quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Pergunte menos “por quê?” e mais “pra quê?”.

 

O Lucas estava largado no sofá da sala, encarando o teto como se tivesse alguma resposta escrita lá. Moleque de 16 anos, cheio das crises existenciais (principalmente depois de um dia daqueles na escola). Eu, tio João (50), estava de visita, tomando meu cafezinho forte e segurando o riso da cara de fim do mundo dele.

— Por que tudo dá errado pra mim, tio? — ele solta, com aquela voz de “tô desistindo de tudo”.

Por dentro eu ri, mas fiquei sério na pose.

— Lucas, eu já fui igualzinho você, cara. Só perguntava “por quê?”. Por que isso, por que aquilo, por que fulano foi grosso comigo… até que um dia, caiu a ficha: tem que perguntar menos “por quê?” e mais “pra quê?”.

Ele piscou, tipo: “hã?”.

— Pra quê? Como assim?

— Isso! — me ajeitei na cadeira. — O “por quê?” te deixa preso no passado, remoendo coisa que já foi. O “pra quê?” te joga pro futuro, pro propósito. É trocar a âncora por uma vela no barco, entendeu?

Ele ficou coçando a cabeça.

— Tá, mas me dá um exemplo, porque tá parecendo papo de influencer amador.

Eu dei uma risadinha.

— Tá bom. Lembra quando eu perdi o emprego? Eu ficava: por que eu? Por que agora? Fiquei cabisbaixo por meses.

— E aí? — ele já mais curioso.

— Aí um dia parei e pensei: pra quê isso aconteceu? Pra quê tô livre agora? Daí entendi que era pra eu abrir meu negócio, coisa que sempre quis, mas não tinha coragem.

— E rolou?

— Rolou! Hoje tenho minha lojinha de bikes e sou felizão vendendo. Se tivesse preso no “por quê?”, tava chorando até hoje.

— Tipo eu agora? — ele riu.

— Exatamente, tipo você. Mas não é só no trabalho, não. Pensa no amor: menina te dá fora e tu fica “por que ela não gosta de mim?”.

— Tá, e o que eu faço então? — ele cruzou os braços.

— Pergunta: pra quê? Pra quê tô solteiro? Talvez seja pra focar nos estudos ou esperar alguém que combine de verdade contigo.

Ele fez uma cara pensativa.

— Hm, mas e se for coisa séria, tipo doença?

— Aí pega mais, né. Eu tinha um amigo que descobriu um problema de saúde. Ficava só no “por que eu? Por que agora?”. Mas quando virou pra “pra quê?”, percebeu que era pra valorizar a vida, ficar mais perto da família, ajudar quem tava passando pelo mesmo.

Lucas ficou quieto.

— Caraca, pesado isso.

— Pois é. Outra: tirou nota baixa na escola. “Por que eu errei tanto?” só te faz se sentir burro. Agora, “pra quê tirei essa nota?”... talvez seja pra aprender a estudar direito, ou pedir ajuda na matéria.

— Tipo eu em Química ano passado.

— Exato! Eu mesmo quase larguei a faculdade por viver no “por quê?”. Quando mudei pro “pra quê?”, percebi que era pra ficar mais forte.

— Resiliente, né? Essa palavra de adulto chato. — ele riu.

— Então fala “durão”! Tipo super-herói que leva tombo, mas levanta. Sem capa, só na marra.

Ele riu mais.

— Ok, ok. Mas e tretas com amigos?

— Boa. “Por que ele me traiu?” só amarga. “Pra quê isso?” talvez seja pra aprender a escolher melhor as amizades ou até perdoar.

— Briguei com o Pedro semana passada e fiquei remoendo.

— Tá vendo? Pergunta “pra quê?”. Talvez seja pra vocês resolverem e ficarem mais próximos... ou pra você seguir em frente.

— E se for coisa boba, tipo perder o ônibus?

— Ah, aí é rir mesmo. “Por que sou distraído?” vira “pra quê perdi o busão?”. Vai ver foi pra achar uma sorveteria no caminho, ou trombar com aquela menina especial.

Lucas caiu na risada.

— Ou pra não pegar um acidente, né?

— Exato! Já perdi voo e quase enfartei de raiva. Aí no outro voo conheci o cara que virou meu maior fornecedor, uma parceria que só me fez crescer.

Ele: “Sério??”

— Sério! A vida é doida. E teus sonhos? Quer ser jogador de futebol, né?

— Quero muito!

— Então em vez de “por que não sou bom ainda?”, pergunta “pra quê preciso treinar mais?”. Pra realizar o sonho, inspirar moleque igual a você.

— Pô, isso motiva.

— É isso. Eu mesmo corri uma maratona aos 40. Não perguntava “por que dói?”, mas “pra quê tô correndo?”. Pra provar que idade não manda em mim.

Ele aplaudiu de zoeira.

— Inspirador, tio.

— Valeu. Mas bora, qual teu “por quê?” de hoje?

— Por que a escola é tão chata?

— Agora vira: pra quê ela existe na tua vida?

— Pra eu aprender, ser independente...

— Perfeito! Viu como muda a energia?

— Muda mesmo. Vou tentar amanhã.

— Isso aí. Menos passado, mais futuro. Menos culpa, mais propósito.

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No fim das contas, essa conversa mostra que às vezes o segredo é só trocar a pergunta. Ficar remoendo o “por quê?” não leva a nada. Agora, quando a gente manda um “pra quê?”, a vida abre outro caminho, parece até mágica.

É isso. Fica a dica: experimenta. E se rolar, me conta depois porque eu adoro essas histórias que viram motivação pros outros também.

E afinal, qual o seu “por quê”?

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