terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Lições para uma mente inquieta.

 
            A jovem Marina caminhava pelo jardim do templo budista, onde os pássaros cantavam alegremente por entre as árvores. Seus passos eram rápidos e pesados, como se transportasse uma carga pesada e invisível. Ela respirava fundo, na ânsia de acalmar o coração acelerado, mas a ansiedade parecia uma sombra que a perseguia e não a abandonava.

Ao longe, sentado sob uma árvore, o monge Takashi, seu velho conhecido, observava o lago tranquilo. Seus olhos estavam quase fechados, mesmo assim ele sentiu a presença de Marina. Vendo-a, ele abriu os olhos e sorriu docemente.

— Senhor Takashi — ela começou, hesitante —, posso conversar com o senhor?

— Claro, minha jovem. Sente-se. A sombra desta árvore é generosa hoje — ele respondeu, indicando um lugar ao seu lado.

Marina acomodou-se, cruzando as pernas. Por um momento, ficou em silêncio, olhando para as folhas das árvores que caíam suavemente no chão.

— Eu... não sei por onde começar — ela confessou, envergonhada.

— Comece pelo que pesa mais no seu coração — sugeriu o monge, com uma voz calma que parecia acariciar o ar.

Marina respirou fundo novamente. — É a ansiedade. Ela me consome. Sinto que estou sempre correndo, mas não sei para onde. Meu coração dispara, minha mente não para, e eu... eu não consigo respirar direito.

O monge Takashi acenou com a cabeça, como se compreendesse profundamente o que ela sentia. — A ansiedade é como um rio turbulento. Quanto mais você luta contra a correnteza, mais ela te arrasta.

— Então, o que eu faço? — perguntou Marina, seus olhos brilhando com lágrimas contidas.

— Primeiro, você precisa entender que a ansiedade não é sua inimiga. Ela é apenas uma mensageira. Algo dentro de você está tentando chamar sua atenção.

— Uma mensageira? — ela repetiu, confusa.

— Sim. A ansiedade, muitas vezes, surge quando nos desconectamos de nós mesmos. Quando deixamos de dar atenção aos nossos medos, nossas dúvidas, nossos desejos. A ansiedade chega para nos lembrar de olhar para dentro de nós mesmos.

Marina franziu a testa. — Mas como eu olho para dentro se tudo o que sinto é confusão?

— Comece com a respiração — ele sugeriu. — A respiração é a ponte entre o corpo e a mente. Quando você se concentra nela, você se ancora no presente.

— No presente? — ela perguntou, ainda incerta.

— Sim. A ansiedade vive no futuro. Ela se alimenta do "e se" e do "o que vai ser". Mas o presente... o presente é onde a vida realmente acontece.

Marina olhou para as mãos, tentando absorver as palavras do monge. — E se eu não conseguir parar de pensar no futuro?

— Você não precisa parar de pensar. Apenas observe seus pensamentos, sem se apegar a eles. Imagine que eles são como nuvens passando no céu. Você não precisa segurá-las, apenas deixe que vão e venham.

— Isso parece... difícil — ela admitiu.

— Tudo que é novo parece impossível no início — ele respondeu com um sorriso. — Mas com a prática, você aprende a navegar com tranquilidade por essas águas turbulentas.

— E se eu falhar? — perguntou Marina, sua voz quase um sussurro.

— Falhar é parte do caminho. Cada queda é uma lição. O importante é se levantar e tentar novamente.

Ela ficou em silêncio por um momento, refletindo. — E quanto ao medo? O medo de não ser boa o suficiente, de não conseguir o que eu quero?

— O medo é natural, Marina. Ele nos protege, mas também pode nos aprisionar. A chave é não deixar que ele tome as decisões por você.

— Como eu faço isso? — ela perguntou, seus olhos buscando orientação.

