A
sala de aula estava agitada naquela manhã de quinta-feira. O sol entrava pelas
janelas entreabertas, trazendo um calor leve que misturava o cheiro de giz com
o perfume de alguém que exagerou na colônia. O professor Daniel, um cara de uns
40 anos com barba rala e óculos tortos, batia o apagador no quadro, tentando
chamar a atenção dos alunos. Ele tinha aquele jeito descontraído que fazia a
gente querer ouvir, mesmo quando o assunto parecia meio perdido.
—
Beleza, pessoal, hoje eu quero falar de uma coisa diferente — ele começou,
enquanto escrevia com giz no quadro em letras grandes: “Quase sempre é muito
cedo para ser tarde demais”. — O que vocês acham disso?
Um silêncio meio preguiçoso tomou conta da sala. A maioria ainda parecia que recém estava acordando, mas Luana, que sempre sentava na frente com seus cadernos coloridos, levantou a mão rápido, como se tivesse esperado a vida inteira por essa pergunta.
—
Tipo, quer dizer que a gente nunca deve desistir? — ela perguntou, franzindo a
testa, como quem tenta montar um quebra-cabeça.
Daniel
sorriu, apontando o giz pra ela. — Pode ser, Luana. Mas vamos cavar mais fundo.
Alguém mais?
Pedro,
lá do fundo, largado na cadeira com o boné virado pra trás, deu um suspiro alto
antes de falar. — Eu acho que é tipo... sei lá, que a gente acha que perdeu o
tempo, mas na real ainda dá pra correr atrás.
—
Exatamente, Pedro! — Daniel respondeu, animado. — É fácil a gente olhar pra
trás e pensar: “Poxa, já era, não dá mais”. Mas será que é verdade mesmo?
Mariana,
que estava rabiscando estrelas no canto do caderno, levantou os olhos. — Às
vezes, eu sinto isso. Tipo, eu queria ter começado a tocar violão uns anos
atrás, mas agora penso que já tô velha pra aprender.
O
professor deu uma risadinha, balançando a cabeça. — Velha, Mariana? Você tem o
quê, 17 anos? Tá brincando, né?
A
sala riu junto, e até Mariana deu um sorriso meio sem graça, coçando a nuca. —
É, eu sei que parece bobeira, mas é como eu sinto.
—
E tá tudo bem sentir isso — Daniel disse, andando entre as carteiras. — O
cérebro da gente adora inventar essas histórias. Ele fala: “Ah, você não
começou aos 10, então esquece”. Mas quem decide isso? Quem coloca um prazo na
vida da gente?
Lucas,
o quieto da turma, que quase nunca falava, levantou a voz de repente. — Mas e
se for algo que realmente passou? Tipo, eu queria ter jogado futebol na
escolinha quando era pequeno, mas agora já tenho 16 e não dá mais pra começar
do zero.
Daniel parou, cruzando os braços. — Boa, Lucas. Vamos pensar nisso. O que é “começar do zero”? Você não pode ser o próximo craque do Brasil? Ou então só jogar por diversão, sem pressão? Você já pesquisou sobre quantos jogadores famosos começaram com tua idade ou mais? Vai te surpreender!
Lucas
deu de ombros, mas dava pra ver que ele estava matutando a ideia. A sala ficou
num zum-zum baixo, todo mundo trocando olhares e cochichos.
—
Eu acho que o professor tá dizendo que a gente inventa essas regras — disse
Ana, mexendo no cabelo cacheado. — Tipo, eu sempre quis fazer teatro, mas minha
mãe fala que é perda de tempo, que eu tinha que ter começado criança.
—
E você acredita nisso? — Daniel perguntou, inclinando a cabeça.
Ana
hesitou. — Não sei. Às vezes, sim. Mas aí eu vejo uns vídeos no TikTok de gente
que começou do nada e tá arrasando.
—
Pois é! — Daniel bateu palmas, animado. — A gente vive colocando cercas onde
não tem. “Tarde demais pra aprender isso”, “tarde demais pra tentar aquilo”.
Mas quem disse que tem uma linha de chegada?
Pedro
riu alto. — Mano, se for assim, eu ainda posso virar astronauta. Minha mãe vive
dizendo que eu sonho alto demais, que vivo no mundo da lua.
