Era um domingo, como
tantos outros, naquela família tradicional do interior da cidade. Pais e filhos
se reuniam para o almoço dominical. Estavam presentes o senhor Jorge, dona
Maria e seus filhos, Júnior, de 17 anos, e Mari, de 26. Mari e seu esposo, Beto,
sempre faziam questão de participar do almoço da família.
Antes
do almoço, sentados no pátio sob a sombra das laranjeiras e bergamoteiras, Mari
e Júnior conversavam sobre como o menino estava se saindo nos estudos e no
estágio no armazém do seu Luiz. Júnior parecia um pouco preocupado e resolveu
abrir o coração com sua irmã.
—
Ei, Mari, você já teve vontade de jogar tudo pro alto?
— Já? Ontem mesmo! Me estressei com um fornecedor da empresa. Ele prometeu entregar os produtos ontem e só avisou que ia atrasar na última hora. Sabe, Júnior, a vida, às vezes, parece uma comédia trágica. Só que sem final feliz.
—
Exatamente! E o que você faz nessas horas?
—
Olha, Júnior, eu respiro fundo e falo: “Então tá!”.
Júnior
olhou para sua irmã, franzindo a testa, sem entender a simplicidade daquela
resposta.
—
Sério, Mari? Só isso?
—
Sim. Porque tem coisas que não dá pra resolver na marra, sabe? Às vezes, o
melhor que a gente pode fazer é aceitar o momento e seguir em frente.
—
Mas isso não parece meio… desistir?
—
Não, Júnior! É ter sabedoria para entender que nem tudo está sob nosso
controle. Tipo: “Isso aqui tá fora do meu alcance agora, mas eu vou continuar,
porque logo ali na frente posso encontrar uma saída”.
—
Entendi… Meio que um “deixa pra lá”, mas sem largar tudo?
—
Exato! É liberar-se do peso desnecessário pra carregar o que importa.
Júnior
balançou a cabeça, pensativo.
—
Ok. Mas e quando o problema é gigante? Tipo… um tsunami de coisas erradas?
—
Aí, o “então tá” vira uma boia de sobrevivência. Você se segura nela, flutua e
espera a onda passar. Não é sobre lutar contra o tsunami, mas sobreviver a ele.
—
Parece bonito, mas, na prática…
—
Não é fácil, eu sei. Mas pensa comigo: alguma vez você resolveu algo na base do
desespero?
—
Hm… não. Geralmente, piora.
—
Pois é. Quando a gente entra no modo “pânico”, a visão fica turva. Agora, se
você respira fundo e aceita que não precisa resolver tudo de uma vez, as coisas
começam a clarear.
Júnior
continuava olhando para o chão de terra, ainda desconfiado.
—
Fácil falar…
—
Eu sei. Eu também já fui aquela pessoa que tentava resolver a vida em um dia.
Resultado? Exaustão total e nada resolvido.
—
E o que mudou?
—
O “então tá”. Foi minha forma de dizer pra mim mesma: “Calma, Mari. Você não
precisa ter todas as respostas agora”.
—
E funciona mesmo?
—
Não só funciona, como liberta. Quando você para de lutar contra o
incontrolável, sobra energia pra focar no que você realmente pode mudar.
—
Acho que nunca tentei porque sempre tive medo de parecer fraco.
—
Fraqueza, Júnior, é fingir que dá conta de tudo enquanto implode por dentro.
Coragem é admitir que precisa de uma pausa.
Júnior
levantou os olhos para a irmã.
—
Nunca pensei assim… Mas, sei lá, parece que as pessoas vão julgar.
—
E vão, Júnior. Sempre tem gente pra criticar. Mas quer saber? Ninguém vive sua
vida. Só você pode decidir como enfrentar seus dias.
—
Acho que faz sentido. Mas e se eu “aceitar” e, depois, não souber como
continuar?
—
Você sempre vai saber. Porque, mesmo na pausa, o mundo continua girando. E, no
movimento, você encontra seu próximo passo.
—
E como você faz pra saber que tá indo na direção certa?
—
Não sei, na maioria das vezes. Mas continuo andando. Ficar parado é que não
ajuda.
—
Cara, acho que vou tentar isso.
—
Faz isso, Júnior. E lembra: o “então tá” não é um ponto final. É uma vírgula
pra você respirar e se reorganizar.
Júnior
sorriu.
—
Valeu, Mari. Eu precisava ouvir isso. Por isso admiro tanto você. Você sempre
sabe me orientar.
—
E olha, se der errado, a gente respira fundo de novo e diz: “Então tá. Bora
mais uma vez!”.
Mari
se levantou da cadeira e abraçou o irmão, beijando-o no rosto.
—
Júnior, eu também admiro muito você. Tenho muito orgulho do homem que você está
se tornando. E, sempre que tiver alguma dúvida, sabe que pode contar comigo.
Nesse
momento, Beto apareceu, chamando os dois.
—
E aí, maninhos, será que podem dar um tempinho na conversa? O almoço tá
servido!
Os
três sorriram e, abraçados, foram para dentro da casa.
.-.-.-.-.-.
Júnior,
assim como quem está lendo, aprendeu que aceitar nem sempre é desistir. Às
vezes, é só uma forma de se reorganizar para continuar em frente. Respirar
fundo e dizer “então tá” não significa fraqueza, mas inteligência emocional
para lidar com o que está fora do nosso alcance.
No
fim, a lição é simples: a pausa é um recomeço, não um fim. O importante é ter
coragem para parar quando necessário e seguir em frente, carregando apenas o
que importa. Assim, os dias difíceis se tornam mais leves e cheios de novas
possibilidades.
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