—
Se pudesse escolher, você passaria uma hora no passado ou um minuto no futuro?
A
pergunta me pegou de surpresa. Estávamos sentados na calçada, olhando para o
céu já escuro, quando Pedro soltou essa.
—
Depende… Qual é a pegadinha? — perguntei.
—
Nenhuma. É só uma escolha direta: um minuto no futuro ou uma hora no passado?
—
E aí? — ele insistiu.
—
Acho que escolheria o passado. Uma hora dá para fazer muita coisa: consertar um
erro, dar um conselho para mim mesmo, impedir alguma besteira.
Pedro
sorriu de canto e balançou a cabeça.
—
E você acha que isso resolveria tudo?
—
Não tudo, mas ajudaria.
Ele
ficou em silêncio por um momento, brincando com uma pedrinha na mão.
—
Eu escolheria o futuro — disse, enfim.
—
Um minuto só? O que dá para fazer em um minuto?
—
Tudo o que eu preciso. Saber se aquela escolha que estou prestes a fazer foi
boa ou ruim. Ver se o caminho que estou trilhando está certo. Um minuto de
confirmação vale mais do que uma hora de arrependimento.
Fiquei
quieto. Nunca tinha pensado assim.
—
Mas e se não der tempo de mudar? Tipo, você vê o que acontece, mas não consegue
impedir?
Pedro
riu.
—
Aí é que está o erro. As pessoas querem mudar o passado porque acham que isso
impede o sofrimento. Mas o sofrimento ensina. Se você apaga a dor, apaga o
aprendizado. Agora, se você vê um pedacinho do futuro, tem tempo de se
preparar. Sabe aquela sensação de que algo vai dar errado? Imagina ter certeza
e poder agir antes.
Dei
um suspiro longo.
—
Tá, mas e se o futuro for horrível?
Pedro
deu de ombros.
—
Se for, pelo menos eu já sei e posso fazer alguma coisa agora. O problema do
passado é que ele já aconteceu. Não importa se eu voltar e agir diferente,
ainda serei a mesma pessoa que errou da primeira vez.
Fiquei
calado por um tempo, pensando.
—
Então, você acha que o passado não tem valor?
—
Claro que tem! — Ele riu. — Mas o valor do passado não está em mexer nele, e
sim em aprender com ele. O passado é um professor, mas não é um amigo. Se você
fica preso nele, está só repetindo aula.
Cruzei
os braços, ainda sem saber se concordava.
—
E se o seu minuto no futuro for só um momento qualquer, tipo eu te perguntando
que pizza pedir?
Ele
riu de novo.
—
Aí eu já saberia que você sempre pede calabresa e diria para variar um pouco.
Soltei
uma risada, mas depois fiquei sério.
—
Então, na sua visão, a gente devia sempre olhar para frente?
Pedro
fez um gesto com a mão, como se estivesse tentando encaixar as palavras certas.
—
Não é sobre esquecer o passado. É sobre não se afogar nele. Você pode lembrar,
pode aprender, pode sentir, mas viver de verdade só acontece no presente. E, se
puder ter uma pequena espiada no que vem por aí, melhor ainda.
—
Mas e se não tiver escolha? E se só der para ficar no agora?
Ele
me olhou nos olhos.
—
Então, a melhor escolha é fazer esse agora valer a pena.
Fiquei
pensando nisso por um tempo. Depois de alguns segundos, Pedro olhou para mim e
sorriu.
—
E aí, decidiu?
—
Ainda não sei. Mas acho que estou começando a entender.
Pedro
jogou a pedrinha para o alto e a pegou no ar.
—
Tá vendo? É assim que começa. Primeiro, você pensa. Depois, você escolhe. E, no
fim, percebe que a única coisa que realmente importa é o que você faz enquanto
ainda pode fazer alguma coisa.
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A
verdade é que o passado e o futuro são duas ilusões. O primeiro já foi, e o
segundo ainda não existe. Mas o que a gente faz agora pode mudar o que vem
depois e dar significado ao que ficou para trás.
Olhar
para o passado pode ser útil, mas só se for para aprender, não para se prender.
E ficar obcecado pelo futuro pode gerar ansiedade, a menos que a gente use isso
como um guia para tomar melhores decisões.
No
fim das contas, a pergunta real não é sobre onde você quer estar, mas sobre o
que vai fazer com o tempo que tem agora. Então, e aí? O que você escolhe?
Se
você tivesse essa escolha, qual seria a sua resposta?
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