No
topo da montanha, Gustavo parou por um instante para recuperar o fôlego. Seus
pulmões queimavam, mas ele sorria. Ao lado dele, Lia ajustava a mochila nas
costas e olhava ao redor, sem acreditar na vista à sua frente. O vale que se
estendia abaixo parecia infinito, com o sol se pondo lentamente, tingindo o céu
de laranja e rosa.
—
Cara, isso aqui é incrível! — disse Lia, ainda ofegante, mas encantada.
— Valeu cada gota de suor.
Gustavo
riu, ainda se apoiando no bastão de trilha.
— Eu te disse que ia ser uma experiência e tanto. E pensar que você quase desistiu lá embaixo, hein?
Lia
fez uma careta. Ela tinha realmente pensado em voltar quando a subida ficou
mais difícil. Mas algo em Gustavo, naquela animação que ele mostrava toda vez
que falava de suas aventuras, a fez seguir em frente.
—
Ah, você sabe como sou — respondeu ela, tentando disfarçar. — Sempre
achei que não precisava dessas coisas malucas pra ser feliz. Mas… acho que eu
estava errada.
—
E o que você pensava que precisava, então? — perguntou Gustavo, se
virando para ela, curioso.
Lia
deu de ombros, olhando para o horizonte.
—
Sei lá. Acho que eu achava que, sei lá, tinha mais coisas, sabe? Tipo, o
último celular, aquela bolsa que todo mundo quer, essas coisas. Só que, depois
dessa subida, percebi que nada disso dá a mesma sensação que estar aqui, agora,
com essa vista, com você… Isso não tem preço.
Gustavo
sorriu, satisfeito com a resposta dela. Ele entendia o que ela queria dizer. Já
fazia tempo que ele mesmo havia descoberto que o valor das coisas não estava
nos objetos que compravam, mas nos momentos em que viviam.
—
Pois é, Lia. — Gustavo se sentou em uma pedra e apontou para o vale. — A
gente pode ter tudo que o dinheiro compra, mas o que sobra pra contar no final
são as aventuras, as histórias. E não as coisas que ficam guardadas na estante.
Lia
ficou em silêncio por um tempo, absorvendo as palavras dele. O vento soprava
suave, como se o mundo todo estivesse em paz naquele instante. Ela então olhou
para Gustavo e riu.
— Quem diria que você, doido por adrenalina, seria tão
filósofo!
—
Filosofia de trilheiro — ele brincou. — Mas, sério, Lia, imagina
contar para os nossos filhos que subimos essa montanha. Eles não vão querer
saber qual celular a gente usava em 2024, mas com certeza vão querer ouvir essa
história.
Lia
suspirou, olhando para o vale de novo.
—
É, eu entendi. Acho que já sei como quero viver daqui pra frente. Menos
coisas, mais histórias. Mais momentos assim.
—
Isso aí! — Gustavo concordou, levantando a mão para um “toque aqui”. — Agora,
sim, você tá pegando o espírito da coisa!
Os
dois riram juntos, enquanto o sol finalmente desaparecia atrás das montanhas.
Aquele momento, a subida, as conversas no caminho, as dúvidas, tudo isso
ficaria marcado na memória deles. Não como algo para mostrar, mas como algo
para contar. E Lia sabia que, ao descer aquela montanha, estaria carregando uma
história que valia muito mais do que qualquer coisa que o dinheiro pudesse
comprar.
Gustavo
começou a montar a barraca que usariam para passar a noite, pois já estava
tarde demais para descer a montanha.
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