alma. E essas marcas mostram que eu não desisti — Léo falou, apontando pro coração.

— Tá começando a fazer sentido... Mas e quando parece que essas marcas só pesam? — ela perguntou, mordendo o lábio.

— Aí é que tá o pulo do gato. Elas pesam, sim, mas também te lembram que você aguentou o tranco. É tipo um lembrete de que você é mais forte do que pensa — ele respondeu, com um sorriso de canto.

— Forte, eu? Duvido. Tem dias que eu só quero ficar debaixo do cobertor — Clara deu uma risadinha debochada.

— E quem nunca? Mas olha só: você tá aqui, conversando, vivendo. Isso já é ser guerreira — Léo piscou, tentando animar ela.

— Tá, talvez eu seja um pouquinho guerreira. Mas e se eu não quiser mostrar essas cicatrizes pra todo mundo? — Clara perguntou, cruzando os braços.

— Não precisa. Elas são suas, não do mundo. O importante é você saber o que elas significam — ele disse, com uma calma que quase contagiava.

— Tipo um segredo entre mim e elas? — ela falou, quase rindo da ideia.

— Exatamente! Um pacto entre você e suas batalhas — Léo confirmou, batendo as mãos nas coxas como se tivesse resolvido um mistério.

— Sabe, eu nunca tinha pensado nas minhas marcas assim. Sempre achei que eram só defeitos — Clara admitiu, olhando pra ele com um meio sorriso.

— Defeitos? Que nada! São tatuagens da vida, só que de graça — ele brincou, e os dois caíram na gargalhada.

— Tatuagens da vida... Gostei disso. Mas e se eu ainda tiver medo de cair de novo? — ela perguntou, voltando a ficar séria.

— Normal. O medo vem junto, mas ele não manda em você. Cada tombo é só mais uma chance de ganhar outra cicatriz irada — Léo respondeu, com um entusiasmo que fazia os olhos brilharem.

— Então, quer dizer que eu sou tipo uma colecionadora de cicatrizes? — Clara riu, balançando a cabeça.

— Somos todos! A diferença é que os guerreiros de verdade não escondem as deles, mesmo que sejam só pra si mesmos — ele falou, apontando pra ela como se tivesse dado um checkmate.

— Tá bom, Léo, tu me convenceu. Vou começar a olhar pras minhas cicatrizes com outros olhos — Clara disse, endireitando a postura.

— Esse é o espírito! E olha, se precisar de alguém pra te lembrar disso, é só me chamar — ele ofereceu, com um sorriso amigo.

— Combinado. Mas agora me conta outra: qual foi a pior cicatriz que tu ganhou? — ela perguntou, curiosa.

— Ah, essa é longa... Foi numa briga com meu cachorro e um galho de árvore. Quer ouvir? — Léo riu, já começando a gesticular.

— Claro, conta tudo! — Clara se ajeitou no banco, pronta pra história.

— Beleza, então segura aí: eu tinha uns 14 anos, tava correndo no quintal, e o Thor, meu cachorro, resolveu que era uma boa ideia me derrubar. Tentei me segurar num galho da árvore, ele quebrou e me estatelei no chão...

— Tu caiu por causa do Thor? Que guerreiro, hein! — Clara zoou, mas tava adorando.

— Pois é, fui guerreiro de tomar um tombo épico. Mas levantei, e a cicatriz no joelho tá aí pra provar — Léo mostrou a perna, orgulhoso.

— Essas histórias são as melhores. Acho que vou começar a contar as minhas também — ela disse, animada.

— Faz isso! Cada cicatriz tem uma aventura por trás — ele incentivou, batendo palma.

— Sabe, Léo, conversar contigo tá me fazendo sentir mais leve — Clara confessou, sorrindo de verdade agora.

— Que bom, porque a gente não veio ao mundo pra carregar peso sozinho — ele respondeu, simples e sincero.

— Verdade. Acho que vou até escrever sobre minhas cicatrizes um dia — ela falou, sonhadora.

— Escreve mesmo! Quem sabe não vira um livro de uma guerreira? — Léo sugeriu, empolgado.

— Boa ideia. E tu vai ter que me ajudar a lembrar das histórias — Clara apontou pra ele, rindo.

— Fechado! Vamos ser os guardiões das cicatrizes um do outro — ele disse, estendendo a mão pra um toque.

— Guardiões das cicatrizes. Gostei disso — ela bateu na mão dele, selando o pacto.

— Então tá, agora somos oficialmente uma dupla de guerreiros — Léo declarou, levantando como se fosse anunciar pro mundo.

— Que venham mais cicatrizes, então! — Clara gritou, entrando na brincadeira.

— Que venham! Porque guerreiro que é guerreiro não foge da luta — ele respondeu, e os dois riram alto, enquanto o sol se punha atrás deles.

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E aí, quem tá lendo isso, o que achou da conversa do Léo e da Clara? A ideia toda gira em torno de transformar algo que a gente costuma ver como defeito — as cicatrizes, sejam elas na pele ou no coração — em símbolos de força. Não é sobre ignorar a dor ou fingir que tá tudo bem o tempo todo, mas sobre reconhecer que cada marca conta uma história de coragem, de quedas e, principalmente, de levantar de novo.

O que eu queria passar com esse diálogo é simples: você, que tá aí com 12, 13, 15, 17, 20 ou 25 anos, já é um guerreiro ou uma guerreira, mesmo que não perceba. Suas cicatrizes, aquelas que todo mundo vê e as que só você sente, são provas de que você enfrentou batalhas e tá aqui, vivo, respirando, pronto pra próxima aventura. Elas não te definem como fraco, mas como alguém que sobreviveu.

Então, da próxima vez que olhar pra uma marca sua — seja um arranhão antigo ou um peso que carrega na alma —, tenta enxergar ela como o Léo e a Clara aprenderam: uma tatuagem da vida, um pedaço da sua história de luta e vitória. Porque, no fim, ser jovem é isso: cair, ralar o joelho, rir depois e continuar andando. Você é mais forte do que imagina, e suas cicatrizes são o mapa dessa força.

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