quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Se é preciso forçar, não é para você. Isso serve tanto para roupas, sapatos, amizades, quanto para relacionamentos.

 

Já era sexta-feira, e a noite prometia. Ana, já arrumada, estava na casa de Clara, esperando-a terminar de se arrumar. Clara estava indecisa sobre qual roupa usar. Ana, percebendo a indecisão da amiga, resolveu dar alguns palpites.

— Você já tentou usar aquele vestido que a gente comprou na promoção? Achei que ia ficar perfeito em você!

— Tentei ontem à noite, mas foi um desastre. Eu mal consegui vestir, Ana! Parecia que estava tentando espremer um elefante num pote de geleia. E o pior é que insisti. Estiquei, puxei, fiz contorcionismo. No fim, desisti, sentei na cama e fiquei olhando para o espelho, toda frustrada.

— Ah, amiga, mas é isso mesmo. Se tem que forçar tanto assim, é porque não é para você. A gente vive tentando empurrar coisas que claramente não se encaixam, seja roupa, sapato, amizade... até a vida amorosa entra nessa lista.

— Verdade, mas às vezes é difícil aceitar isso. Eu fico pensando: “E se eu insistisse mais um pouco? Talvez fosse dar certo...”

— Insistir mais, Clara? Pra quê? Pra acabar mais frustrada ainda? Olha, eu aprendi uma coisa: o que é para a gente não precisa de sofrimento para acontecer. Pode até exigir esforço, porque nada é mágico, mas nunca vai machucar ou te fazer sentir que está carregando o mundo nas costas.

— Mas como a gente sabe que algo não é para a gente? Às vezes, eu penso que só estou sendo impaciente, que tudo é fase e vai melhorar...

— Eu sei como é. É confuso mesmo. Mas olha, preste atenção nos sinais. Quando algo é para você, mesmo nos momentos difíceis, você sente que há equilíbrio. Agora, se todo dia é uma luta para se encaixar, se você sai sempre exausta emocionalmente e nunca sente um retorno real, é um grande sinal de alerta.

— Acho que você está falando disso com mais propriedade do que parece. Está pensando em alguma coisa específica, Ana?

— Talvez... Digamos que já forcei muito em amizades que não me levavam a lugar nenhum. Eu me desgastava tentando agradar, tentava estar presente, mas nunca sentia reciprocidade. Era como correr atrás de um trem que nunca parava para me pegar.

— Nossa, eu também já passei por isso. E é cansativo demais, né? Dá uma sensação de vazio...

— Exato, Clara! É como usar um sapato que não serve. Ele pode até parecer bonito, mas cada passo é uma tortura. No final, você só quer arrancar aquilo e sentir seus pés livres.

— E em relacionamentos amorosos, Ana? Você acha que é a mesma coisa?

— Sim, até mais sério. Porque, nos relacionamentos, o impacto é direto na sua autoestima. Se você está sempre se sacrificando, tentando segurar algo que só você valoriza, começa a acreditar que isso é normal. E não é. Amor verdadeiro é leve, mesmo nos dias difíceis.

— Mas e se eu desistir cedo demais? Às vezes, penso que, se eu tentar só mais um pouco, talvez tudo se ajuste...

— O problema não é tentar, Clara. O problema é ignorar os limites. Se você está carregando tudo sozinha, é porque a outra pessoa já desistiu faz tempo, mesmo que não diga. E aí, quem paga o preço? Você.

— Sabe, Ana, isso me faz pensar no meu namoro. Parece que sou a única que se importa. Ele sempre tem uma desculpa, sempre coloca tudo na minha responsabilidade.

— Então, já sabe a resposta, né? Relacionamento é parceria, não servidão. Se você se sente mais cansada do que feliz, é um sinal claro de que algo está errado. E não tem problema reconhecer isso e decidir parar.

— É que dá aquela culpa, sabe? Parece que estou sendo egoísta por querer algo diferente, algo melhor.

— Clara, você não está sendo egoísta. Se respeitar não é um ato de egoísmo, é de amor-próprio. E o mais importante: quando você abre mão do que não te serve, cria espaço para coisas novas e melhores entrarem na sua vida.

— Nunca pensei por esse lado. Sempre achei que insistir era uma forma de mostrar o quanto me importava.

— Mostra, mas a questão é: e o outro lado? Se só você está tentando, se só você está se importando, então quem está do outro lado não está no mesmo ritmo. E não dá para dançar uma música assim.

— É difícil, mas acho que preciso fazer isso por mim. Não só no namoro, mas em outras áreas também.

— Isso mesmo. E lembre-se: o que é para você não precisa de tanto esforço para encaixar. Vai se ajustar de forma natural, como uma peça de quebra-cabeça que cabe exatamente onde deveria estar. E agora, vamos parar com essa ladainha, porque já deveríamos estar na festa, e vamos lá em casa que te empresto um dos meus vestidos.

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O diálogo entre Ana e Clara dá aquela sacudida necessária na gente: a vida fica mais leve quando paramos de insistir no que não nos cabe. Seja uma roupa que aperta ou uma relação que cansa, forçar algo que não combina com a gente só traz frustração. O que realmente é nosso chega no tempo certo, sem sufocar, sem pesar. 

Mais do que isso, ele lembra o quanto é importante se colocar em primeiro lugar. Cuidar de si não é egoísmo, é sobrevivência. Relacionamentos – sejam amizades ou amores – precisam de troca, de parceria. Se você está carregando tudo sozinha(o), já passou da hora de olhar pra isso com mais carinho e se perguntar: “Por que eu ainda estou aqui?”. 

No fim, a mensagem é simples e poderosa: o que é para a gente não machuca, não aperta, não desgasta a alma. Soltar o que não faz bem é um ato de coragem, e é assim que a gente abre espaço para tudo de bom que a vida tem para oferecer.

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