A
turma estava inquieta naquele dia. A aula de Filosofia estava quase acabando,
mas a professora Rosane, sempre com seu jeito descontraído, percebeu que aquele
era o momento ideal para uma conversa diferente. Ela se apoiou na mesa e olhou
para os alunos, que ainda cochichavam entre si.
Lucas,
sentado na última fileira, levantou a mão. — Acho que o medo segura a gente,
né? Tipo, a gente quer fazer uma coisa, mas fica travado.
Rosane
assentiu com a cabeça. — Exatamente, Lucas. Medo é uma trava, muitas vezes
boba, mas que a gente carrega sem perceber. Só que… — ela fez uma pausa,
observando os rostos atentos à sua volta — … e a coragem? Como vocês lidam
com ela?
A
turma ficou em silêncio por alguns segundos, e foi então que Sofia, uma das
alunas mais participativas, respondeu: — Coragem é importante, claro, mas às
vezes a gente não sente que tem o suficiente, sabe? Como se o medo fosse maior.
—
Isso mesmo, Sofia. Todo mundo sente isso. Mas eu vou contar uma coisa para
vocês. — Rosane se endireitou e passou a caminhar pela sala. — Vocês
podem até ter medos bobos, e vão ter muitos ao longo da vida. Medo de errar,
medo do que os outros vão pensar, medo de não serem bons o suficiente. Esses
medos fazem parte do nosso pacote de ser humano. Mas… — ela deu uma pausa
para dar mais ênfase — nunca deixem de ter coragens absurdas.
Os
alunos se entreolharam, curiosos com o que viria a seguir.
—
O que eu quero dizer com isso? — Rosane continuou, gesticulando com as
mãos. — Coragem absurda é aquela que faz vocês darem um passo à frente,
mesmo quando estão morrendo de medo. Sabe aquele frio na barriga antes de tomar
uma grande decisão? É a coragem que faz vocês seguirem em frente, mesmo quando
parece que tudo dará errado.
João,
que estava quieto até então, levantou a mão e perguntou: — Mas como a gente
faz isso, professora? Tipo, como é que a gente encontra essa coragem absurda?
Rosane
sorriu. — Boa pergunta, João. A verdade é que ela não aparece do nada. Vocês
a constroem a cada passo, mesmo com medo. É tentar algo novo, aceitar uma
oportunidade que parece grande demais. É correr atrás dos sonhos, mesmo que
todo mundo ao redor diga que é impossível. A coragem não é a ausência do medo,
mas sim a força de continuar apesar dele.
A
turma ouviu atentamente. Rosane sabia que tinha tocado em algo importante.
—
O que vocês precisam entender — ela disse, voltando a se apoiar na mesa
— é que o medo, por mais que seja desconfortável, não pode ser maior que a
vontade de tentar. E não se enganem, ninguém aqui está dizendo ser fácil.
Encarar os próprios medos exige muito. Mas é isso que faz a diferença. Se fosse
fácil, qualquer um faria, não é?
Os
alunos concordaram, alguns pensativos, outros claramente inspirados.
—
Então, pessoal, a lição de hoje é simples: medos bobos todos temos, mas não
deixem que eles apaguem a coragem absurda que existe dentro de vocês. — Ela
fez uma pausa final e, com um sorriso, completou: — Lembrem-se: é a coragem
que vai levar vocês para onde os sonhos de vocês moram.
O
sinal tocou e, aos poucos, os alunos começaram a se levantar. Enquanto a turma
saía da sala, dava para perceber que aquela conversa havia deixado algo no ar,
uma ideia que cada um levaria consigo. Rosane observou com um leve sorriso.
Sabia que plantara uma semente.
Enquanto
arrumava seus materiais, Rosane observou os alunos saírem da sala, alguns
conversando baixo, outros mais pensativos. Ela sabia que aquela aula não era só
sobre filosofia, mas sobre a vida. O que ela realmente esperava deles era que
carregassem aquela mensagem para além das paredes da escola. Não queria que
fossem apenas bons alunos, mas jovens capazes de enfrentar o mundo com coragem,
mesmo quando o medo se apresentasse. Esperava que, dali em diante, cada um
deles se permitisse errar, aprender e crescer. Porque, no fundo, ela sabia que
a verdadeira mudança começa quando deixamos o medo de lado e abraçamos a
coragem absurda que nos impulsiona a fazer o que parece impossível.
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