A
manhã estava preguiçosa. O sol entrava pelas frestas da cortina e iluminava o
tapete da sala. O cheiro de pão torrado e café recém-passado ainda vinha da
cozinha. Ana estava deitada no sofá, com as pernas jogadas para cima do
encosto, mexendo no cabelo. Lucas estava afundado na poltrona, com os fones no
pescoço e o celular na mão. Sofia, encostada no braço da poltrona, folheava uma
revista, mas parecia mais interessada em ouvir a conversa dos dois.
O
pai entrou na sala devagar, segurando uma caneca de café. Olhou para os três
com um sorriso meio cansado, mas cheio de afeto.
—
Então… hoje é Dia dos Pais, né? — disse ele, se ajeitando na poltrona ao lado
de Lucas.
Ana
girou o corpo e sentou. — É sim! A gente até queria saber… o que o senhor
gostaria de ganhar de presente?
Ele
deu um gole no café, apoiou a caneca no braço da poltrona e suspirou.
— Para falar a verdade? Só queria um abraço de vocês três… e ouvir um “te amo” de vez em quando.
Lucas
levantou as sobrancelhas. — Sério? Só isso? Achei que o senhor ia pedir um
negócio caro, tipo uma TV gigante ou um celular de última geração.
O
pai balançou a cabeça. — Não, filho. Não quero nada que se compre. Quero que
vocês não esperem precisar de mim ou sentir minha falta para reconhecer meu
valor.
Sofia
fechou a revista e apoiou o queixo na mão. — Mas pai… o senhor sabe que nem
sempre acerta, né?
Ele
riu, olhando para ela. — Claro que sei. Eu erro como qualquer pessoa. Mas, pelo
menos, tenho uns anos de estrada a mais que vocês. Já tropecei em coisas que
vocês ainda nem viram pela frente.
Ana
mordeu o lábio inferior. — Mas às vezes parece que o senhor tá distante.
O
pai respirou fundo e olhou para ela com calma. — Já pensaram que essa
“distância” é porque às vezes eu estou correndo atrás de uma vida melhor para
vocês? Pode até ser que eu pense errado, mas a intenção sempre foi essa: dar
mais do que eu tive.
Lucas
inclinou-se para frente. — E o senhor teve pouco?
Ele
mexeu no café, pensativo. — Não. Não tive pouco. Mas os tempos eram outros…
mais difíceis. Ainda assim, meus pais fizeram tudo o que podiam por mim. A avó
de vocês muitas vezes virava a noite costurando, porque tinha que entregar as
roupas pela manhã. O meu pai, trabalhava como um bicho, saia de manhã cedo,
quase de madrugada, e só voltava à noite. Nunca fomos ricos, mas tínhamos o
básico.
Sofia
cruzou os braços. — E o senhor dizia pra seus pais que os amava?
O
pai ficou em silêncio por alguns segundos. — Nem sempre… e me arrependo muito
disso. A gente acha que vai ter tempo para dizer, mas o tempo não espera.
Quando nos damos conta, restaram só lembranças.
Ana
o observou com atenção. — Então o senhor quer que a gente fale mais que o ama?
—
Sabe, Ana, ao ouvirmos isso, vindo do coração de nossos filhos, nos serve de
inspiração para continuar lutando por vocês. E, depois, é muito bom saber que
se é amado. Os filhos deveriam demonstrar esse amor com mais frequência. Não só
no Dia dos Paia, mas sempre, todos os dias.
Lucas
sorriu de lado. — Tipo dar um abraço no meio da semana, do nada?
O
pai abriu um sorriso. — Exatamente. Um abraço, um sorriso… isso vale mais que
qualquer presente caro. É um novo ânimo após um dia cansativo.
Sofia
deu um leve sorriso, mas logo perguntou: — E quando o senhor discorda da gente?
A gente acha chato.
Ele
soltou uma risada curta. — É chato mesmo. Mas imagina se eu nunca desse minha
opinião? Se só ficasse olhando vocês irem por um caminho torto e não dissesse
nada? Se eu falo ou pareço chato, às vezes, é porque me importo com vocês.
Ana
balançou a cabeça. — Mesmo quando a gente não segue o que o senhor fala?
—
Mesmo assim. Só de saber que vocês ouviram, já me sinto fazendo parte da vida
de vocês.
Lucas
cruzou os braços e riu. — Então o senhor sabe que não é perfeito, né?
—
Sei muito bem! — ele respondeu, sorrindo. — Ninguém é. Mas de uma coisa vocês
nunca podem duvidar: eu amo vocês. E isso independe de vocês terem ou não
seguido o meu conselho.
Sofia
levantou, deu alguns passos e parou na frente dele. — A gente sabe, pai.
Ele
abriu os braços. — Então vem cá. Hoje é Dia dos Pais, mas esse abraço vale pra
todos os dias.
Ana
foi a primeira a pular nos braços dele. — Eu topo.
Lucas
se levantou e foi também, largando o celular no sofá. — Bora fazer um “abraço
coletivo”!
O
pai fechou os olhos, sentindo os três o apertarem. Ficaram assim por alguns
segundos, só sentindo o calor e a presença um do outro.
Ele
respirou fundo. — Vocês não fazem ideia de como isso vale ouro. É o melhor
presente que um pai pode receber.
Sofia
sorriu. — Vale pra gente também.
Ana,
ainda abraçada, cochichou: — Feliz Dia dos Pais!
E
Lucas completou: — E obrigado por tudo… mesmo quando a gente não fala.
O
pai olhou para cada um, com os olhos brilhando. — Eu que agradeço por vocês
existirem e serem esses filhos maravilhosos.
E
naquele instante, nada mais importava: nem o café esfriando na mesa, nem o
barulho da rua lá fora. Só aquele abraço e a certeza de que o amor estava vivo
ali. Eles nem repararam, mas Dona Maria, esposa e mãe, estava observando tudo
parada na porta da sala, chorando de felicidade.
-----------
Amar
é mais do que aparecer com presentes em datas especiais. É estar presente nos
dias comuns, com gestos simples que dizem mais que qualquer discurso.
Pais
e filhos erram, se desencontram e, às vezes, se irritam. Mas o amor que existe
de verdade não se mede pela ausência de problemas, e sim pela disposição de
continuar ali, de mostrar que se importa, mesmo quando as opiniões não batem.
Não
espere o “momento certo” para falar o que sente. O momento é agora. Abrace,
diga, demonstre. Porque o tempo é rápido, mas o que você constrói com amor fica
para sempre.
Com
essa mensagem, o Táxi Teicheira deseja que todos os filhos saibam aproveitar
seus pais no dia de hoje. Feliz Dia dos Pais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário