Era
uma manhã nublada quando Ana, Felipe, Luísa e Gabriel chegaram ao templo
budista. Todos estavam em silêncio, mas não porque queriam — a regra do lugar
era clara: nada de falar alto, risos ou celulares. Para eles, que vinham de uma
rotina agitada na cidade, aquilo parecia um desafio e tanto.
No
começo, tudo foi bem. Eles andavam juntos pelo jardim do templo, observando as
estátuas e o lago com peixes dourados, até que Felipe, que sempre tinha algo
engraçado para dizer, murmurou:
— Será que eles aceitam ouvir um pouco de samba aqui? Tá tão quieto…
Ana
deu uma cotovelada nele, rindo em silêncio.
—
Shhh! A gente veio pra se desconectar, lembra? — respondeu ela, tentando
manter a seriedade.
Com
um pouco de esforço, eles continuaram explorando, tentando respeitar o ambiente
calmo do templo. Até que, ao lado de uma árvore frondosa, Gabriel avistou um
monge sentado, em silêncio profundo, de olhos fechados. Curioso, ele puxou o
grupo até mais perto.
—
O que será que ele tá pensando? — cochichou Luísa.
Ana,
a mais observadora do grupo, deu de ombros.
— Talvez nada. Acho que ele só tá… em paz.
Eles
ficaram ali, assistindo ao monge por alguns minutos. O silêncio ao redor
parecia tomar conta deles aos poucos, e cada um começou a pensar na própria
vida. Gabriel se lembrou das cobranças da faculdade, Luísa das inseguranças com
o futuro, Felipe das pressões para dar certo e Ana das dificuldades em
simplesmente ficar quieta.
Foi
então que o monge abriu os olhos e, com um sorriso gentil, convidou o grupo a
se aproximar. Ele falou baixinho, com uma voz tranquila.
— Vocês procuram paz, não é?
Os
jovens se entreolharam, surpresos. Aquilo havia ficado óbvio assim?
—
Acho que sim… — respondeu Gabriel. — Quer dizer, às vezes é tanta
coisa acontecendo que a gente nem sabe mais o que quer.
O
monge assentiu e olhou para eles com um ar de compreensão.
—
Há algo curioso sobre a paz — disse ele. — Ela está sempre aqui, bem
perto, mas nós mesmos a afastamos com nosso barulho, nossa pressa, nossas
expectativas. Às vezes, o que precisamos não é de mais respostas, mas de menos
ruído.
Eles
ficaram em silêncio, refletindo sobre o que o monge dissera. Pela primeira vez,
entenderam o verdadeiro peso de fazer uma pausa — e, curiosamente, sentiram-se
bem, mesmo sem ter todas as respostas.
Felipe,
que sempre tinha algo a dizer, abaixou o tom de voz.
— É estranho… sempre achei que paz fosse uma coisa que a
gente precisava buscar fora, sabe? Tipo, em algum lugar distante.
O
monge sorriu.
—
A paz que você procura, muitas vezes, está no silêncio que você mesmo não
faz. Se você aprender a silenciar aqui — ele apontou para o peito de
Felipe, onde o coração batia forte —, perceberá que a paz sempre esteve aí,
esperando por você. Mas você precisa fazer silêncio para ouvi-la.
Depois
disso, o grupo agradeceu as palavras do monge e se afastou, cada um perdido em
seus próprios pensamentos. Sem querer, haviam aprendido a lição que o monge
tentava ensinar. Aquele silêncio, antes desconfortável, agora era acolhedor, um
espaço onde cada um podia ouvir a si mesmo.
Quando
deixaram o templo, nenhum deles sentiu vontade de falar. Afinal, pela primeira
vez, o silêncio não parecia falta de algo. Parecia paz.
Os
diálogos entre os jovens e o monge revelam uma troca de perspectivas que, à
primeira vista, pode parecer simples, mas guarda uma profundidade
transformadora. Ao questionarem o motivo do silêncio no templo e se
surpreenderem com a presença pacífica do monge, eles externam uma inquietação
comum: a busca pela paz fora de si mesmos.
Felipe,
com seu tom descontraído, é o exemplo claro de quem está sempre precisando
preencher o vazio com palavras, sons ou piadas, como se o silêncio fosse
desconfortável ou até desnecessário. A fala do monge sobre a paz estar próxima,
mas frequentemente afastada pelo barulho que criamos, abre um novo entendimento
para eles: paz e silêncio não são ausências, mas sim presenças — de calma, de
equilíbrio e de autoconhecimento.
A conclusão dessa experiência é que os jovens percebem que a paz é um estado interno, acessível quando a mente se aquieta. O monge não oferece respostas ou um caminho fixo, apenas indica que é no próprio silêncio que muitas respostas já estão esperando.
A breve experiência no templo os leva a enxergar o valor de
dar uma pausa na correria mental e emocional, de silenciar o mundo exterior
para ouvir o que está dentro de cada um. Esse novo olhar que eles levam consigo
não significa que o barulho e os desafios da vida irão sumir; mas eles agora
sabem que, ao encontrar um espaço de calma dentro de si mesmos, podem encarar a
vida com mais leveza e clareza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário