A
sala estava cheia de vida. Crianças corriam para todo lado, disputando quem
pegava mais docinhos da mesa, enquanto o aniversariante de 12 anos exibia
orgulhoso o cesto abarrotado de presentes. Luiz, Paulo e Elisa, os primos de 20
anos, estavam no canto da sala, observando tudo com um olhar que misturava
diversão e nostalgia.
— Olha essa mesa. — Luiz apontou para os brigadeiros, beijinhos e coxinhas perfeitamente alinhados. — Parece aquelas festas que as nossas mães faziam quando a gente tinha essa idade.
Paulo
riu, pegando um brigadeiro e o jogando na boca.
— Aquelas festas eram épicas. Lembro do meu aniversário de 12 anos. — Ele fez uma pausa dramática, olhando para os primos. — Foi o ano em que ganhei meu primeiro videogame. Cara, eu fiquei tão fissurado que a mãe precisou esconder o controle na semana seguinte porque eu não fazia outra coisa.
Elisa
riu, encostando-se na mesa.
— No meu aniversário de 12 anos, meu sonho era aqueles patins
rosa com rodinhas brilhantes. Lembram? Quando eu abri o presente e vi os patins,
quase chorei. Passei o ano inteiro andando pra todo lado com ele. A coitada da
minha mãe ficava desesperada porque eu vivia ralando os joelhos.
Luiz
olhou para ela com uma expressão de falsa seriedade.
— E eu achando que os patins era só um brinquedo. Na
verdade, era uma máquina de ralar joelhos.
—
Ah, para, Luiz. — Elisa jogou uma bolinha de papel nele, rindo. — E
você? Qual foi o seu grande momento?
Luiz
abriu um sorriso que parecia puxar as lembranças com ele.
—
Meu aniversário de 12 anos foi meio... caótico. — Ele deu uma risada curta. —
Choveu tanto que metade dos convidados não apareceu. Aliás, nem vocês dois vieram. Mas minha mãe compensou
fazendo o maior bolo de chocolate que eu já vi. Eu e o João ficamos competindo
quem comia mais pedaços. Acabou que a gente passou mal e perdeu o resto da
festa, mas valeu a pena.
Os
três riram juntos, deixando a memória aquecer o momento. Paulo olhou para o
primo mais novo, que agora se gabava de um carrinho de controle remoto.
— Engraçado como essas coisas ficam gravadas na memória.
Parece que foi ontem, mas já faz tanto tempo.
Elisa
suspirou, com um leve sorriso.
— Às vezes dá uma vontade, né? De voltar pra aquele tempo,
reviver tudo de novo. Não só as festas, mas o jeito como a gente vivia as
coisas. Tudo era tão intenso, tão fácil de ser feliz.
Luiz
cruzou os braços, concordando.
— A vida era mais leve. A gente não tinha preocupação, não
tinha pressa. Só curtia o momento. Hoje em dia parece que tá tudo no
automático.
—
É porque a gente cresceu. — Paulo deu de ombros, pensativo. — E
crescer tem dessas. Não dá pra voltar no tempo, como dar pausa e retroceder alguns minutos de um filme para
rever uma cena de que gostamos. Mas se pudesse, vocês voltariam pra onde?
Elisa
nem precisou pensar muito.
— Eu voltaria pro dia em que todo mundo estava na casa da
vó, comendo pão de queijo fresco e jogando conversa fora no quintal. Era tão
simples e tão bom... Lembram dos balanços que nosso vô fez nas árvores do
quintal? Na época, nem passava pela minha cabeça que aqueles momentos iam virar
memória.
—
Eu voltaria pra quela festa de fim de ano, quando o tio Pedro fez churrasco
e a gente ficou até tarde vendo estrelas no campo. — Paulo disse, com um
sorriso nostálgico. — Eu juro que até hoje consigo sentir o cheiro do
churrasco e ouvir as risadas.
— Eu voltaria no tempo das nossas peladas de futebol, no
campinho que o seu Carlos fez pra gente naquele terreno baldio. Lembra, Paulo,
das disputas com a rua de cima, valendo uma Coca-Cola dois litros e uma porção
de pão de queijo? Quase dava morte.
Luiz
e Paulo deram uma gargalhada tão alta, que Tia Maria, que estava pertinho deles repondo os docinhos e salgadinhos nas bandejas, levou um susto que quase
derrubou tudo.
Com
tudo calmo novamente, Luiz ficou em silêncio por um instante, depois olhou para
os dois.
— Sabem o que é engraçado? A gente sempre acha que o melhor
ficou no passado, mas talvez o melhor esteja por vir.
Elisa
arqueou uma sobrancelha, curiosa.
— Como assim?
—
Tipo... não dá pra voltar no tempo, mas dá pra criar momentos que vão ser
tão bons quanto, ou até melhores. — Ele apontou para a sala cheia de vida e
cores. — Olha o Pedrinho, por exemplo. Essa é a melhor festa da vida dele.
E, daqui a uns anos, vai ser a lembrança que ele vai querer voltar.
Elisa
sorriu, entendendo o ponto.
— Faz sentido. Então, o segredo é aproveitar o agora, né?
— Exato. — Luiz concordou, pegando um pedaço de bolo. — Afinal, a gente ainda tem muito capítulo pra escrever. Nós três, por exemplo, temos que nos encontrar mais vezes e não somente em momentos como estes. Antigamente fazíamos tudo juntos. Ao invés de ficarmos aqui relembrando o fizemos, que tal criarmos momentos novos?
Paulo
levantou o copo de refrigerante como um brinde.
— Então, brindemos aos próximos capítulos. Que sejam tão
bons que a gente nem queira voltar no tempo.
E,
enquanto os três brindavam com refrigerante e mordidas em coxinhas, o barulho
das crianças e o cheiro do bolo fresco pareciam lembrar que, no fim, cada
momento tem sua magia. O truque é não deixar a vida passar sem perceber.
O
diálogo entre Luiz, Paulo e Elisa explora a relação entre memória, nostalgia e
a perspectiva sobre o tempo. A conversa, ambientada em uma festa infantil,
serve como um gatilho para que os três revisitem momentos especiais de suas
próprias infâncias, revelando como as experiências passadas permanecem vivas
nas lembranças. A troca de histórias reflete a saudade de tempos mais simples e
a percepção de que a infância tinha uma leveza difícil de replicar na vida
adulta.
Ao
longo da conversa, surge uma mudança de perspectiva: a ideia de que, embora não
possamos voltar no tempo, temos o poder de criar novas memórias igualmente
significativas. Essa reflexão, trazida por Luiz, incentiva a valorização do
presente e a construção de momentos marcantes no futuro. O texto revela, de
forma sutil, a importância de viver plenamente cada fase da vida.
A
moral da história é clara: não podemos mudar o passado ou revivê-lo, mas
podemos aprender com ele a aproveitar o presente e a planejar um futuro cheio
de momentos inesquecíveis. O tempo não volta, mas cada dia é uma nova
oportunidade para criar capítulos que valham a pena ser lembrados.
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