Mário
assistiu à missa como fazia todos os domingos pela manhã, mas naquele dia em
especial, estava meio aéreo, parecia um tanto desconcertado. Padre Paulo, que o
conhecia desde pequeno, percebeu haver algo diferente no jovem, que costumava
esbanjar alegria. Ao término da missa, Mário permaneceu sentado, sozinho, de
cabeça baixa, como se estivesse rezando. Padre Paulo, com seu jeito sereno e
sempre preocupado com seus paroquianos, se aproximou do jovem para tentar
descobrir o que estava acontecendo.
— Bom dia, Mário — disse o sacerdote.
O
padre então tomou a frente da conversa.
— Meu filho, percebi que você está diferente hoje. Não cantou e nem acompanhou as orações. Seu corpo estava aqui na igreja, mas seus pensamentos estavam lá sabe-se onde. Posso te ajudar?
Mário
respirou fundo, se ajeitou no banco e começou a falar.
— Padre, eu… eu me sinto numa encruzilhada, sem saber qual
o rumo da minha vida. Tenho só 17 anos, mas, ao mesmo tempo, parece que nada
faz sentido. Me sinto perdido, como se tudo estivesse meio vazio…
O
padre Paulo ouviu com paciência. Mário era um jovem que sempre participava
ativamente das missas e transmitia uma sensação de uma alma sensível e curiosa.
Após alguns momentos de silêncio, o sacerdote começou a falar, com a voz calma.
— Sabe, Mário, às vezes a vida nos parece sem sentido
porque estamos olhando para o lado errado. Vivemos tão preocupados em fazer
tudo “certo”, em agradar aos outros, que esquecemos de algo fundamental: olhar
para dentro.
Mário
o observava, atento, enquanto o padre continuava.
— Vou te falar algo que talvez pareça simples, mas que é
poderoso. Acredite: hoje é o dia. Sim, hoje é o dia de se apaixonar pela sua
vida. Isso significa se apaixonar por quem você é, pela sua família, pelos seus
sonhos e pela beleza que existe ao seu redor.
O
jovem o olhou, um pouco surpreso, tentando entender aquelas palavras.
— Se apaixonar pela minha vida? — Mário perguntou, com uma mistura de curiosidade e ceticismo. — Mas eu gosto de viver padre. Apenas estou sentindo que a vida parece estar brincando comigo. E isso tem me incomodado muito.
—
Primeiro, começando por você — o sacerdote sorriu. — Já olhou para si
com gentileza? Muitas vezes, passamos tanto tempo nos criticando que esquecemos
de apreciar quem somos. Cada detalhe seu, Mário, suas qualidades, seus
defeitos, fazem de você uma pessoa única. Hoje, tente olhar no espelho e se dar
uma chance. Aceite-se do jeito que você é agora, sem cobranças. Esse é o
primeiro passo.
Mário
baixou os olhos, pensativo. Padre Paulo então prosseguiu.
— E depois, olhe para a sua família. Sei que às vezes eles
podem não entender você, podem até falhar, mas, no fundo, são as pessoas que
sempre vão estar ao seu lado. A família é como a base da sua vida, uma raiz que
você pode até ignorar, mas que sempre vai te sustentar. Já pensou em agradecer
a eles por estarem ali?
Mário
assentiu, sentindo que as palavras do sacerdote tocavam fundo.
—
Mas e os meus sonhos, padre? — perguntou ele. — Sinto que são
bobagens… São coisas tão distantes que nem sei se vale a pena sonhar.
—
Ah, Mário, os sonhos… — o padre sorriu, com os olhos brilhando. — Nunca
são bobagens. Se eles fazem seu coração bater mais forte, então já valem a
pena. Hoje é o dia para você dar uma chance a eles, por menores ou distantes
que pareçam. Os grandes passos começam com os pequenos movimentos. Que tal dar
o primeiro passo hoje, mesmo que seja apenas os escrever num papel?
—
Nunca havia pensado nisso — confessou o jovem, meio sem jeito.
O
padre Paulo o olhou, e em seguida, disse com suavidade:
— E, por último, quero que olhe para a vida, Mário. Ela é
cheia de altos e baixos, sim, mas está aqui agora, bem na sua frente. Às vezes,
nos perdemos tanto em preocupações e em ansiedades que esquecemos de notar as
pequenas coisas. O cheiro do café, o sorriso de um amigo, a luz do sol… esses
são pequenos presentes que Deus nos dá todos os dias. Enxergue isso e você descobrirá que cada momento, por
mais simples que seja, tem o seu valor.
Mário
suspirou, sentindo as palavras do sacerdote acalmarem, pouco a pouco, a
tempestade que havia dentro dele.
—
Então, hoje é o dia, não é? — disse Mário, finalmente parecendo
compreender.
— Exatamente, Mário. Hoje é o dia de você se apaixonar por si mesmo, pela sua família, pelos seus sonhos e pela vida. Amanhã, a gente não sabe o que ele vai trazer. Mas o hoje… o hoje está nas suas mãos. Não espere pelo amanhã.
Com
um sorriso renovado e o coração mais leve, Mário se levantou, agradeceu ao padre
e sumiu pela porta da igreja. A crise ainda estava ali, mas agora ele tinha um
propósito, uma direção. Afinal, como o padre Paulo dissera, hoje era o dia — e
ele estava pronto para começar a vivê-lo.
A
história de Mário e do padre Paulo nos lembra que, muitas vezes, as respostas
que buscamos estão em nós mesmos, esperando apenas que paremos para ouvir. Mário
estava perdido, sentindo o peso de dúvidas e inseguranças comuns para quem está
começando a descobrir o mundo e a si mesmo. Através das palavras do padre, ele
percebeu que o caminho para encontrar sentido na vida começa por se olhar com
carinho, valorizar quem está ao seu redor e se permitir sonhar sem medo de
errar. Essa é uma lição para qualquer pessoa que se sinta confusa ou
desmotivada: a vida pode ganhar novos sentidos quando você se abre para ela.
A
mensagem do texto também fala sobre o valor do “hoje”. Em vez de adiar os
sentimentos e sonhos, é no agora que temos a chance de tomar pequenas atitudes
que podem transformar nossa visão de mundo. Olhar para as pequenas belezas,
como o afeto da família, a simplicidade do dia a dia e a força dos próprios
sonhos, ajuda a construir uma vida mais leve e cheia de propósito. A moral é
simples, mas poderosa: o presente é uma oportunidade de se reconectar consigo
mesmo, com os outros e com o que faz seu coração bater mais forte.
Por
fim, a história nos ensina que se apaixonar pela vida significa aceitar a
própria imperfeição e entender que o caminho é feito de pequenas descobertas.
Convido você, que leu esse texto, a refletir sobre o valor que dá a cada
momento e a abrir os olhos para tudo aquilo que, por ser tão cotidiano, às
vezes passa despercebido. Ame-se, antes de tudo!
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