—
Mano, me diz uma coisa — começou Leo, olhando pela janela do nosso quarto. — O
que você acha daquela frase clichê: “Ou você assume o controle da sua vida, ou
alguém assume por você”?
—
Clichê? Talvez. Mas, no fim das contas, é mais real do que parece.
Leo
bufou.
—
Ah, qual é? Eu acabei de fazer 16 anos. Ninguém tá controlando a minha vida.
—
Não é assim, de forma direta, sabe? — respondi, me ajeitando na cama para
encará-lo. — Não é como se um vilão de filme aparecesse com um controle remoto
e começasse a apertar os botões da sua vida. É mais sutil.
—
Sutil como?
— Como quando deixamos de fazer algo que queremos porque os outros acham que é “perda de tempo”. Ou quando escolhemos uma carreira só porque “dá dinheiro”, mesmo odiando a ideia de passar o resto da vida fazendo aquilo.
—
Mas isso não é controle — insistiu Leo. — É só a gente ouvindo conselhos.
—
É aí que você se engana — falei, sorrindo de lado. — Ouvir é uma coisa; seguir
cegamente, sem pensar, é outra. Precisamos filtrar. Decidir o que é bom pra
nós, o que faz sentido para a nossa vida.
—
Então você tá dizendo que não devemos ouvir ninguém?
—
Não! De jeito nenhum. Não é isso. Devemos ouvir todo mundo, mas ter a nossa própria voz.
Ser o nosso próprio capitão.
—
E o que acontece se não formos o nosso próprio capitão? — perguntou, com
curiosidade nos olhos.
—
Aí está o perigo. A gente acaba virando passageiro da aventura. E passageiro
não escolhe o destino: vai para onde o motorista decidir.
—
Mas e se o motorista for legal? — provocou, rindo.
—
E se não for? E se decidir ir para um lugar que você odeia? Ou para um lugar
que não tem nada a ver com o que você quer para a sua vida? E se for um
motorista que não conhece a cidade, não sabe usar o GPS e fica rodando sem
rumo? — ri, e ele me acompanhou.
—
Então, como a gente assume o controle?
—
Começando por pequenas coisas. Não deixando que o medo de decepcionar os outros
impeça você de tentar algo novo. Não deixando que a opinião alheia defina quem
você é. Decidindo o que vai comer no almoço sem se importar com a cara feia dos
seus pais quando você diz que não quer comer salada.
—
Ah, aí você exagerou — brincou, revirando os olhos.
—
É sério. É nessas pequenas escolhas que começamos a construir o nosso próprio
caminho. É como treinar um músculo: o músculo da decisão.
—
E se a gente errar?
—
A gente erra, aprende, levanta, sacode a poeira e tenta de novo. O importante
não é evitar o erro, mas não deixar que o medo de errar impeça a tentativa.
—
E se escolhermos um caminho e depois nos arrependermos?
—
Mudamos de caminho. Simples assim. Não somos árvores: podemos nos mover, mudar
de ideia e recomeçar. Não precisamos ficar presos a uma decisão tomada quando
éramos mais novos e menos experientes.
—
Então temos que ser meio rebeldes?
—
Não. Temos que ser nós mesmos. Autênticos. A nossa própria bússola. Precisamos
parar de nos preocupar tanto com o que os outros pensam e nos preocupar mais
com o que nós mesmos vamos pensar no final do dia.
—
Mas e os pais? E os professores? E os amigos?
—
A gente ouve e respeita. Aprende com eles. Mas, no fim, a decisão é nossa.
Somos nós que vamos lidar com as consequências, boas ou ruins. Então, que sejam
decisões verdadeiramente nossas — e não escolhas impostas.
—
E como saber se a escolha é realmente nossa?
—
Perguntando a nós mesmos. Nos questionando, nos desafiando, nos conhecendo. Sem
medo de dizer “não” quando a resposta é não. E sem medo de dizer “sim” quando
sentimos que é sim.
—
E se a gente não souber a resposta?
—
A gente busca, experimenta, tenta. Permite-se errar, ser imperfeito, ser
humano.
—
Então a vida é um grande experimento?
—
Sim! E nós somos o cientista e também a cobaia. Precisamos nos divertir com
isso, aprender com isso e crescer com isso.
—
E se não tivermos coragem de ser o cientista?
—
Aí viramos cobaia de outra pessoa: dos pais, professores, amigos, da sociedade.
E corremos o risco de viver uma vida que não é a nossa.
—
E isso é ruim?
—
É a pior coisa que pode acontecer: viver uma vida que não é sua. Olhar para
trás e pensar “E se eu tivesse sido mais corajoso?”. Arrepender-se de não ter
tentado, de não ter lutado, de não ter sido quem realmente era.
—
Então temos que ser… nós mesmos?
—
Exatamente. Precisamos ser autênticos, a nossa própria voz, a nossa própria
luz. Temos que ser o nosso próprio herói.
—
E se a gente não se sentir como um herói?
—
A gente finge até se tornar um. Age como um herói agiria. Se esforça, se
dedica. No fim, acabamos nos tornando um.
—
Então temos que ser o nosso próprio capitão, o nosso próprio motorista, o nosso
próprio cientista… e ainda o nosso próprio herói?
—
Sim. Tudo isso. Mas com um toque de humor, porque a vida é curta demais para
levar tudo tão a sério. Com um toque de imperfeição, porque é isso que nos
torna humanos. E com um toque de alegria, porque é isso que nos mantém vivos.
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A
conversa entre os dois jovens, embora comece de forma descontraída, aborda um
tema profundo: o protagonismo da própria vida. A frase “Ou você assume o
controle da sua vida, ou alguém assume por você” é desmistificada, mostrando
que assumir o controle não é questão de poder, mas de fazer escolhas
conscientes, alinhadas com quem realmente somos. É um chamado à autonomia, à
responsabilidade e à coragem de traçar o próprio destino, em vez de ceder à
inércia ou às expectativas externas.
A
moral é clara: é preciso ser o “capitão do próprio navio”. A vida traz
conselhos e influências, e é normal sentir-se perdido ou pressionado. Mas o
caminho para a realização está em filtrar essas vozes, ouvir a si mesmo e tomar
as rédeas. A busca pela autenticidade, embora desafiadora, é o que garante uma
trajetória com propósito e uma história verdadeiramente nossa.
No
fim, é um convite à ação e à celebração da jornada. A vida é um experimento, e
os erros fazem parte do aprendizado. O texto incentiva os jovens a abraçar a
imperfeição, aproveitar o processo e tornar-se, dia após dia, o seu próprio
herói. Porque o verdadeiro poder está na capacidade de recomeçar, mudar de rumo
e, sobretudo, viver uma vida que seja genuinamente sua.
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