Rui é um menino de 16
anos que, como todo garoto de sua idade, está passando por uma fase da vida em
que tem mais incertezas do que certezas. Cursando o primeiro ano do segundo grau,
no período noturno, está enfrentando dificuldades em algumas matérias, o que tem
preocupado sua mãe e seus professores. Como ele está trabalhando como
estagiário em um escritório de contabilidade, sua permanência nesse emprego
depende muito de suas notas na escola, principalmente na matéria de matemática.
Como
trabalha até as 16 horas, Rui já estava em casa, preparando-se para mais uma
noite de estudos na escola. Parecendo cansado, sentou-se no sofá da sala. Sua
mãe, dona Mari, percebendo a chegada do filho, foi até a sala para falar com
ele.
—
Rui, já é a terceira vez nesta semana que te vejo largado aí no sofá, olhando
pro teto como se ele tivesse as respostas pra tua vida. — Mari colocou as mãos
na cintura e suspirou. — O que tá acontecendo?
Rui
bufou, sem desviar os olhos do teto.
— Nada, mãe. Só tô cansado.
—
Cansado de quê? De não fazer o que precisa? Porque, pelo que eu sei, a escola
tá um caos, e o estágio tá na corda bamba. — Mari puxou uma cadeira e sentou-se
à sua frente, cruzando os braços. — A professora de matemática me ligou ontem.
Rui
imediatamente sentou-se, alarmado.
—
Ela te ligou? Por quê?
—
Porque você tá atrasado com os trabalhos, com notas lá embaixo e, pelo jeito,
sem vontade de melhorar. Ela foi bem clara: se você não tomar uma atitude
agora, vai perder o ano. E você sabe o que isso significa, né?
Rui
abaixou a cabeça, apertando as mãos.
—
Perder o estágio... — murmurou, com a voz quase sumindo.
—
Exatamente. — Mari inclinou-se um pouco, os olhos fixos no filho. — E não é só
o estágio, Rui. É a confiança das pessoas que acreditaram em você pra estar lá.
A sua escola apostou em você, a empresa apostou, e eu... eu sempre aposto em
você. Mas tá na hora de você começar a apostar também.
—
Mãe, eu tô tentando, tá bom? Mas parece que é muita coisa ao mesmo tempo. As
matérias, o estágio, os amigos... É como se tudo estivesse desmoronando, e eu
não sei por onde começar. — Rui passou a mão pelos cabelos, frustrado.
Mari
respirou fundo, tentando manter a calma.
— Sabe o que eu vejo, Rui? Um garoto inteligente, cheio de potencial, mas que tá deixando o medo de errar dominar. Você tá tão preocupado com o que pode dar errado que nem começa a fazer o que precisa para dar certo.
—
Não é só medo, mãe. É que... eu não sei se consigo. Todo mundo parece tão bom
em tudo. E eu... só fico pra trás. — Rui balançou a cabeça. — É como se eu não
fosse suficiente.
—
Rui, suficiente pra quem? Pra quê? Você tá se comparando com todo mundo, mas
esqueceu de olhar pra quem realmente importa: você. — Mari colocou a mão no
ombro dele. — Deixa eu te contar uma coisa. Quando eu era jovem, também tive
medo de não dar conta. Mas aí percebi que o único jeito de superar isso era
agir, mesmo sem saber se ia dar certo.
Rui
levantou os olhos, atento.
—
Tipo o quê? O que você fez?
—
Trabalhei no que era preciso, estudei nas horas vagas e usei as dúvidas dos
outros como combustível. Sabe o que mais me motivava? Pensar na cara das
pessoas que duvidavam de mim quando eu provasse que estavam erradas. — Ela
sorriu. — E sabe o que é melhor? O gostinho de surpreender não é pelos outros,
Rui. É por você mesmo.
—
Tá, mas como eu começo? Porque parece que tá tudo bagunçado e não tem jeito de
organizar. — Rui suspirou. — Eu não quero perder o estágio, mas... e se eu não
conseguir melhorar na escola? A professora fica lá na frente falando, falando,
e as coisas não entram na minha cabeça. Ela falando parece fácil, mas, na hora
em que vou fazer, embaralha tudo e não consigo resolver.
—
Começa pelo básico, filho. Um passo de cada vez. Hoje, senta com seus livros,
define um horário de estudo e cumpre. Amanhã, faz o mesmo. No estágio, entrega
mais do que esperam. Mostra que você tá ali pra crescer. E, quando der vontade
de largar tudo, lembra: as pessoas que mais brilham são as que aprenderam a
organizar o caos. — Ela segurou seu rosto com carinho. — Você pode não ver
agora, mas eu vejo. E eu sei que você é capaz.
— Quanto à professora — Mari continuou —, falei com ela sobre suas dificuldades, e ela disse que vai te ajudar. Hoje, fala pra ela onde é que está seu problema, pede ajuda, vai atrás. Não espera que as pessoas adivinhem seus problemas, procure quem pode resolvê-los. Nesse caso, é a sua professora de matemática que pode te dar uma luz. Quanto aos amigos, eu sei o quanto é legal ficar horas no videogame ou jogando conversa fora, mas como tantas outras coisas, é preciso estabelecer limites, focar no que é mais importante para o teu futuro. Vocês têm o final de semana para isso. Não é todo dia sair do emprego, passar na casa do Luís ou do Carlos, e ficar jogando até a hora de se arrumar para a escola.
—
E se eu errar? — Rui perguntou, hesitante.
—
Aí você levanta e tenta de novo. Rui, errar faz parte. Não é o erro que define
quem você é, mas como você reage a ele. Agora, olha pra frente e decide: você
vai ser o garoto que desistiu ou aquele que surpreendeu? Assim como tem algumas
pessoas que torcem por você, tem muito mais só esperando você cair para zombar
e apontar o dedo. Então, meu filho, começa a agir pra que, no final, quem
esteja sorrindo seja você.
Ele
ficou quieto por um momento, encarando o chão. Depois, respirou fundo e
assentiu.
—
Eu vou tentar, mãe. Mas não só pelos outros. Por mim e por você.
Mari
sorriu, levantando-se e bagunçando o cabelo dele.
—
Isso, meu filho. Tá na hora de mostrar pra todo mundo – e, principalmente, pra
você mesmo – do que você é capaz.
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A
conversa entre Mari e Rui reflete uma realidade que muitos jovens enfrentam: a
pressão das expectativas, a confusão entre responsabilidades e o medo de
falhar. Mas, como Mari disse, a chave para superar esses desafios é a ação.
Quando
tudo parece fora de controle, é essencial dar o primeiro passo, mesmo que
pequeno. O medo de errar não pode ser maior do que a vontade de acertar. Rui
aprendeu que surpreender não é sobre impressionar os outros, mas sobre
descobrir a força que existe dentro de nós.
Se
você também sente que está no meio de um turbilhão, pare e organize o caos. Dê
um passo de cada vez. E lembre-se: as pessoas podem duvidar de você, mas o que
realmente importa é a sua decisão de acreditar e agir. Surpreenda – não por
eles, mas por você.
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