segunda-feira, 28 de julho de 2025

Olhos que olham são comuns. Olhos que veem são raros.

 
            — Tá vendo aquilo ali? — perguntei, apontando pro muro rabiscado perto da escola.

— Tô, ué. Um monte de pichação e um cachorro mijando. O que tem?

— Então… é aí que tá. Você olhou. Mas você viu?

— Ah, lá vem tu com esses papos de velho sábio… Agora vai me dizer que aquele cachorro é uma metáfora da vida?

— Não. Mas podia ser. A questão é que muita gente passa pelos lugares, pelas pessoas, pelos dias... mas quase ninguém vê de verdade o que tá diante do próprio nariz.

— Tá, mas ver o quê? Um muro sujo?

— Não é só o muro. É o que ele carrega. Cada rabisco ali tem uma história. Aquele “Tati & Luan 4ever” provavelmente já acabou. A assinatura “ZK-22” pode ser de um moleque que só queria que alguém notasse que ele existe. E o cachorro... bem, ele só precisava fazer xixi mesmo.

— Tu tá viajando, mano...

— Talvez. Mas olha só: quantas vezes a gente cruza com alguém na escola e nem percebe que a pessoa tá triste só porque ela sorriu? A gente olha, mas não vê.

— Tipo quando a professora pergunta se tá tudo bem e você responde “tá sim”, mesmo querendo sumir?

— Exato. Ou quando seu melhor amigo tá mais quieto, e você só pensa que ele tá de mau humor... sem nem perguntar o que rolou.

— Eu já fiz isso. Com o Caio. Depois descobri que o pai dele tinha sido internado, e eu nem percebi nada.

— Viu? A gente vive num modo automático. Olha tudo, vê nada. Tá todo mundo tão preso na própria correria, nos próprios problemas, que passa batido pelas dores — e até pelas alegrias — dos outros.

— E como é que a gente aprende a ver?

— Primeiro, desacelerando. Prestando atenção. Se você olhar com calma, vê sinais em todo canto. Um olhar mais apagado, uma mudança de voz... até o jeito da pessoa andar diferente já diz muita coisa.

— É tipo… aprender a ler as entrelinhas da vida?

— Isso! As entrelinhas são onde mora a verdade. E isso serve pra tudo. Pra entender as pessoas, pra enxergar oportunidades, pra não cair em cilada.

— E se eu errar? Se eu achar que vi algo e for só nóia da minha cabeça?

— Acontece. Mas ver não é julgar. É perceber. É se importar o suficiente pra perguntar: “Ei, tá tudo bem mesmo?” E ouvir a resposta de verdade, não só por educação.

— Caraca, isso dá um nó na cabeça.

— Dá mesmo. Porque enxergar de verdade exige coragem. Exige sair do próprio mundinho. E, convenhamos, é mais fácil só olhar e seguir o jogo.

— Mas tu sempre foi assim? Sempre viu tudo?

— Que nada. Já deixei passar muita coisa. Já fui o amigo ausente, o irmão distraído, o aluno que achava que só ele tinha problema no mundo. Um dia, a vida me sacudiu. Me mostrou que, enquanto eu tava olhando só pro espelho, o mundo ao meu redor tava desmoronando em silêncio.

— Que pancada...

— Foi. Mas foi o que me acordou. Hoje eu tento ver. Ainda erro. Ainda passo batido às vezes. Mas tento. Porque aprendi que tem gente que só precisa ser vista. Não julgada, não consertada. Só enxergada como ser humano.

— Tipo quando você nota que alguém tá tremendo a perna de nervoso e segura a mão dela sem dizer nada?

— Isso. Pequenos gestos. Eles valem muito. Mas só acontecem quando você tá atento. Quando você vê.

— Cara… acho que eu entendi. E talvez eu precise prestar mais atenção. Até em mim mesmo, sabe?

— Sim. Ver a si mesmo também é raro. Tem gente que olha no espelho e só vê defeito. Mas não enxerga a força que tem por trás de tudo o que já aguentou calado. Ou então se olha no espelho, se acha bonito, bem arrumado, e não percebe que seu mundo precisa de atenção, que as coisas ao seu redor estão desmoronando.

— Me arrepiei agora, cê acredita?

— Acredito. Porque, às vezes, a gente precisa de uma conversa besta num banco da escola pra abrir os olhos de verdade.

— E tu acha que dá pra treinar esse “ver”?

— Com certeza. Começa prestando atenção nas pessoas ao seu redor. Escutando mais. Olhando nos olhos e não para os lados quando está conversando com alguém. . E também parando um pouco pra ver a si mesmo com mais gentileza.

— Tá. Mas e se ninguém fizer isso comigo?

— Então seja você o primeiro. Quem vê, ensina outros a ver também. É assim que as coisas mudam.

— Pior que tu tem razão. Meio chato admitir isso, mas tem.

— Relaxa, tem muita gente assim, que olha, mas não vê.

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A maioria das pessoas vive como quem assiste a um filme pela metade e acha que entendeu tudo. Elas olham, mas não veem. E isso faz toda a diferença. Quando você começa a enxergar de verdade, começa a se conectar mais com o mundo, com as pessoas e consigo mesmo. As relações ficam mais humanas, mais leves. A vida ganha um outro tom.

“Olhos que olham são comuns. Olhos que veem são raros.” Essa frase não é só bonita — ela é um alerta. Um convite para você sair do modo automático e prestar atenção na vida de verdade. Na sua, na dos outros, no que importa de fato. A diferença entre um dia comum e um dia inesquecível pode estar num detalhe que só quem vê é capaz de notar.

Se esse texto fez sentido para você, se alguma parte bateu aí dentro… compartilha. Pode ser que alguém esteja precisando ler exatamente isso agora. E, às vezes, só de “ver” um post com carinho, a gente muda o dia de alguém. Ou até a vida.

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