Após
o almoço e no intervalo entre o período da manhã e da tarde na escola de tempo
integral, Ana e Lucas estavam na área reservada para o descanso e lazer dos
alunos. Sentados mais ao canto da sala, Ana lia seu livro, enquanto Lucas, como
sempre fazia, estava no celular, bisbilhotando as redes sociais.
Ana
levantou os olhos do livro. — Que você gasta tempo demais nesse telefone?
Ele
riu. — Além disso. Percebi que, muitas vezes, respondo antes de entender a
pergunta.
—
Como assim? — ela fechou o livro, interessada.
— Tipo hoje, na prova de matemática — Lucas coçou a nuca. — Li a questão correndo, achei que era uma coisa e já fui resolvendo. No final, vi que tinha respondido errado porque não entendi direito o que estava sendo pedido.
Ana
balançou a cabeça. — Já fiz isso várias vezes. Parece que o cérebro entra no
automático, né? A gente quer acabar logo, sem parar pra pensar.
—
Exato! — Ele apontou para ela, animado. — E não é só em prova. No meu estágio,
meu chefe perguntou algo sobre um relatório, e eu já fui falando qualquer
coisa, achando que sabia o que ele queria. No fim, ele só queria uma informação
simples que eu nem prestei atenção.
—
Isso é a pressa de parecer esperto — disse Ana. — Tipo, quanto mais rápido você
responde, mais você parece saber das coisas.
Lucas
suspirou. — Só que acaba sendo o contrário. Parece que a gente não pensa antes
de falar.
—
Acontece nas discussões também — acrescentou ela. — Alguém fala algo, e você já
rebate sem nem tentar entender o ponto de vista da pessoa.
—
Sim! — Lucas abriu um sorriso. — Outro dia, briguei com meu irmão. Ele disse
que eu estava sempre atrasado pra sair com ele. Fiquei na defensiva, dizendo
que não era verdade, mas, pensando bem, ele só queria que eu respeitasse o
tempo dele.
Ana
fez que sim. — A gente ouve pra responder, não pra entender.
—
E isso complica tudo — Lucas olhou pela janela. — Será que é porque estamos
acostumados a correr com tudo?
—
Acho que sim — disse Ana. — O mundo de hoje é rápido demais. A gente acha que precisa
acompanhar esse ritmo, até nas respostas.
—
Só que responder rápido não significa responder bem — concluiu Lucas.
Ana
sorriu. — E entender antes de responder é uma habilidade que pouca gente
treina.
—
Exato — Lucas riu de novo. — Parece bobo, mas é tipo um superpoder. Se você
parar, escutar de verdade, pensar… Você responde melhor, sem arrependimento
depois.
Ana
apontou para o livro. — Isso me lembra algo que li aqui. Que as palavras têm
peso, e a gente escolhe o que carrega.
Lucas
refletiu. — Então, a pressa em responder é como carregar uma mala cheia de
coisas inúteis. Você fala sem pensar e depois carrega o peso das palavras
erradas.
—
Ou do silêncio que deveria ter feito — Ana acrescentou.
—
E como a gente muda isso? — perguntou Lucas, curioso.
Ana sorriu. — Começando agora. Da próxima vez que alguém perguntar algo, respira, escuta até o fim e só depois responde. Nas provas, leia duas ou três vezes a pergunta antes de sair respondendo.
Lucas
assentiu. — E se precisar, perguntar de novo. Melhor perguntar duas vezes do
que responder errado.
—
Parece simples, mas não é — disse Ana.
—
Pois é — Lucas riu. — A gente tem que praticar.
Ana
pegou o livro de novo. — O segredo é lembrar que escutar é mais importante que
falar.
Lucas
olhou para ela, pensativo. — Escutar é entender o que o outro está dizendo, não
o que a gente acha que ele disse.
Ana
ergueu a sobrancelha. — Olha só, você tá começando a pegar o jeito.
—
A prática leva à perfeição — brincou Lucas.
—
Ou, pelo menos, a menos arrependimentos — completou Ana.
Lucas
riu. — É isso.
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No
final das contas, ouvir de verdade é um exercício diário. Não é só uma questão
de educação, mas de inteligência emocional.
Quando
você escuta antes de responder, evita mal-entendidos, fortalece suas relações e
ainda se destaca, porque poucas pessoas têm essa paciência.
Se
você é do tipo que responde no impulso, calma. Não é um defeito, é um hábito. E
hábitos podem ser mudados.
A
próxima vez que alguém fizer uma pergunta, dê um passo atrás. Respire. Ouça com
atenção. Só então, responda. Isso não só vai melhorar suas conversas, como
também a forma como as pessoas te enxergam.
Como
já dizia um patrão que eu tive: “se temos duas orelhas e apenas uma boca, é
sinal que devemos ouvir mais e falar menos”.
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