terça-feira, 8 de outubro de 2024

Preencha sua vida com aventuras e não coisas. Tenha histórias para contar e não coisas para mostrar.

 
            No topo da montanha, Gustavo parou por um instante para recuperar o fôlego. Seus pulmões queimavam, mas ele sorria. Ao lado dele, Lia ajustava a mochila nas costas e olhava ao redor, sem acreditar na vista à sua frente. O vale que se estendia abaixo parecia infinito, com o sol se pondo lentamente, tingindo o céu de laranja e rosa.

Cara, isso aqui é incrível! — disse Lia, ainda ofegante, mas encantada. — Valeu cada gota de suor.

Gustavo riu, ainda se apoiando no bastão de trilha.

Eu te disse que ia ser uma experiência e tanto. E pensar que você quase desistiu lá embaixo, hein?

Lia fez uma careta. Ela tinha realmente pensado em voltar quando a subida ficou mais difícil. Mas algo em Gustavo, naquela animação que ele mostrava toda vez que falava de suas aventuras, a fez seguir em frente.

Ah, você sabe como sou — respondeu ela, tentando disfarçar. — Sempre achei que não precisava dessas coisas malucas pra ser feliz. Mas… acho que eu estava errada.

E o que você pensava que precisava, então? — perguntou Gustavo, se virando para ela, curioso.

Lia deu de ombros, olhando para o horizonte.

Sei lá. Acho que eu achava que, sei lá, tinha mais coisas, sabe? Tipo, o último celular, aquela bolsa que todo mundo quer, essas coisas. Só que, depois dessa subida, percebi que nada disso dá a mesma sensação que estar aqui, agora, com essa vista, com você… Isso não tem preço.

Gustavo sorriu, satisfeito com a resposta dela. Ele entendia o que ela queria dizer. Já fazia tempo que ele mesmo havia descoberto que o valor das coisas não estava nos objetos que compravam, mas nos momentos em que viviam.

Pois é, Lia. — Gustavo se sentou em uma pedra e apontou para o vale. — A gente pode ter tudo que o dinheiro compra, mas o que sobra pra contar no final são as aventuras, as histórias. E não as coisas que ficam guardadas na estante.

Lia ficou em silêncio por um tempo, absorvendo as palavras dele. O vento soprava suave, como se o mundo todo estivesse em paz naquele instante. Ela então olhou para Gustavo e riu.

— Quem diria que você, doido por adrenalina, seria tão filósofo!

Filosofia de trilheiro — ele brincou. — Mas, sério, Lia, imagina contar para os nossos filhos que subimos essa montanha. Eles não vão querer saber qual celular a gente usava em 2024, mas com certeza vão querer ouvir essa história.

Lia suspirou, olhando para o vale de novo.

É, eu entendi. Acho que já sei como quero viver daqui pra frente. Menos coisas, mais histórias. Mais momentos assim.

Isso aí! — Gustavo concordou, levantando a mão para um “toque aqui”. — Agora, sim, você tá pegando o espírito da coisa!

Os dois riram juntos, enquanto o sol finalmente desaparecia atrás das montanhas. Aquele momento, a subida, as conversas no caminho, as dúvidas, tudo isso ficaria marcado na memória deles. Não como algo para mostrar, mas como algo para contar. E Lia sabia que, ao descer aquela montanha, estaria carregando uma história que valia muito mais do que qualquer coisa que o dinheiro pudesse comprar.

Gustavo começou a montar a barraca que usariam para passar a noite, pois já estava tarde demais para descer a montanha.

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