sábado, 23 de novembro de 2024

Diferente dos filmes, na vida não podemos voltar na melhor parte.

 
            A sala estava cheia de vida. Crianças corriam para todo lado, disputando quem pegava mais docinhos da mesa, enquanto o aniversariante de 12 anos exibia orgulhoso o cesto abarrotado de presentes. Luiz, Paulo e Elisa, os primos de 20 anos, estavam no canto da sala, observando tudo com um olhar que misturava diversão e nostalgia.

Olha essa mesa. — Luiz apontou para os brigadeiros, beijinhos e coxinhas perfeitamente alinhados. — Parece aquelas festas que as nossas mães faziam quando a gente tinha essa idade.

Paulo riu, pegando um brigadeiro e o jogando na boca.

Aquelas festas eram épicas. Lembro do meu aniversário de 12 anos. — Ele fez uma pausa dramática, olhando para os primos. — Foi o ano em que ganhei meu primeiro videogame. Cara, eu fiquei tão fissurado que a mãe precisou esconder o controle na semana seguinte porque eu não fazia outra coisa.

Elisa riu, encostando-se na mesa.

— No meu aniversário de 12 anos, meu sonho era aqueles patins rosa com rodinhas brilhantes. Lembram? Quando eu abri o presente e vi os patins, quase chorei. Passei o ano inteiro andando pra todo lado com ele. A coitada da minha mãe ficava desesperada porque eu vivia ralando os joelhos.

Luiz olhou para ela com uma expressão de falsa seriedade.

— E eu achando que os patins era só um brinquedo. Na verdade, era uma máquina de ralar joelhos.

Ah, para, Luiz. — Elisa jogou uma bolinha de papel nele, rindo. — E você? Qual foi o seu grande momento?

Luiz abriu um sorriso que parecia puxar as lembranças com ele.

Meu aniversário de 12 anos foi meio... caótico. — Ele deu uma risada curta. — Choveu tanto que metade dos convidados não apareceu. Aliás, nem vocês dois vieram. Mas minha mãe compensou fazendo o maior bolo de chocolate que eu já vi. Eu e o João ficamos competindo quem comia mais pedaços. Acabou que a gente passou mal e perdeu o resto da festa, mas valeu a pena.

Os três riram juntos, deixando a memória aquecer o momento. Paulo olhou para o primo mais novo, que agora se gabava de um carrinho de controle remoto.

— Engraçado como essas coisas ficam gravadas na memória. Parece que foi ontem, mas já faz tanto tempo.

Elisa suspirou, com um leve sorriso.

— Às vezes dá uma vontade, né? De voltar pra aquele tempo, reviver tudo de novo. Não só as festas, mas o jeito como a gente vivia as coisas. Tudo era tão intenso, tão fácil de ser feliz.

Luiz cruzou os braços, concordando.

— A vida era mais leve. A gente não tinha preocupação, não tinha pressa. Só curtia o momento. Hoje em dia parece que tá tudo no automático.

É porque a gente cresceu. — Paulo deu de ombros, pensativo. — E crescer tem dessas. Não dá pra voltar no tempo, como dar pausa e retroceder alguns minutos de um filme para rever uma cena de que gostamos. Mas se pudesse, vocês voltariam pra onde?

Elisa nem precisou pensar muito.

— Eu voltaria pro dia em que todo mundo estava na casa da vó, comendo pão de queijo fresco e jogando conversa fora no quintal. Era tão simples e tão bom... Lembram dos balanços que nosso vô fez nas árvores do quintal? Na época, nem passava pela minha cabeça que aqueles momentos iam virar memória.

Eu voltaria pra quela festa de fim de ano, quando o tio Pedro fez churrasco e a gente ficou até tarde vendo estrelas no campo. — Paulo disse, com um sorriso nostálgico. — Eu juro que até hoje consigo sentir o cheiro do churrasco e ouvir as risadas.

— Eu voltaria no tempo das nossas peladas de futebol, no campinho que o seu Carlos fez pra gente naquele terreno baldio. Lembra, Paulo, das disputas com a rua de cima, valendo uma Coca-Cola dois litros e uma porção de pão de queijo? Quase dava morte.

Luiz e Paulo deram uma gargalhada tão alta, que Tia Maria, que estava pertinho deles repondo os docinhos e salgadinhos nas bandejas, levou um susto que quase derrubou tudo.

Com tudo calmo novamente, Luiz ficou em silêncio por um instante, depois olhou para os dois.

— Sabem o que é engraçado? A gente sempre acha que o melhor ficou no passado, mas talvez o melhor esteja por vir.

Elisa arqueou uma sobrancelha, curiosa.

— Como assim?

Tipo... não dá pra voltar no tempo, mas dá pra criar momentos que vão ser tão bons quanto, ou até melhores. — Ele apontou para a sala cheia de vida e cores. — Olha o Pedrinho, por exemplo. Essa é a melhor festa da vida dele. E, daqui a uns anos, vai ser a lembrança que ele vai querer voltar.

Elisa sorriu, entendendo o ponto.

— Faz sentido. Então, o segredo é aproveitar o agora, né?

Exato. — Luiz concordou, pegando um pedaço de bolo. — Afinal, a gente ainda tem muito capítulo pra escrever. Nós três, por exemplo, temos que nos encontrar mais vezes e não somente em momentos como estes. Antigamente fazíamos tudo juntos. Ao invés de ficarmos aqui relembrando o fizemos, que tal criarmos momentos novos?

Paulo levantou o copo de refrigerante como um brinde.

— Então, brindemos aos próximos capítulos. Que sejam tão bons que a gente nem queira voltar no tempo.

E, enquanto os três brindavam com refrigerante e mordidas em coxinhas, o barulho das crianças e o cheiro do bolo fresco pareciam lembrar que, no fim, cada momento tem sua magia. O truque é não deixar a vida passar sem perceber.

O diálogo entre Luiz, Paulo e Elisa explora a relação entre memória, nostalgia e a perspectiva sobre o tempo. A conversa, ambientada em uma festa infantil, serve como um gatilho para que os três revisitem momentos especiais de suas próprias infâncias, revelando como as experiências passadas permanecem vivas nas lembranças. A troca de histórias reflete a saudade de tempos mais simples e a percepção de que a infância tinha uma leveza difícil de replicar na vida adulta.

Ao longo da conversa, surge uma mudança de perspectiva: a ideia de que, embora não possamos voltar no tempo, temos o poder de criar novas memórias igualmente significativas. Essa reflexão, trazida por Luiz, incentiva a valorização do presente e a construção de momentos marcantes no futuro. O texto revela, de forma sutil, a importância de viver plenamente cada fase da vida.

A moral da história é clara: não podemos mudar o passado ou revivê-lo, mas podemos aprender com ele a aproveitar o presente e a planejar um futuro cheio de momentos inesquecíveis. O tempo não volta, mas cada dia é uma nova oportunidade para criar capítulos que valham a pena ser lembrados.

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