O
sol mal tinha rompido a neblina leve que cobria as montanhas quando Carlos,
Maria, Luiza e Beto atravessaram o portão de madeira escura do templo. O
silêncio ali não era vazio; era cheio de significados, como se o próprio tempo
tivesse aprendido a andar mais devagar entre aquelas paredes.
Eles
tinham viajado horas até aquele canto distante do mundo, empurrados por um
vazio que não sabiam bem como nomear. Todos queriam a mesma coisa, no fundo: um
pouco de direção, uma pausa, alguma luz que dissesse “vai por aqui”. E quem
melhor para isso do que o monge Raphael? Famoso por seus ensinamentos simples e
certeiros, ele já tinha ajudado muita gente a acordar para a vida.
—
Vocês chegaram cedo. Isso já é um bom sinal — disse o monge, abrindo um sorriso
calmo, enquanto os recebia com chá quente de ervas. — Mas me digam, o que
vieram buscar?
— A gente está meio... perdido, sabe? — começou Carlos, tentando ser direto. — A vida está cheia de barulho, cobrança, e parece que a gente esqueceu como viver de verdade.
—
Eu me sinto travada — Luiza completou, olhando para o chão. — Eu acordo sem
vontade, sem saber por onde começar.
—
E eu, às vezes, nem sei mais o que quero — disse Beto. — Parece que nada me
motiva.
Maria,
que vinha mais calada, respirou fundo antes de falar:
—
Eu só queria acordar todo dia com um propósito. Algo que me fizesse levantar da
cama com vontade.
O
monge os ouviu com atenção, sem interromper. Depois de um tempo de silêncio,
ele se levantou devagar e disse:
—
Venham comigo. Quero mostrar algo.
Guiou-os
até um pequeno jardim interno, onde se encontrava uma pedra grande no centro.
Nela, estavam gravadas algumas palavras em sânscrito.. Ele apontou e falou:
—
Esses são mantras. Pequenas frases, mas com grandes significados. Eles não são
mágicos, não resolvem a vida num estalo. Mas, quando repetidos com fé, com
intenção... eles mudam sua mente. E mudar a mente é o primeiro passo para mudar
a vida.
—
A gente pode aprender? — perguntou Maria, animada.
—
Sim. E mais que isso: vocês vão sentir o que eles fazem. Vamos começar?
Todos
assentiram, sentando-se em círculo diante da pedra, e o monge começou a
descrever cada um dos seis mantras ali gravados.
1.
“Eu sou dono do meu tempo, não escravo da pressa.”
—
Esse é um dos mais importantes hoje em dia — disse o monge. — As pessoas
acordam e já entram no modo automático, como se tivessem que correr sem nem
saber para onde. Esse mantra lembra que você tem o direito de respirar. De
escolher seu ritmo. A pressa dos outros não é o seu caminho.
Luiza
fechou os olhos e repetiu, em voz baixa. Era como se algo nela desacelerasse
naquele instante.
2.
“Hoje, eu escolho estar presente.”
—
A mente adora viver no ontem ou no amanhã. Mas a única chance de viver de
verdade é no agora. Esse mantra é um convite para voltar ao presente sempre que
se perder — explicou o monge.
Carlos
franziu a testa.
—
Mas como faz isso com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo?
—
Uma respiração de cada vez. Um pensamento de cada vez. Não precisa controlar
tudo, só precisa voltar. O mantra ajuda nisso.
3.
“Nada muda se eu não mudar.”
—
Esse aqui é um tapa carinhoso, mas necessário — disse o monge com um sorriso. —
A gente quer que as coisas melhorem, mas continua fazendo tudo igual. Esse
mantra é para lembrar: se eu quero uma vida nova, preciso me mover de um jeito
novo.
Beto
concordou com a cabeça, meio cabisbaixo.
—
Essa pegou, viu. Eu vivo esperando que algo aconteça, mas eu mesmo não saio do
lugar.
—
Exatamente — respondeu Raphael. — Repetir esse mantra de manhã ajuda a sair da
zona de conforto e fazer o que precisa ser feito, mesmo quando dá preguiça.
4.
“Meu valor não depende do que os outros pensam.”
—
Esse é para libertar — disse o monge. — Muita gente vive tentando agradar, se
encaixar, ser aceita. Mas o seu valor não está no aplauso dos outros. Está em
quem você é quando ninguém está olhando. Esse mantra é um lembrete de que você
é suficiente. Sem máscara, sem performance.
Maria
respirou fundo.
—
Acho que eu precisava ouvir isso faz tempo...
—
Então comece a dizer isso para si mesma todo dia, antes que o mundo tente
convencê-la do contrário — disse ele, com gentileza.
5.
“Eu sou capaz, mesmo com medo.”
—
Esse é o meu preferido — confessou o monge. — Tem gente que acha que coragem é
não sentir medo. Mas coragem é agir apesar dele. Esse mantra dá força para
levantar da cama mesmo nos dias em que tudo parece difícil.
—
Eu sempre espero o medo passar para fazer as coisas... — disse Luiza.
—
E o medo, espertinho que é, nunca vai embora completamente. Mas você pode
levá-lo junto, no banco de trás. Só não deixe que ele dirija sua vida.
Todos
riram da metáfora, e o clima foi ficando mais leve.
6.
“Hoje é um novo começo. E eu mereço o melhor.”
