segunda-feira, 3 de março de 2025

Quase sempre é muito cedo para ser tarde demais.

 
            A sala de aula estava agitada naquela manhã de quinta-feira. O sol entrava pelas janelas entreabertas, trazendo um calor leve que misturava o cheiro de giz com o perfume de alguém que exagerou na colônia. O professor Daniel, um cara de uns 40 anos com barba rala e óculos tortos, batia o apagador no quadro, tentando chamar a atenção dos alunos. Ele tinha aquele jeito descontraído que fazia a gente querer ouvir, mesmo quando o assunto parecia meio perdido.

— Beleza, pessoal, hoje eu quero falar de uma coisa diferente — ele começou, enquanto escrevia com giz no quadro em letras grandes: “Quase sempre é muito cedo para ser tarde demais”. — O que vocês acham disso?

Um silêncio meio preguiçoso tomou conta da sala. A maioria ainda parecia que recém estava acordando, mas Luana, que sempre sentava na frente com seus cadernos coloridos, levantou a mão rápido, como se tivesse esperado a vida inteira por essa pergunta.

— Tipo, quer dizer que a gente nunca deve desistir? — ela perguntou, franzindo a testa, como quem tenta montar um quebra-cabeça.

Daniel sorriu, apontando o giz pra ela. — Pode ser, Luana. Mas vamos cavar mais fundo. Alguém mais?

Pedro, lá do fundo, largado na cadeira com o boné virado pra trás, deu um suspiro alto antes de falar. — Eu acho que é tipo... sei lá, que a gente acha que perdeu o tempo, mas na real ainda dá pra correr atrás.

— Exatamente, Pedro! — Daniel respondeu, animado. — É fácil a gente olhar pra trás e pensar: “Poxa, já era, não dá mais”. Mas será que é verdade mesmo?

Mariana, que estava rabiscando estrelas no canto do caderno, levantou os olhos. — Às vezes, eu sinto isso. Tipo, eu queria ter começado a tocar violão uns anos atrás, mas agora penso que já tô velha pra aprender.

O professor deu uma risadinha, balançando a cabeça. — Velha, Mariana? Você tem o quê, 17 anos? Tá brincando, né?

A sala riu junto, e até Mariana deu um sorriso meio sem graça, coçando a nuca. — É, eu sei que parece bobeira, mas é como eu sinto.

— E tá tudo bem sentir isso — Daniel disse, andando entre as carteiras. — O cérebro da gente adora inventar essas histórias. Ele fala: “Ah, você não começou aos 10, então esquece”. Mas quem decide isso? Quem coloca um prazo na vida da gente?

Lucas, o quieto da turma, que quase nunca falava, levantou a voz de repente. — Mas e se for algo que realmente passou? Tipo, eu queria ter jogado futebol na escolinha quando era pequeno, mas agora já tenho 16 e não dá mais pra começar do zero.

Daniel parou, cruzando os braços. — Boa, Lucas. Vamos pensar nisso. O que é “começar do zero”? Você não pode ser o próximo craque do Brasil? Ou então só jogar por diversão, sem pressão? Você já pesquisou sobre quantos jogadores famosos começaram com tua idade ou mais? Vai te surpreender! 

Lucas deu de ombros, mas dava pra ver que ele estava matutando a ideia. A sala ficou num zum-zum baixo, todo mundo trocando olhares e cochichos.

— Eu acho que o professor tá dizendo que a gente inventa essas regras — disse Ana, mexendo no cabelo cacheado. — Tipo, eu sempre quis fazer teatro, mas minha mãe fala que é perda de tempo, que eu tinha que ter começado criança.

— E você acredita nisso? — Daniel perguntou, inclinando a cabeça.

Ana hesitou. — Não sei. Às vezes, sim. Mas aí eu vejo uns vídeos no TikTok de gente que começou do nada e tá arrasando.

— Pois é! — Daniel bateu palmas, animado. — A gente vive colocando cercas onde não tem. “Tarde demais pra aprender isso”, “tarde demais pra tentar aquilo”. Mas quem disse que tem uma linha de chegada?

Pedro riu alto. — Mano, se for assim, eu ainda posso virar astronauta. Minha mãe vive dizendo que eu sonho alto demais, que vivo no mundo da lua.

