Dois amigos de infância,
Ana e Lucas, estavam sentados no banco de uma praça, observando o céu. As
nuvens estavam densas, pareciam quase sólidas, como se pudessem ser tocadas.
Havia um silêncio leve entre os dois, até que Ana, com o olhar distante,
quebrou o momento:
—
Você já teve a sensação de que a vida tá meio… parada? — perguntou ela,
apoiando os cotovelos nos joelhos e entrelaçando as mãos.
Lucas
olhou para ela, sem entender direito.
— Como assim, parada?
—
Tipo, parece que tudo o que a gente faz é só um ciclo. Estudo, trabalho, a
mesma coisa todo dia. — Ela deu um suspiro profundo. — Às vezes, eu me
sinto presa, como se o céu estivesse lá em cima, mas eu não pudesse chegar
perto, sabe?
Lucas
riu um pouco, mas não de deboche, mas como alguém que também se identificava
com aquilo.
—
Sei bem o que é isso. — Ele parou um segundo antes de continuar. — Acho
que é porque a gente para de sonhar, Ana.
Ela
franziu a testa.
— Parar de sonhar?
— É, tipo… lembra quando a gente era criança? Qualquer
coisa era possível. A gente queria ser astronauta, viajar pra Marte, sei lá.
Tudo era um sonho enorme, e a gente acordava todo dia com uma nova ideia
maluca. Mas aí a gente cresce, e parece que a vida vai apertando a gente, como
se fosse tirando essas coisas aos poucos. E, sem sonho, até o céu vira uma
prisão.
Ana
ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. Ela olhou para o céu novamente,
imaginando as nuvens como grades. Até parecia que tudo fazia sentido agora.
—
Sabe que você tem razão? — disse ela, pensativa. — Eu deixei de
sonhar faz tempo… não porque eu quis, mas porque parece que a vida empurra a
gente pra uma rotina que sufoca.
Lucas
sorriu de lado, concordando com um aceno de cabeça.
— Mas isso não significa que a gente não possa voltar a
sonhar. A prisão só existe quando a gente esquece o que quer de verdade. Às
vezes, só precisamos encontrar aquele sonho, sabe? Pode ser qualquer coisa,
desde aprender algo novo até mudar o rumo da nossa vida inteira. O importante é
ter algo que faça a gente levantar da cama com vontade.
Ana
olhou para ele e deu um sorriso fraco, mas sincero.
— E se eu não souber por onde começar?
Lucas
deu de ombros, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
—
Aí você inventa. Não precisa ser o sonho perfeito, nem precisa fazer sentido
pra todo mundo. Só tem que fazer sentido pra você. — Ele olhou para o céu e
depois para ela. — Porque a prisão só existe se você deixar de buscar algo
lá fora.
Ana
suspirou, mas dessa vez, havia algo novo no ar. Um brilho de esperança que ela
não sentia há tempos.
— Acho que preciso revisitar alguns sonhos, então.
—
Pode apostar. E quem sabe, dessa vez, a gente até quebra essas grades. —
Lucas sorriu largamente.
O
céu ainda estava lá, com suas nuvens grossas. Mas agora, para Ana, ele não
parecia mais tão inalcançável. As grades eram só uma metáfora… e os sonhos eram
a chave para abrir qualquer prisão.
A
verdade é que sonhar é ter esperança. E quem tem esperança, nunca está preso,
mesmo que o céu pareça distante. Afinal, a liberdade não está no espaço que
você ocupa, mas no que você é capaz de imaginar e de lutar pra alcançar.
Volta
lá, naquela ideia antiga que você deixou no fundo da gaveta, ou começa a pensar
em algo novo. Porque, no fim, quem não sonha não vive, só sobrevive. E você
merece muito mais que isso. Ou não?
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