—
Esse mantra fecha o ciclo — disse Raphael. — Todo dia é uma chance de
recomeçar. Não importa o que deu errado ontem. Você merece uma vida boa. Mas
precisa acreditar nisso primeiro.
—
A gente pode repetir todos esses juntos? — perguntou Beto.
—
Claro — respondeu o monge. — Mas lembrem-se: mais do que decorar, vocês
precisam viver o que eles dizem. Senão, viram só frases bonitas.
E
ali, no meio do jardim, entre a brisa e os primeiros raios de sol, os quatro
repetiram os mantras juntos. Não como quem lê algo num papel, mas como quem
planta sementes novas na alma.
Depois
de alguns minutos em silêncio, sentindo o efeito das palavras reverberarem por
dentro, Maria olhou para o monge e perguntou, com a curiosidade de quem quer
realmente mudar:
—
Monge Raphael, e quantas vezes a gente deve repetir esses mantras por dia? Tem
um jeito certo de fazer?
O
monge abriu um sorriso sereno, como quem já ouviu aquela pergunta mil vezes,
mas entende que ela é sempre nova para quem está começando.
—
Ótima pergunta, Maria. E a resposta é simples: de preferência, três vezes por
dia. Uma logo ao acordar, para começar o dia com o pé e o pensamento certos.
Outra no meio do dia, quando a cabeça já está cheia de coisa e a gente precisa
se recentrar. E a última antes de dormir, para encerrar o dia com consciência e
gratidão.
—
E precisa ser em voz alta? — perguntou Luiza, ajeitando o cabelo atrás da
orelha.
—
Pode ser em voz alta, no espelho, olhando nos seus próprios olhos. Isso é
poderoso. Mas, se não der, pode ser mentalmente, num cantinho mais tranquilo. O
que importa é a intenção. Dizer com presença. Sentindo o que está dizendo.
Carlos
coçou a cabeça, ainda com dúvida.
—
E por quantos dias a gente tem que repetir? Até decorar?
—
Até transformar — respondeu o monge, com firmeza. — Façam isso todos os dias
por, no mínimo, 21 dias. É o tempo que o cérebro precisa para começar a criar
um novo hábito. Mas não parem aí. Quanto mais tempo vocês praticarem, mais os
mantras deixam de ser frases… e viram parte de quem vocês são.
Beto
arregalou os olhos.
—
Tipo musculação da mente?
—
Exatamente! — disse o monge, rindo. — Todo dia você vai lá e fortalece uma
ideia que te faz bem. Pode parecer bobo no começo, mas, com o tempo, sua mente
começa a trabalhar ao seu favor.
—
E se eu esquecer um dia? — perguntou Luiza.
—
Você volta no dia seguinte. A jornada não precisa ser perfeita. Só precisa
continuar. O sucesso, meus jovens, não nasce de grandes esforços uma vez ou
outra. Ele nasce do compromisso silencioso de fazer o simples, todos os dias.
Carlos
franziu a testa, como quem ainda estava digerindo tudo, e soltou:
—
Tá… então a gente repete três vezes ao dia, beleza. Mas… em cada vez dessas, a
gente fala o mantra só uma vez ou repete mais?
O
monge soltou uma risadinha baixa, como quem já esperava a pergunta.
—
Ótima observação, Carlos. O ideal é repetir cada mantra pelo menos três vezes
seguidas a cada momento do dia. Isso ajuda a mente a absorver melhor a ideia.
Na primeira, você entende o que está dizendo. Na segunda, você começa a sentir.
Na terceira, você se conecta de verdade.
—
Tipo pra entrar na cabeça mesmo, né? — disse Beto.
—
Exatamente. O cérebro precisa de repetição para fixar uma nova forma de pensar.
E mais que isso: repetir três vezes com intenção é como acender uma vela por
dentro. Não adianta só falar correndo, sem alma. Fale devagar. Respire junto.
Sinta as palavras.
Luiza
olhou para o chão, refletindo.
—
E se eu quiser repetir mais de três vezes?
O
monge sorriu com os olhos.
—
Melhor ainda. Três é o mínimo. Mas, se você quiser repetir cinco, dez… faça o
quanto sentir que precisa. Só não transforme em um ritual mecânico. O mantra
não é sobre quantidade, é sobre presença. Não adianta falar vinte vezes com a
cabeça longe. Melhor falar três com o coração inteiro.
Maria
fechou os olhos e respirou fundo, como quem estava decorando aquele ensinamento
no peito.
—
Então, o segredo é: três vezes por dia… cada mantra, três repetições seguidas,
com atenção e sentimento?
—
Isso mesmo. Não é fórmula mágica. Mas é um treino de alma. E, com o tempo… os
resultados aparecem no jeito que você olha a vida.
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Mantras
não mudam sua vida de um dia para o outro, mas mudam o seu olhar — e isso muda
tudo. Quando você começa o dia dizendo para si mesmo que é capaz, que tem
valor, que merece o melhor, seu cérebro começa a trabalhar diferente. Você anda
mais confiante, decide com mais clareza e se permite errar sem se destruir.
Três
vezes ao dia. Cada mantra, repetido três vezes. Sempre com intenção. Esse
pequeno ritual é como regar uma planta dentro de você. No começo, parece que
nada está acontecendo. Mas um dia, sem aviso, você acorda diferente. Mais
firme. Mais vivo.
E
aí, meu amigo, é você quem passa a inspirar os outros — sem nem precisar dizer
uma palavra.
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