quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Se você tiver coragem de deixar de ser o que é hoje, corre o risco de se transformar naquilo que deseja ser amanhã.

 
            A sala estava cheia, e a atenção da turma oscilava entre o tédio e a expectativa. Era só mais uma palestra na escola, coisa que acontecia uma vez por mês para a turma do terceiro ano. Último ano na escola. 

             Mas o palestrante que subiu ao palco parecia diferente, era um jovem de uns 35 anos, vestindo camiseta, bermuda e chinelos de dedo,  e parecia que ele não estava lá para falar de política,  religião ou sobre notas. Ele abriu um sorriso meio misterioso, sentou-se no chão, na beira do palco e começou sem rodeios.

— Olá, pessoal. Meu nome é Carlos. Não vou falar meu sobrenome porque vocês não irão entender. Eu mesmo levei anos para entender o porquê de tantas consoantes e quase nenhuma vogal. Até hoje acho que não o pronuncio corretamente. Aliás, tenho certeza de que não.

A turma toda riu, exatamente como ele havia previsto. A intenção era descontrair, tirar a tensão do estranho, do desconhecido. Levantou-se e fez uma pergunta:

— Vocês sabem qual é o maior risco que a gente corre na vida?

Ele perguntou, olhando cada rosto na plateia e esperando alguma reação. A maioria deu de ombros, outros riram, mas ele continuou:

— É o risco de nunca mudar, de ficar parado, de não ir atrás do que a gente quer de verdade. Não ir atrás dos nossos sonhos.

A turma ficou quieta, meio desconfiada, tentando entender onde ele queria chegar.

Vou contar para vocês uma história — disse ele, como se fosse bater um papo entre amigos.

— Há alguns anos, eu era só um cara perdido. Achava que sabia quem eu era, mas, na real, estava tentando ser o que os outros queriam que eu fosse. Meus pais queriam que fosse médico, profissão do meu avô. E lá estava eu, estudando medicina, quando, na verdade eu sempre me interessei pela comunicação.

Ele fez uma pausa para tomar um pouco de água, pois estava com a garganta seca. Talvez resultado da noite anterior, mas isso é outra história, que não seria o tema da palestra.

— Tinha minha rotina, meus amigos de sempre, e até minhas desculpas favoritas, como: “Não dá para mudar agora”, “É melhor ficar seguro”… muitos de vocês sabem como isso funciona, não é mesmo?

A turma balançou a cabeça em concordância. Aquelas desculpas eram velhas conhecidas de todos.

— Um dia, alguém me disse uma frase que mudou tudo para mim. Ela era assim: “Se você tiver coragem de deixar de ser o que é hoje, corre o risco de se transformar naquilo que deseja ser amanhã.” Aquela frase ficou martelando na minha cabeça por semanas. E comecei a me perguntar: o que eu estava perdendo por ter tanto medo de mudar?

Ele deu uma pausa, deixando as palavras ecoarem pela sala.

— Então, decidi arriscar. Foi fácil? Nem um pouco. Fiquei com medo de dar errado, medo de ser julgado, medo de me arrepender. Mas sabia que, se eu continuasse onde estava, minha vida não ia mudar. Decidi que o medo não ia me parar. Tranquei a faculdade de Medicina e entrei na de Comunicação. 

Um dos alunos levantou a mão, interrompendo:

— Mas e se desse errado? Tipo, e se você se arrependesse de ter mudado?

O palestrante riu.

— Boa pergunta! É claro que pensei nisso. Todo mundo pensa. Mas vou te contar uma coisa: até quando a gente erra, estamos aprendendo. O que descobri foi que, cada vez que eu me deixava mudar, eu ganhava uma parte nova de mim mesmo. E cada vez que eu ficava na zona de conforto, eu continuava preso no mesmo lugar, não crescia.

Ele caminhou até o fundo do palco, voltou e fez outra pergunta:  

— Alguém aqui quer ficar preso no mesmo lugar para sempre?

A turma fez um silêncio pesado. Todos ali já tinham sentido essa sensação de estagnação, de estar preso a algo que não os deixava crescer.

Então, — ele continuou — o que estou dizendo é que o que vocês desejam ser amanhã depende de quem vocês são ou fazem hoje. Às vezes, a gente precisa abrir mão de uma versão antiga nossa para a nova poder aparecer. Não é fácil, mas é aí que a mágica acontece.

A turma o encarava, agora totalmente envolvida. O palestrante olhou para eles como se estivesse olhando diretamente para cada um deles, ajeitou o microfone na gola da camiseta e disse:

— Vou ser honesto com vocês. Não é todo mundo que vai te apoiar quando você resolver mudar. Algumas pessoas vão te chamar de louco, vão te dizer que é mais seguro fazer o que você já conhece, que mudar é arriscado, entre tantas outras coisas. Mas eu lhes pergunto: o que é mais importante? Ser aceito por quem só conhece a versão de quem você é hoje ou se transformar na pessoa que você sonha em ser amanhã e conquistar teus objetivos?

E recebeu um sinal do diretor da escola que o tempo estava acabando. 

— Então, para finalizar, aqui vai o meu convite: saiam da zona de conforto. Deixem quem vocês são hoje para buscar quem querem ser amanhã. A vida não espera, e o tempo não volta. Tudo o que vocês precisam para mudar já está aí dentro, só esperando vocês terem coragem de abrir a porta. Permita-se o risco. Mudar dá medo, mas não mudar é o que normalmente causa arrependimentos. E acreditem: o arrependimento pesa muito mais que o erro.

Sob aplausos da turma, Carlos se despediu e se retirou, esperando que tenha conseguido incutir um pouco de coragem em cada um dos que estavam ali naquela sala, quer seja para mudar ou assumir o rumo que suas vidas iriam tomar a partir da formatura no final do ano. 

E você já realizou as mudanças necessárias para atingir teus objetivos? Enquanto estivermos respirando ainda há tempo para mudar.

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