— Reconheça o medo, mas não o alimente. Em vez de fugir dele, encare-o. Pergunte a si mesma: "O que há de pior que pode acontecer?" Na maioria vezes, você perceberá que o medo é maior do que parece.

Marina respirou fundo, sentindo-se um pouco mais aliviada. — E se eu não conseguir controlar a ansiedade sozinha?

— Você não precisa fazer isso sozinha. Busque apoio. Converse com amigos, familiares, ou até mesmo com um monge velho e sábio — ele brincou, fazendo-a sorrir levemente.

— Mas e se as pessoas não entenderem? — ela perguntou, sua voz carregada de preocupação.

— Nem todos irão te compreender, e está tudo bem. O importante é poder contar com aqueles que te apoiam e querem te ajudar a crescer.

Marina observou o lago, o céu azul era refletido nas águas limpas e calmas. — Eu só gostaria de me sentir em paz.

— A paz não é um lugar onde você chega, Marina. É um estado que você cultiva dentro de si. Um dia de cada vez, um momento de cada vez.

— E como eu cultivo essa paz? — ela perguntou, sua voz mais suave agora.

— Pratique a gratidão. Encontre algo, por menor que seja, pelo qual você seja grata todos os dias. Isso ajuda a trazer luz para a escuridão.

— Gratidão... — ela repetiu, como se estivesse experimentando a palavra pela primeira vez.

— Sim. E também, pratique a compaixão. Comece por você mesma. Seja gentil com seus erros, seus medos, suas falhas. Você é humana, e isso é lindo.

Marina sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto. — Eu nunca pensei nisso dessa forma.

— Muitas vezes, somos nossos piores críticos. Mas a verdadeira força está em se aceitar, com todas as imperfeições.

— E se eu não conseguir? — ela perguntou, sua voz tremendo.

— Você já está conseguindo, Marina. Está aqui, buscando respostas, enfrentando seus medos. Isso já é uma grande vitória.

Ela sorriu, sentindo um peso sair de seus ombros. — Obrigada, senhor Takashi. Eu... eu acho que entendi.

— A jornada é longa, mas você não está sozinha. Lembre-se: a ansiedade não define quem você é. Ela é apenas uma parte da sua história.

Marina assentiu, sentindo-se mais leve. — Eu vou tentar. Um dia de cada vez.

— Isso é tudo que podemos fazer — ele respondeu, com um sorriso sereno. — E lembre-se: você é mais forte do que pensa.

Ela se levantou, sentindo uma nova determinação. — Obrigada, senhor Takashi. Eu vou praticar tudo o que senhor me ensinou.

— Eu estarei aqui, sempre que precisar — ele disse, fechando os olhos novamente, como se retornasse à sua meditação.

Marina caminhou de volta pelo jardim, desta vez com passos mais leves. As flores pareciam mais brilhantes, o ar mais fresco. Ela sabia que a ansiedade ainda estaria lá, mas agora ela tinha ferramentas para enfrentá-la.

— Um dia de cada vez — ela sussurrou para si mesma, sentindo uma centelha de esperança.

E, pela primeira vez em muito tempo, Marina sentiu que poderia, sim, encontrar a paz.

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A ansiedade é uma companhia difícil, mas não precisa ser uma inimiga. Ela nos alerta sobre nossas inseguranças, nossos medos e nossas dúvidas. O segredo está em aprender a ouvi-la, sem deixar que ela assuma o controle de nossas vidas.

Para você que sofre com a ansiedade, saiba que você não está sozinho(a). Buscar ajuda, seja de amigos, familiares ou profissionais, é um passo importante. E, acima de tudo, lembre-se de ser gentil consigo mesmo(a). A jornada pode ser longa, mas cada pequeno passo é uma vitória.

Cultivar a paz interior é um processo diário. Respire fundo, olhe para dentro e encontre a força que já existe em você. A vida é feita de altos e baixos, mas cada momento é uma oportunidade para crescer e se reconectar com o que realmente importa. Lembre-se: um dia de cada vez.

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