
—
Ô, gente, chega mais. Vem cá que eu vou contar uma história diferente. Não é
coisa inventada, não: é vida real, a vida das abelhas.
—
Abelhas? Ih, lá vem coisa chata, hein, seu Antônio... — reclamou o garoto
magro, puxando o cadarço do tênis, com aquela cara de quem queria ir embora.
— Chata? Rapaz, se não fosse por essas bichinhas barulhentas, vocês não iam ter fruta no lanche nem mel no pão. E olha lá se iam ter flor pra enfeitar a mesa da mãe de vocês.
—
Sério isso? Elas são tão pequenininhas... parece que só servem pra dar
ferroada. — disse uma menina de cabelo cacheado, fazendo careta.
— Pois é aí que vocês se enganam. Essas pequeninas são verdadeiras guerreiras. Cada uma tem um trabalho. Vocês sabiam que existem vários tipos de abelhas? Tem a europeia, que dá muito mel, e tem as nossas sem ferrão, tipo jataí e mandaçaia. O mel delas é docinho, parece até remédio bom.
—
Sem ferrão? Tipo, não picam mesmo? — perguntou um garoto, já mais curioso.
—
Exatamente. Essas são de boa, não têm veneno. Muita gente cria no quintal de
casa. Agora, já as africanizadas... aí sim, são bravas. Se se sentirem
ameaçadas, atacam em bando.
—
Ih, eu já levei uma ferroada dessas. O braço ficou parecendo um balão! —
lembrou a menina, coçando o braço e rindo de nervoso.
—
Pois é, dói mesmo. E em algumas pessoas pode dar reação séria. Por isso,
respeito total. Não dá pra sair metendo a mão no enxame.
—
Mas como é que elas fazem o mel, seu Antônio? Sempre quis saber. — perguntou o
garoto mais calado.
—
Ah, essa parte é linda. Elas saem voando de flor em flor, pegam o néctar e
guardam numa bolsinha dentro do corpo. Quando voltam pra colmeia, vão passando
de uma pra outra até virar mel. É tudo coletivo, ninguém faz sozinho.
—
Então o mel é tipo a comida delas? —
—
Isso! É o estoque pro inverno, quando tem menos flor. O apicultor pega só uma
parte. Nunca tudo, senão elas passam fome. É uma troca justa.
—
E se as abelhas sumissem do planeta? — perguntou a garota, assustada.
—
Aí, minha filha, o mundo virava um caos. Sem abelhas, não tem polinização. Sem
polinização, muitas plantas não dão frutos, não nascem flores novas... os
bichos que dependem disso também sofrem. Até a comida na mesa de vocês ficaria
mais cara.
—
Nossa! Nunca imaginei que um bichinho tão pequeno fosse tão importante.
—
Pois é, e o pior é que muita gente nem liga. Usa veneno, desmata, queima... Aí
elas vão sumindo. E sem elas, a gente dança junto.
—
Mas elas não são perigosas também? — retrucou o garoto.
—
São, ué. O ferrão tá lá. Mas olha: elas só atacam se se sentirem ameaçadas. O
bem que fazem é muito maior que o risco. Se a gente respeita o espaço delas,
não tem problema.
—
E aquele papo de que a abelha morre quando pica? É verdade? —
—
Verdade. Pelo menos nas com ferrão. Quando elas picam, o ferrão fica preso e
arranca parte do corpo. Elas só usam isso quando não têm outro jeito.
—
Caramba, é tipo um sacrifício, então.
—
Isso mesmo. Elas não atacam por atacar. Sabem o preço. É até uma lição pra
gente: nem toda briga vale a pena.
—
Gostei dessa. Parece conselho de vida. — disse a menina, sorrindo.
—
E é. Quem observa abelha aprende muito mais do que pensa. Elas vivem em
comunidade, cada uma com seu papel, sem passar por cima da outra.
—
Mas deve ter uma que manda, né? —
—
Tem sim, a rainha. Ela põe os ovos pra manter a colmeia viva. Mas não é “chefe”
mandona. O trabalho flui porque cada uma sabe o que tem que fazer.
—
Então elas não brigam entre si? —
—
Quase nunca. Só quando nasce outra rainha e precisa assumir. Fora isso, é união
total.
—
Poxa, parece um time de futebol. Cada um na sua posição. — disse o menino mais
animado.
—
Boa! Sem goleiro, o time leva gol. Sem atacante, não marca. Assim são as
abelhas: cada uma tem função, e todas importam.
—
E o mel delas é sempre igual? —
—
Não. Depende da flor. Tem mel clarinho, mel escuro, mel suave, mel forte. O de
laranjeira é clarinho e delicado. O de eucalipto é escuro e marcante.
—
Nossa, não sabia disso.
—
Pois é. O mundo das abelhas é cheio de segredos e sabores. Tudo começa no
trabalho incansável delas.
—
Se todo mundo cuidasse das abelhas, o mundo seria mais bonito, né?
—
Sem dúvida. Cuidar delas é cuidar da natureza. Plantar flores, evitar veneno,
respeitar o espaço. Coisa simples que muda tudo.
—
Vou falar isso em casa. Minha mãe vive reclamando das abelhas no quintal. Vou
explicar que elas ajudam mais do que atrapalham.
—
Faça isso, garoto. Se mais gente pensar assim, a gente garante o futuro.
—
Se elas são assim tão importantes, por que ainda não foi criada uma estátua
para homenageá-las?
—
Bom, elas ainda não têm estátua, mas aqui no Brasil, todo dia 3 de outubro
comemoramos o Dia Nacional das Abelhas. Já é um começo.
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As
abelhas, mesmo pequenas, mantêm a vida florescendo. Elas ensinam sobre união,
esforço e respeito à natureza.
Sem
elas, o mundo perde cores, sabores e equilíbrio. Por isso, não devemos vê-las
apenas como um perigo, mas como parceiras que merecem ser protegidas.
Respeitar
as abelhas é respeitar a nós mesmos. Quando cuidamos delas, cuidamos do nosso
próprio futuro.
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