quarta-feira, 2 de julho de 2025

Um Encontro para Falar de Carinho e Superação


Numa tarde quente, Dona Clara, uma senhora de 60 anos com jeitão de avó, está sentada num banco da praça do bairro, conversando com um grupo de adolescentes. Tem o Lucas, de 15 anos, que não para de mexer no boné; a Ana, de 13, que vive com o celular na mão; e a Bia, de 14, que está sempre fazendo perguntas. Eles estão falando do incêndio que acabou com a casa da Dona Maria, uma vizinha que perdeu tudo: casa, roupas, móveis, até os documentos. A praça está calma, com passarinhos cantando e um vento leve balançando as árvores.

— Ai, gente, meu coração está partido pela Dona Maria. Perder tudo assim num incêndio... Não consigo nem imaginar – diz Dona Clara, ajeitando o lenço na cabeça, com a voz meio embargada.

— Sério, Dona Clara, eu vi a fumaça de longe, parecia filme de terror. Como a gente pode ajudar? – pergunta Lucas, tirando o boné e passando a mão no cabelo.

— É, tipo, eles devem tá precisando de tudo, né? Roupa, comida, sei lá... – completa Ana, largando o celular no colo e olhando pros outros.

— Pois é, meus queridos. Perder a casa é como perder um pedaço da gente. Imagina só: tudo que você construiu, as memórias, as coisinhas que têm história... vai tudo embora. A primeira coisa é mostrar que a gente está aqui para eles – diz Dona Clara, com aquele tom que faz todo mundo prestar atenção.

— Mas, tipo, o que a gente fala? Eu fico com medo de falar besteira e deixar eles mais tristes – diz Bia, mordendo o lábio, meio preocupada.

— Ó, Bia, não precisa falar nada chique. É só chegar com jeito e perguntar: “Você está bem?” ou “Quer contar o que está sentindo?”. O importante é ouvir de verdade. Se a Dona Maria quiser falar, escuta. Se ela ficar quieta, só fica do lado. Às vezes, isso já é um alívio danado – explica Dona Clara, com um sorrisinho.

— Tá, mas eu vi na internet que não pode falar coisas tipo “pelo menos você tá vivo”. Por quê? – pergunta Ana, franzindo a testa enquanto mexe no cabelo.

— Boa, Ana! É porque isso pode parecer que a gente está dizendo que a dor deles não vale nada. Claro que eles sabem que estão vivos, mas perder tudo dói pra caramba. Melhor dizer algo como: “Nossa, deve estar sendo difícil. Estou aqui para ajudar, tá?” – responde Dona Clara, gesticulando com as mãos.

— Entendi. Mas, Dona Clara, eles perderam tudo mesmo. Roupa, móveis, até os documentos! A gente pode fazer o quê? – pergunta Lucas, agora mais animado.

— Isso mesmo, Lucas, você está ligado! A gente pode perguntar o que eles estão precisando. Algo como: “Quer que eu junte umas roupas e calçados?” ou “Precisa de comida?”. Eu, por exemplo, tenho umas roupas guardadas que posso doar. E vocês, já pensaram em juntar os amigos pra ajudar? Mas olha só, não vamos piorar a situação. Se for para doar roupas, que sejam roupas em condições de uso, e não sujas ou rasgadas, como costumamos ver em doações por aí. – sugere Dona Clara, com um brilho nos olhos.

— Eu tenho um monte de camiseta que não uso mais! Será que serve? – diz Ana, quase pulando do banco.

— Serve sim, querida! Mas ó, pergunta antes para Dona Maria se ela quer. Ninguém gosta de se sentir pedindo esmola, sabe? É só oferecer com carinho – diz Dona Clara, apontando o dedo como quem dá uma dica de ouro.

— E os documentos? Meu pai perdeu o RG uma vez e foi um caos pra tirar outro. Imagina perder tudo! – diz Lucas, arregalando os olhos.

— Nossa, menino, é um problemão mesmo. Vocês podem se oferecer para ir com eles num cartório ou na prefeitura. Só de ter alguém do lado, já dá uma força. Essas burocracias são um saco, mas a gente pode ajudar a descobrir o que precisa – responde Dona Clara, rindo um pouco.

— Dona Clara, e a filha da Dona Maria? Ela tem a minha idade. Será que ela tá muito mal? – pergunta Bia, com a voz mais baixa, como se tivesse com pena.

— Com certeza, Bia. Crianças sentem tudo isso, mesmo que não falem. Podem ficar quietinhas, bravas ou até voltar a fazer coisas de criança menor, tipo xixi na cama. Tenta passar um tempo com ela, brincar, falar de coisas leves. Isso traz um pouquinho de alegria – diz Dona Clara, dando um tapinha carinhoso no ombro da Bia.