—
E por que não, Pedro? — Daniel retrucou, rindo também. — Tá cedo pra ser tarde.
Você tem 18 anos, cara. Tem um mundo inteiro pela frente.
Luana
voltou à carga, com os olhos brilhando. — Mas e se a gente falhar? Tipo, eu
quero escrever um livro, mas e se eu tentar e for um fiasco?
—
E se for um sucesso? — Daniel jogou de volta. — Ou e se for só pra você, pra se
sentir viva? Falhar não é o fim, Luana. É só um pedaço da estrada.
Mariana
parou de rabiscar e entrou na conversa de novo. — Tá, mas como a gente sabe
quando é cedo ou tarde? Eu fico confusa com isso.
—
Boa pergunta — disse Daniel, sentando na beirada da mesa. — Eu acho que não é
sobre saber. É sobre sentir. Se você ainda quer, se ainda te mexe por dentro,
então não é tarde. O “tarde demais” só chega quando você desiste de verdade.
Lucas
balançou a cabeça, pensativo. — Então é tipo... enquanto eu tiver vontade,
ainda dá tempo?
—
Exatamente, meu amigo — Daniel respondeu, apontando pra ele. — A vontade é o
motor. Se ela tá ligada, você tá no jogo.
Ana
riu, cruzando os braços. — Tá, mas e se eu tiver vontade de ser milionária aos
20 anos? Isso não é meio impossível?
Daniel
deu uma gargalhada. — Impossível? Não sei. Difícil, talvez. Mas olha, mesmo que
não role aos 20, você pode chegar lá aos 30, 40. O ponto é: não jogue a toalha
antes de tentar.
Pedro
levantou a mão, debochado. — Beleza, prof, mas e o senhor? Já desistiu de algo
e se arrependeu?
A
sala ficou quieta, todo mundo esperando. Daniel coçou a barba, rindo baixinho.
— Boa, Pedro. Claro que sim. Eu queria ter aprendido a cozinhar melhor. Minha
esposa vive zoando que eu só sei fritar ovo. Mas sabe de uma coisa? Semana
passada eu fiz um bolo. Tá vendo? Nunca é tarde.
A
turma caiu na risada, imaginando o professor todo atrapalhado na cozinha.
Mariana bateu na carteira. — Tá, eu vou pegar o violão da minha prima esse fim
de semana. Se o senhor conseguiu fazer bolo, eu consigo tocar pelo menos um
acordezinho.
—
Isso aí, Mariana! — Daniel comemorou. — É assim que começa. Um passo, uma nota,
uma vontade.
Luana
sorriu, anotando algo no caderno. — Então é tipo... a gente que escolhe quando
é tarde demais?
—
Bingo, Luana — Daniel disse, levantando os polegares. — O relógio da vida não é
tão rígido quanto parece. Quase sempre é muito cedo pra ser tarde demais.
O
sinal tocou, e a sala virou um caos de mochilas e conversas. Mas dava pra
sentir que algo tinha mudado. Cada um saiu carregando um pedacinho daquela
ideia, como uma sementinha que podia virar qualquer coisa.
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Agora,
você que tá lendo isso, deixa eu te contar o que esse diálogo quis dizer. Não é
só papo de professor tentando animar a turma. É sobre como a gente vive
colocando prazos pra tudo: “Se eu não fizer isso até os 18, acabou”, “Se eu não
for famoso aos 20, já era”. Mas a vida não funciona assim. Ela não tem um
cronômetro cruel te esperando na esquina. O que importa é o que ainda tá vivo
dentro de você, aquele fogo que não apagou.
Pensa
comigo: quantas vezes você já falou “tarde demais” pra algo que, no fundo,
ainda quer fazer? Pode ser aprender a andar de skate, escrever uma música ou
até falar com alguém que você não vê há anos. O texto ali em cima mostra que o
“tarde” é mais uma escolha do que um fato. Enquanto houver vontade, há tempo. E
se o Daniel conseguiu fazer um bolo aos 40, você também pode arriscar algo novo, seja com 15, 25 ou qualquer idade.
Então,
respira fundo e olha pra frente. Quase sempre é muito cedo pra ser tarde
demais. O que você vai fazer com isso hoje? Você vai esperar o "momento
perfeito" que talvez nunca chegue, ou vão criar o seu próprio momento? A
escolha é sua, e o relógio tá do seu lado.
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