segunda-feira, 28 de outubro de 2024

A paz que você procura, muitas vezes, está no silêncio que você mesmo não faz.

 
            Era uma manhã nublada quando Ana, Felipe, Luísa e Gabriel chegaram ao templo budista. Todos estavam em silêncio, mas não porque queriam — a regra do lugar era clara: nada de falar alto, risos ou celulares. Para eles, que vinham de uma rotina agitada na cidade, aquilo parecia um desafio e tanto.

No começo, tudo foi bem. Eles andavam juntos pelo jardim do templo, observando as estátuas e o lago com peixes dourados, até que Felipe, que sempre tinha algo engraçado para dizer, murmurou:

— Será que eles aceitam ouvir um pouco de samba aqui? Tá tão quieto…

Ana deu uma cotovelada nele, rindo em silêncio.

Shhh! A gente veio pra se desconectar, lembra? — respondeu ela, tentando manter a seriedade.

Com um pouco de esforço, eles continuaram explorando, tentando respeitar o ambiente calmo do templo. Até que, ao lado de uma árvore frondosa, Gabriel avistou um monge sentado, em silêncio profundo, de olhos fechados. Curioso, ele puxou o grupo até mais perto.

O que será que ele tá pensando? — cochichou Luísa.

Ana, a mais observadora do grupo, deu de ombros.

— Talvez nada. Acho que ele só tá… em paz.

Eles ficaram ali, assistindo ao monge por alguns minutos. O silêncio ao redor parecia tomar conta deles aos poucos, e cada um começou a pensar na própria vida. Gabriel se lembrou das cobranças da faculdade, Luísa das inseguranças com o futuro, Felipe das pressões para dar certo e Ana das dificuldades em simplesmente ficar quieta.

Foi então que o monge abriu os olhos e, com um sorriso gentil, convidou o grupo a se aproximar. Ele falou baixinho, com uma voz tranquila.

— Vocês procuram paz, não é?

Os jovens se entreolharam, surpresos. Aquilo havia ficado óbvio assim?

Acho que sim… — respondeu Gabriel. — Quer dizer, às vezes é tanta coisa acontecendo que a gente nem sabe mais o que quer.

O monge assentiu e olhou para eles com um ar de compreensão.

Há algo curioso sobre a paz — disse ele. — Ela está sempre aqui, bem perto, mas nós mesmos a afastamos com nosso barulho, nossa pressa, nossas expectativas. Às vezes, o que precisamos não é de mais respostas, mas de menos ruído.

Eles ficaram em silêncio, refletindo sobre o que o monge dissera. Pela primeira vez, entenderam o verdadeiro peso de fazer uma pausa — e, curiosamente, sentiram-se bem, mesmo sem ter todas as respostas.

Felipe, que sempre tinha algo a dizer, abaixou o tom de voz.

— É estranho… sempre achei que paz fosse uma coisa que a gente precisava buscar fora, sabe? Tipo, em algum lugar distante.

O monge sorriu.

A paz que você procura, muitas vezes, está no silêncio que você mesmo não faz. Se você aprender a silenciar aqui — ele apontou para o peito de Felipe, onde o coração batia forte —, perceberá que a paz sempre esteve aí, esperando por você. Mas você precisa fazer silêncio para ouvi-la.

Depois disso, o grupo agradeceu as palavras do monge e se afastou, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Sem querer, haviam aprendido a lição que o monge tentava ensinar. Aquele silêncio, antes desconfortável, agora era acolhedor, um espaço onde cada um podia ouvir a si mesmo.

Quando deixaram o templo, nenhum deles sentiu vontade de falar. Afinal, pela primeira vez, o silêncio não parecia falta de algo. Parecia paz.

Os diálogos entre os jovens e o monge revelam uma troca de perspectivas que, à primeira vista, pode parecer simples, mas guarda uma profundidade transformadora. Ao questionarem o motivo do silêncio no templo e se surpreenderem com a presença pacífica do monge, eles externam uma inquietação comum: a busca pela paz fora de si mesmos.

Felipe, com seu tom descontraído, é o exemplo claro de quem está sempre precisando preencher o vazio com palavras, sons ou piadas, como se o silêncio fosse desconfortável ou até desnecessário. A fala do monge sobre a paz estar próxima, mas frequentemente afastada pelo barulho que criamos, abre um novo entendimento para eles: paz e silêncio não são ausências, mas sim presenças — de calma, de equilíbrio e de autoconhecimento.

A conclusão dessa experiência é que os jovens percebem que a paz é um estado interno, acessível quando a mente se aquieta. O monge não oferece respostas ou um caminho fixo, apenas indica que é no próprio silêncio que muitas respostas já estão esperando. 

A breve experiência no templo os leva a enxergar o valor de dar uma pausa na correria mental e emocional, de silenciar o mundo exterior para ouvir o que está dentro de cada um. Esse novo olhar que eles levam consigo não significa que o barulho e os desafios da vida irão sumir; mas eles agora sabem que, ao encontrar um espaço de calma dentro de si mesmos, podem encarar a vida com mais leveza e clareza.

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