— Eu sei desenhar! Será que se eu fizer um desenho pra ela, ela gosta? – sugere Ana, com um sorriso enorme.

— Que ideia fofa, Ana! Claro que ela vai amar. Pequenas coisas assim aquecem o coração. Mas, ó, nunca fiquem perguntando do incêndio só por curiosidade, tá? Nada de “como o fogo começou?” ou essas coisas. Pode machucar – alerta Dona Clara, com a voz mais séria.

— Verdade, Dona Clara. A gente pode juntar mais gente do bairro pra ajudar? Tipo uma vaquinha? – pergunta Lucas, coçando o queixo.

— Isso é ótimo, menino! Podem organizar uma vaquinha, juntar doações de roupa, comida, essas coisas. Mas sempre perguntem para a família se eles concordam isso. E, pelo amor, nada de postar nas redes sem permissão. Eles já estão numa situação delicada – diz Dona Clara, com aquele olhar de quem já viu muita coisa.

— Nossa, eu vi um cara postando sobre uma enchente no TikTok, e parecia que ele queria likes. Que nojo – comenta Bia, fazendo careta.

— Exatamente, querida. Ajudar é para ser de coração, não para se mostrar. Respeitem a privacidade deles – reforça Dona Clara, balançando a cabeça.

— Dona Clara, mas e se passar um tempo? A gente continua ajudando? – pergunta Lucas, franzindo a testa.

— Claro, Lucas! Um incêndio não é algo que se resolve rapidinho. Pode levar meses, até anos. Então, de vez em quando, mandem um zap, perguntem como estão, se precisam de algo. Isso faz eles se sentirem menos sozinhos – explica Dona Clara, com um tom bem carinhoso.

— E se a Dona Maria parecer muito tristona, tipo, não querer falar com ninguém? – pergunta Ana, preocupada.

— Isso acontece, querida. Às vezes, a pessoa está tão machucada que se fecha. Não desistam dela, mas também não forcem a barra. Mostrem que vocês estão ali. E, se parecer que ela está muito mal, tipo, sem comer ou dormir, sugiram com jeitinho que ela converse com um psicólogo. É só dizer: “Acho que falar com alguém pode lhe dar uma força. Quer que eu procure um contato?” – orienta Dona Clara, com calma.

— Sabe, Dona Clara, parece mais simples do que eu pensava. É tipo fazer coisas pequenas, mas com carinho – diz Lucas, sorrindo de leve.

— Exatamente, meu bem! Não precisa ser nada gigantesco. Um abraço, uma comida quentinha, uma conversa... tudo isso já é muito. O negócio é mostrar que eles não estão sozinhos – responde Dona Clara, com um sorriso que ilumina a praça.

— Vou falar com minha mãe pra gente fazer um bolo de chocolate pra Dona Maria. Acho que ela gosta – diz Bia, toda animada.

— Isso aí, Bia! E, ó, cuidem de vocês também, tá? Ajudar é lindo, mas pode ser pesado. Se ficarem tristes, conversem com alguém. A gente só ajuda direitinho quando está de boa – diz Dona Clara, olhando pra cada um com carinho.

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Gente, o que levamos dessa situação é que ajudar quem perdeu tudo num incêndio vai além de doar coisas. É ouvir, estar por perto, mostrar que se importa. Um bolo, um desenho, um papo de boa... cada coisinha ajuda a trazer um pouco de luz para eles.

Se cada um fizer um pouquinho, tipo um time, a gente pode ajudar a Dona Maria e a família dela a se reerguer. É como construir uma ponte para eles saírem do fundo do poço.

Um incêndio pode queimar uma casa, mas o carinho e a união da gente constroem algo muito mais forte: a certeza de que ninguém está sozinho. 

Resolvi escrever este texto por estar vivenciando esse tipo de situação com pessoas da minha família, e também como alerta para casos semelhantes.  Infelizmente, eles perderam tudo num incêndio, no início da manhã do dia 30 de junho. Você nunca está preparado para enfrentar algo desse tipo.

Graças a Deus foram socorridos a tempo por vizinhos e estão bem, apesar de algumas poucas queimaduras. E o que menos importa agora é pensar nos motivos ou buscar culpados.

Eles já receberam muitas doações de roupas e colchões. É a solidariedade das pessoas falando mais alto e mais forte, exatamente como o texto acima nos mostra.

Agora vem a parte mais difícil, que é reconstruir a casa para que possam retomar a vida, com dignidade. Mas, tenho certeza, que muita ajuda ainda chegará. 

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