—
Cara, posso te perguntar uma coisa meio aleatória?
—
Lá vem bomba... Manda.
—
Por que parece que, toda vez que alguém do nosso grupo consegue alguma coisa
legal, tipo passar numa prova difícil ou arrumar um trampo massa, o clima muda?
Fica esse silêncio estranho, essa sensação de "legal, parabéns aí",
sabe?
—
Já senti isso também. Parece que a alegria do outro aperta um botão na gente,
tipo: “Ei, por que você ainda tá parado aí?” Aí, pronto: gatilho ativado.
— É isso! Não que eu deseje o mal, mas... sei lá, às vezes bate aquela invejinha disfarçada de indiferença. E isso me incomoda.
—
Relaxa. Você não é ruim por sentir isso. É humano. Só que aí entra o ponto: a
gente precisa se amar o suficiente pra entender que o sucesso de alguém não é
um tapa na nossa cara. Não é uma derrota nossa.
—
Mas como é que eu separo uma coisa da outra? Tipo, a vida é uma competição, né?
Ou pelo menos parece.
—
Parece, mas não é. A vida é mais tipo uma maratona em que cada um corre sua
própria distância. Eu posso estar na milésima volta e você ainda aquecendo — e
tudo bem, a nossa corrida é diferente. O problema é que a gente fica olhando
pro lado demais, cuidando da posição do outro, e acaba perdendo o foco do nosso
objetivo.
—
E se eu disser que tem vezes em que eu não quero nem saber da vitória dos
outros? Fico mal. Me sinto inútil. Pequeno.
—
Cara, isso diz mais sobre como você tá se tratando do que sobre o outro. Quando
a autoestima tá no chão, qualquer sucesso alheio vira um lembrete de que a
gente tá atrasado. Mas sabe o que ninguém conta? Que ninguém tá no mesmo
relógio.
—
Como assim?
—
Tipo... enquanto você se cobra por não ter "chegado lá", o outro pode
estar se perguntando por que não tem a tua paz, a tua calma, a tua
criatividade, o teu jeitão leve de levar as coisas. A gente só vê o palco dos
outros, nunca os bastidores.
—
Tá. Mas e quando parece que o sucesso deles diminui o meu? Como se eles
estivessem me ultrapassando?
—
Então, isso é uma ilusão. O sucesso do outro só te diminui se você estiver se
medindo pela régua errada. Ninguém te ultrapassa naquilo que só você pode
viver.
—
Tá filosofando, hein?
—
Um pouco, vai. Mas é porque eu já me torturei muito com isso. Já perdi noites
me perguntando por que os outros estavam indo tão bem e eu... empacado. Até que
entendi: eu não tava me amando. Eu só me comparava.
—
E aí você virou o Buda do rolê?
—
Nem tanto! Eu só decidi parar de me diminuir. Comecei a me tratar como trataria
um amigo: com respeito, com paciência, com incentivo.
—
Isso aí é difícil, viu...
—
É. Mas é possível. Vai por mim: quando você se ama de verdade, você torce de
coração pelos outros. Porque entende que o brilho deles não apaga o seu.
—
Amei isso. “O brilho deles não apaga o seu.” Posso tatuar?
—
Só se colocar “by Eu Mesmo” embaixo.
—
Mas tipo... tem um jeito de treinar isso? De não se sentir ameaçado?
—
Começa se perguntando: “O que me faz sentir assim?” Vai fundo. Às vezes é medo
de não dar conta, de não ser suficiente. Às vezes é só cansaço. Ou insegurança.
O ponto é: se conhecer é o primeiro passo.
—
E o segundo?
—
Celebrar. Mesmo quando doer. Bater palma pro outro até a inveja cansar e ir
embora. Pode parecer falso no começo, mas vira hábito.
—
Então, a solução não é fingir que tá tudo bem... é trabalhar pra que fique, né?
—
Exato. Porque quem se ama entende que sucesso não é uma corrida de um só
prêmio. O mundo não vai acabar porque alguém venceu hoje. Amanhã é você.
—
Curioso isso... quanto mais você se cuida por dentro, menos você vê o outro
como inimigo.
—
E mais você vê o outro como inspiração. Não como ameaça.
—
Caramba... isso devia estar em um mural no colégio.
—
Ou num outdoor, no meio da cidade: “Ame-se o suficiente pra saber que o sucesso
dos outros não é sua derrota.”
—
Frase pesada. Daquelas que a gente finge que entendeu, mas depois fica ecoando
na cabeça.
—
É... e talvez esse seja o segredo: deixar ecoar. Porque, um dia, no meio do
caos, você vai lembrar dessa conversa. E vai sorrir.
—
Pode anotar aí: quando isso acontecer, eu vou te mandar um áudio só pra dizer
“valeu”.
—
Demorou. Mas, até lá, vai treinando o aplauso.
—
Fechou. Só não me pede pra bater palma pra quem passa na sua frente na fila do
caixa.
—
Aí já é demais. Um passo de cada vez, né?
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Se
você leu até aqui, parabéns. Sério. Porque encarar esse assunto exige coragem.
A verdade é que ninguém ensina a gente a lidar com o sucesso do outro.
Crescemos ouvindo que temos que vencer, mas ninguém explica o que fazer quando
alguém vence antes da gente. Aí bate aquela sensação estranha, como se
estivéssemos ficando para trás. Mas deixa eu te contar: não existe “para trás”
quando o caminho é só seu.
Você
não precisa se comparar para crescer. Amar a si mesmo significa reconhecer que
cada pessoa tem seu tempo, sua dor, sua batalha. E que o brilho de alguém não
ofusca o seu. Quando você entender isso, vai conseguir olhar para o sucesso do
outro e dizer, de verdade: “Que massa! Um dia vai ser a minha vez.”
E
vai mesmo. Porque quem vibra pelos outros prepara o próprio caminho com menos
peso e mais verdade. Compartilhe esse texto com alguém que precisa ouvir isso
hoje. Talvez você esteja sendo a faísca que acende o amor-próprio de alguém —
ou, quem sabe, a sua própria.
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