quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Ou você assume o controle da sua vida, ou alguém assume por você.

 
            — Mano, me diz uma coisa — começou Leo, olhando pela janela do nosso quarto. — O que você acha daquela frase clichê: “Ou você assume o controle da sua vida, ou alguém assume por você”?

Eu, que estava jogando videogame, pausei o jogo e virei a cabeça.

— Clichê? Talvez. Mas, no fim das contas, é mais real do que parece.

Leo bufou.

— Ah, qual é? Eu acabei de fazer 16 anos. Ninguém tá controlando a minha vida.

— Não é assim, de forma direta, sabe? — respondi, me ajeitando na cama para encará-lo. — Não é como se um vilão de filme aparecesse com um controle remoto e começasse a apertar os botões da sua vida. É mais sutil.

— Sutil como?

— Como quando deixamos de fazer algo que queremos porque os outros acham que é “perda de tempo”. Ou quando escolhemos uma carreira só porque “dá dinheiro”, mesmo odiando a ideia de passar o resto da vida fazendo aquilo.

— Mas isso não é controle — insistiu Leo. — É só a gente ouvindo conselhos.

— É aí que você se engana — falei, sorrindo de lado. — Ouvir é uma coisa; seguir cegamente, sem pensar, é outra. Precisamos filtrar. Decidir o que é bom pra nós, o que faz sentido para a nossa vida.

— Então você tá dizendo que não devemos ouvir ninguém?

— Não! De jeito nenhum. Não é isso. Devemos ouvir todo mundo, mas ter a nossa própria voz. Ser o nosso próprio capitão.

— E o que acontece se não formos o nosso próprio capitão? — perguntou, com curiosidade nos olhos.

— Aí está o perigo. A gente acaba virando passageiro da aventura. E passageiro não escolhe o destino: vai para onde o motorista decidir.

— Mas e se o motorista for legal? — provocou, rindo.

— E se não for? E se decidir ir para um lugar que você odeia? Ou para um lugar que não tem nada a ver com o que você quer para a sua vida? E se for um motorista que não conhece a cidade, não sabe usar o GPS e fica rodando sem rumo? — ri, e ele me acompanhou.

— Então, como a gente assume o controle?

— Começando por pequenas coisas. Não deixando que o medo de decepcionar os outros impeça você de tentar algo novo. Não deixando que a opinião alheia defina quem você é. Decidindo o que vai comer no almoço sem se importar com a cara feia dos seus pais quando você diz que não quer comer salada.

— Ah, aí você exagerou — brincou, revirando os olhos.

— É sério. É nessas pequenas escolhas que começamos a construir o nosso próprio caminho. É como treinar um músculo: o músculo da decisão.

— E se a gente errar?

— A gente erra, aprende, levanta, sacode a poeira e tenta de novo. O importante não é evitar o erro, mas não deixar que o medo de errar impeça a tentativa.

— E se escolhermos um caminho e depois nos arrependermos?

— Mudamos de caminho. Simples assim. Não somos árvores: podemos nos mover, mudar de ideia e recomeçar. Não precisamos ficar presos a uma decisão tomada quando éramos mais novos e menos experientes.

— Então temos que ser meio rebeldes?

— Não. Temos que ser nós mesmos. Autênticos. A nossa própria bússola. Precisamos parar de nos preocupar tanto com o que os outros pensam e nos preocupar mais com o que nós mesmos vamos pensar no final do dia.

— Mas e os pais? E os professores? E os amigos?

— A gente ouve e respeita. Aprende com eles. Mas, no fim, a decisão é nossa. Somos nós que vamos lidar com as consequências, boas ou ruins. Então, que sejam decisões verdadeiramente nossas — e não escolhas impostas.

— E como saber se a escolha é realmente nossa?

— Perguntando a nós mesmos. Nos questionando, nos desafiando, nos conhecendo. Sem medo de dizer “não” quando a resposta é não. E sem medo de dizer “sim” quando sentimos que é sim.

— E se a gente não souber a resposta?

— A gente busca, experimenta, tenta. Permite-se errar, ser imperfeito, ser humano.

— Então a vida é um grande experimento?

— Sim! E nós somos o cientista e também a cobaia. Precisamos nos divertir com isso, aprender com isso e crescer com isso.

— E se não tivermos coragem de ser o cientista?

— Aí viramos cobaia de outra pessoa: dos pais, professores, amigos, da sociedade. E corremos o risco de viver uma vida que não é a nossa.

— E isso é ruim?

— É a pior coisa que pode acontecer: viver uma vida que não é sua. Olhar para trás e pensar “E se eu tivesse sido mais corajoso?”. Arrepender-se de não ter tentado, de não ter lutado, de não ter sido quem realmente era.

— Então temos que ser… nós mesmos?

— Exatamente. Precisamos ser autênticos, a nossa própria voz, a nossa própria luz. Temos que ser o nosso próprio herói.

— E se a gente não se sentir como um herói?

— A gente finge até se tornar um. Age como um herói agiria. Se esforça, se dedica. No fim, acabamos nos tornando um.

— Então temos que ser o nosso próprio capitão, o nosso próprio motorista, o nosso próprio cientista… e ainda o nosso próprio herói?

— Sim. Tudo isso. Mas com um toque de humor, porque a vida é curta demais para levar tudo tão a sério. Com um toque de imperfeição, porque é isso que nos torna humanos. E com um toque de alegria, porque é isso que nos mantém vivos.

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A conversa entre os dois jovens, embora comece de forma descontraída, aborda um tema profundo: o protagonismo da própria vida. A frase “Ou você assume o controle da sua vida, ou alguém assume por você” é desmistificada, mostrando que assumir o controle não é questão de poder, mas de fazer escolhas conscientes, alinhadas com quem realmente somos. É um chamado à autonomia, à responsabilidade e à coragem de traçar o próprio destino, em vez de ceder à inércia ou às expectativas externas.

A moral é clara: é preciso ser o “capitão do próprio navio”. A vida traz conselhos e influências, e é normal sentir-se perdido ou pressionado. Mas o caminho para a realização está em filtrar essas vozes, ouvir a si mesmo e tomar as rédeas. A busca pela autenticidade, embora desafiadora, é o que garante uma trajetória com propósito e uma história verdadeiramente nossa.

No fim, é um convite à ação e à celebração da jornada. A vida é um experimento, e os erros fazem parte do aprendizado. O texto incentiva os jovens a abraçar a imperfeição, aproveitar o processo e tornar-se, dia após dia, o seu próprio herói. Porque o verdadeiro poder está na capacidade de recomeçar, mudar de rumo e, sobretudo, viver uma vida que seja genuinamente sua.

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