— E por que não, Pedro? — Daniel retrucou, rindo também. — Tá cedo pra ser tarde. Você tem 18 anos, cara. Tem um mundo inteiro pela frente.

Luana voltou à carga, com os olhos brilhando. — Mas e se a gente falhar? Tipo, eu quero escrever um livro, mas e se eu tentar e for um fiasco?

— E se for um sucesso? — Daniel jogou de volta. — Ou e se for só pra você, pra se sentir viva? Falhar não é o fim, Luana. É só um pedaço da estrada.

Mariana parou de rabiscar e entrou na conversa de novo. — Tá, mas como a gente sabe quando é cedo ou tarde? Eu fico confusa com isso.

— Boa pergunta — disse Daniel, sentando na beirada da mesa. — Eu acho que não é sobre saber. É sobre sentir. Se você ainda quer, se ainda te mexe por dentro, então não é tarde. O “tarde demais” só chega quando você desiste de verdade.

Lucas balançou a cabeça, pensativo. — Então é tipo... enquanto eu tiver vontade, ainda dá tempo?

— Exatamente, meu amigo — Daniel respondeu, apontando pra ele. — A vontade é o motor. Se ela tá ligada, você tá no jogo.

Ana riu, cruzando os braços. — Tá, mas e se eu tiver vontade de ser milionária aos 20 anos? Isso não é meio impossível?

Daniel deu uma gargalhada. — Impossível? Não sei. Difícil, talvez. Mas olha, mesmo que não role aos 20, você pode chegar lá aos 30, 40. O ponto é: não jogue a toalha antes de tentar.

Pedro levantou a mão, debochado. — Beleza, prof, mas e o senhor? Já desistiu de algo e se arrependeu?

A sala ficou quieta, todo mundo esperando. Daniel coçou a barba, rindo baixinho. — Boa, Pedro. Claro que sim. Eu queria ter aprendido a cozinhar melhor. Minha esposa vive zoando que eu só sei fritar ovo. Mas sabe de uma coisa? Semana passada eu fiz um bolo. Tá vendo? Nunca é tarde.

A turma caiu na risada, imaginando o professor todo atrapalhado na cozinha. Mariana bateu na carteira. — Tá, eu vou pegar o violão da minha prima esse fim de semana. Se o senhor conseguiu fazer bolo, eu consigo tocar pelo menos um acordezinho.

— Isso aí, Mariana! — Daniel comemorou. — É assim que começa. Um passo, uma nota, uma vontade.

Luana sorriu, anotando algo no caderno. — Então é tipo... a gente que escolhe quando é tarde demais?

— Bingo, Luana — Daniel disse, levantando os polegares. — O relógio da vida não é tão rígido quanto parece. Quase sempre é muito cedo pra ser tarde demais.

O sinal tocou, e a sala virou um caos de mochilas e conversas. Mas dava pra sentir que algo tinha mudado. Cada um saiu carregando um pedacinho daquela ideia, como uma sementinha que podia virar qualquer coisa.

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Agora, você que tá lendo isso, deixa eu te contar o que esse diálogo quis dizer. Não é só papo de professor tentando animar a turma. É sobre como a gente vive colocando prazos pra tudo: “Se eu não fizer isso até os 18, acabou”, “Se eu não for famoso aos 20, já era”. Mas a vida não funciona assim. Ela não tem um cronômetro cruel te esperando na esquina. O que importa é o que ainda tá vivo dentro de você, aquele fogo que não apagou.

Pensa comigo: quantas vezes você já falou “tarde demais” pra algo que, no fundo, ainda quer fazer? Pode ser aprender a andar de skate, escrever uma música ou até falar com alguém que você não vê há anos. O texto ali em cima mostra que o “tarde” é mais uma escolha do que um fato. Enquanto houver vontade, há tempo. E se o Daniel conseguiu fazer um bolo aos 40, você também pode arriscar algo novo, seja com 15, 25 ou qualquer idade.

Então, respira fundo e olha pra frente. Quase sempre é muito cedo pra ser tarde demais. O que você vai fazer com isso hoje? Você vai esperar o "momento perfeito" que talvez nunca chegue, ou vão criar o seu próprio momento? A escolha é sua, e o relógio tá do seu lado.

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