Na pequena sala de
Marcelo, um terapeuta com jeito de professor, Júlia e Lucas sentaram-se, cada
um, com seus cadernos e um gravador. O trabalho escolar sobre a influência da
mente nas decisões tinha levado os dois ali. Ambos estavam cheios de curiosidade
e perguntas.
—
Vamos começar com o básico: como nossa mente decide por nós? — começou
Júlia, ajeitando o cabelo atrás da orelha.
Marcelo
sorriu.
— Vou responder, mas antes, deixo um desafio. Pensem em algo que vocês queriam muito fazer, mas desistiram.
Os
dois se entreolharam. Lucas foi o primeiro a responder.
— Eu sempre quis aprender violão, mas toda vez que penso
nisso, minha cabeça começa a dizer que eu não tenho jeito pra música.
—
E você, Júlia? — perguntou Marcelo.
Ela
hesitou antes de responder.
— Eu sempre quis criar um canal no YouTube, mas minha mente
vive repetindo que ninguém vai assistir, que não sou boa o suficiente.
Marcelo
assentiu com a cabeça, compreensivo.
— Isso que vocês descreveram é o que eu chamo de
"mente mentirosa". Ela cria histórias que soam verdadeiras, mas que,
no fundo, são apenas desculpas. É como se houvesse uma voz interna tentando nos
proteger de fracassos..., mas, ao mesmo tempo, nos impedindo de arriscar.
Lucas
inclinou-se ligeiramente, demonstrando interesse.
— Tá, mas por quê? Por que a mente faria isso?
—
Medo, Lucas. — Marcelo respondeu com calma. — O medo é natural, mas a
mente, às vezes, exagera na dose. É como um alarme que dispara mesmo sem perigo
real. Ela quer evitar que você se machuque, mas, no processo, pode acabar te
paralisando.
Júlia
anotou algo rapidamente.
— Então, a mente pode ser tanto nossa aliada quanto nossa
inimiga?
— Perfeito, Júlia. Quando ela atua de forma positiva, é
incrível. Pense na sensação de terminar algo desafiador, como um projeto
difícil ou uma apresentação na escola. Essa é a mente atuando. Ela te ajuda a
organizar ideias, encontrar soluções e até te dá aquele impulso final.
Lucas
sorriu.
— Tipo quando a gente estuda e tira uma nota boa. A
sensação é ótima.
— Exatamente! Mas, por outro lado, a mente também pode te
enganar. Já ouviram falar em procrastinação?
Os
dois riram, quase em sincronia.
—
Quem nunca, não é? — disse Júlia.
Marcelo
riu junto e continuou.
— Pois é. A procrastinação é um exemplo clássico de como a
mente engana. Ela te convence de que “depois” é sempre um momento melhor. Só
que esse “depois” nunca chega, e aí vem a culpa, o estresse.
Lucas
levantou a mão como se estivesse na sala de aula.
— Mas dá pra reverter isso, né?
Marcelo
olhou para ele com um sorriso satisfeito.
— Claro que é possível. Primeiro, você precisa perceber
quando sua mente está mentindo. Questionar é o primeiro passo: “Isso é mesmo
verdade ou é só um medo disfarçado?” Depois, você pode usar a mesma mente a seu
favor, criando hábitos positivos. Pequenos passos, como planejar o dia ou
celebrar pequenas vitórias, podem fazer toda a diferença.
Júlia
olhou para o terapeuta com um brilho nos olhos.
— Então, a mente pode ser treinada, como um músculo?
— Exatamente, Júlia! Quanto mais você exercitar os pensamentos positivos e produtivos, mais eles se fortalecem. É como trocar o alarme de medo por um alarme de ação. Já leram ou ouviram algo sobre mantras budistas? Os monges praticam pensamentos positivos por horas, sempre repetindo o mesmo mantra. Estão treinando suas mentes para enxergar somente o lado positivo das coisas, por isso eles sempre têm algo bom para nos dizer. E nós também podemos fazer isso.
Marcelo
fez uma pausa e olhou para os dois jovens.
— Darei um exemplo prático. Imagine que você está prestes a
apresentar um trabalho na frente da turma. Sua mente começa a gritar: “Vai dar
errado!” Nesse momento, você pode escolher acreditar nisso ou responder: “Já me
preparei, estou pronto.” Se preciso, repita isso várias vezes, até que você se convença disso. Essa mudança de perspectiva faz toda a diferença.
Lucas
pensou por um momento.
— E quando não dá pra controlar? Tipo, quando o medo parece
maior que tudo?
Marcelo
assentiu, empático.
— Isso pode acontecer, e tá tudo bem. Nessas horas, é
importante lembrar que o medo é temporário. Ele passa, especialmente se você se
der a chance de enfrentá-lo. De fato, a mente pode enganar, mas ao ser
desafiada, ela aprende a agir de forma mais útil.
Júlia
sorriu, como quem acaba de entender algo profundo.
— Acho que temos material suficiente para o trabalho... e
um plano pra treinar nossa mente também.
Marcelo
riu, satisfeito.
— Ótimo. Lembrem-se: sempre que estiverem confusos,
perguntem-se: “Minha mente está atuando ou mentindo?” Essa pergunta é poderosa.
Ao
saírem da sala, ambos pareciam diferentes: mais leves e conscientes. De certa
forma, já começavam a treinar a mente, escolhendo atuar em vez de acreditar nas
mentiras que ela contava.
A
entrevista com o terapeuta trouxe uma lição simples, mas poderosa: nossa mente
pode ser tanto uma aliada quanto uma armadilha. Ela tem o poder de nos motivar
a alcançar grandes feitos, mas também pode nos paralisar com medos e desculpas
que nem sempre são reais. Questionar pensamentos, identificar padrões negativos
e desafiar as "mentiras" internas são passos cruciais para assumir o
controle das decisões e agir.
A
moral é clara: nossa mente precisa ser treinada. Assim como um músculo, ela se
fortalece com prática e atenção. Escolher pensamentos positivos, enfrentar o
medo e celebrar pequenas conquistas nos ajuda a sair da inércia e seguir em
frente. Sempre que sentir dúvida, pergunte-se: sua mente está ajudando ou te
segurando? Essa consciência é o primeiro passo para fazer com que ela atue a
seu favor.
Lembre-se:
o que te impede de agir muitas vezes não é o mundo ao seu redor, mas a forma
como você enxerga as possibilidades. Em vez de acreditar em todas as histórias
que sua mente conta, opte por reescrevê-las.
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