Era
um domingo chuvoso, e Luís, 15 anos, estava trancado em seu quarto, como fazia nas
últimas semanas, procurando alguém para conversar na internet. Ele estava
passando por alguns problemas na escola, na família e se afastando de seus
amigos.
—
Oi, Luís. Você tá aí? Tá tudo bem?
—
Não tá tudo bem, não. Acho que nunca esteve.
—
Quer falar sobre isso?
—
Não sei... talvez. É só que... eu tô cansado, sabe? De tudo.
— Cansado de quê exatamente? Às vezes, falar ajuda a organizar os pensamentos.
Luís
deu um tempo, porque não estava acostumado a se abrir com ninguém, mas Elisa,
por estar longe, talvez o escutasse.
—
Cansado de tentar. Parece que nada do que eu faço dá certo. Eu tento ser bom
com as pessoas, mas ninguém repara. Tento ser forte, mas sempre desabo. Parece
que eu não faço diferença nenhuma nesse mundo.
—
Ei, calma, garoto. Você faz, sim. Mesmo que você não veja agora, sua existência
importa. Sua presença faz diferença, mesmo que você não perceba. Por que tá
sentindo isso tão forte agora?
—
Porque eu não aguento mais. Eu fico aqui pensando... e se eu sumisse? Será que
alguém ia sentir minha falta?
—
Claro que ia! Sempre tem alguém que te ama, que se importa. Mesmo que você ache
que não. Às vezes, essas pessoas estão mais perto do que você imagina. Você já
falou com alguém sobre isso?
—
Não. Quem iria me ouvir? Parece que ninguém tem tempo. Todo mundo tá ocupado
demais vivendo suas vidas perfeitas.
—
Vida perfeita? Isso não existe. Todo mundo luta com algo, mesmo que não mostre.
Mas isso não diminui a sua dor, eu sei. Me escuta... essa sensação de que você
tá sozinho é uma mentira que sua cabeça tá tentando te convencer.
—
Então por que dói tanto? Parece que não tem saída.
—
Porque sua mente tá sobrecarregada. Quando a gente tá no meio de um furacão,
não consegue ver que o céu ainda tá lá, acima das nuvens. O que você tá
sentindo agora é temporário. Eu sei que parece eterno, mas não é.
Luís
saiu do quarto por um instante, pensou em falar com seus pais, mas eles estavam
tão entretidos na televisão e nos celulares que nem perceberam sua presença.
Então voltou para o quarto, de onde acreditava que nunca deveria ter saído.
No
computador, aparecia uma nova mensagem de Elisa:
—
Ei, Luís, cadê você?
Luís
se sentou novamente e respondeu:
—
Estou aqui. Sobre o que você disse, você tem certeza disso? Porque parece que
esse vazio nunca vai embora.
Elisa
ficou feliz por Luís ter voltado.
—
Absoluta. Já me senti assim também. Achei que ninguém ia notar se eu
desaparecesse. Mas sabe o que descobri? Tinha gente que notava, sim. Gente que
precisava de mim. Você já olhou ao redor? Talvez não esteja vendo, mas tem
gente que ficaria muito triste sem você.
—
Eu nem sei quem são essas pessoas. Parece que eu tô só atrapalhando todo mundo.
Em casa, sou invisível. Meus pais nem notaram que faz uma semana que estou
trancado no quarto, que não vou à escola nem faço as refeições com eles.
—
Sabe, Luís, às vezes, as pessoas que mais se importam são as que menos sabem
como demonstrar. Pode ser sua família, um amigo que você não fala faz tempo, ou
até alguém que você nem imagina. Já reparou como um pequeno gesto pode salvar o
dia de alguém? Você é esse gesto pra alguém. Acredite.
—
Eu não sei... Eu só queria que essa dor sumisse. E eu só vejo uma saída: acabar
com tudo, dar um final. Não vou fazer falta mesmo.
—
Ela vai sumir. Mas você precisa dar tempo ao tempo. E, mais importante, precisa
dar a si mesmo uma chance. Não desista de você. O que você tá vivendo agora não
define sua vida inteira. É só um capítulo.
—
Um capítulo que parece infinito, sem importância.
—
Eu entendo. Mas até os capítulos ruins terminam. E sabe o que vem depois? Um
recomeço. Não tire a chance de viver o que vem depois. Promete pra mim que vai
tentar? Que vai buscar ajuda? Falar com alguém próximo?
—
Eu não sei se consigo.
—
Você consegue, sim. Você é muito mais forte do que pensa. Só o fato de você
estar aqui, conversando comigo, já mostra isso. Já pensou em procurar alguém
que possa te ajudar de verdade? Um psicólogo, talvez?
—
Já pensei, mas nunca tive coragem.
—
Então, talvez, seja hora de tentar. Ninguém merece carregar isso sozinho. Você
merece se sentir melhor, merece ser feliz. E, se precisar de alguém pra te
lembrar disso, eu tô aqui. Mesmo sendo só alguém do outro lado da tela, eu me
importo. E eu sei que outras pessoas também se importam.
—
Obrigado por ouvir. De verdade. Eu tava precisando.
—
Sempre que precisar, fala comigo. E, por favor, promete que vai dar uma chance
pra si mesmo. O mundo precisa de você. Mesmo que agora você não acredite, um
dia vai perceber o quanto é importante para alguém.
—
Tá bom. Eu prometo. Vou tentar.
—
É isso. Tentar é tudo o que você precisa fazer agora. Um passo de cada vez. E
nunca, nunca desista de você.
.-.-.-.-.
Esse
diálogo nos mostra algo muito importante: quando estamos no fundo do poço, é
fácil acreditar que estamos sozinhos, mas não estamos. Sempre há alguém que se
importa, alguém que amaria te ver superando tudo isso. Às vezes, essa pessoa
pode ser um amigo, um familiar ou até um desconhecido que cruza nosso caminho
no momento certo.
Um recado para você que está passando por isso:
Se
você está lendo isso e se sentindo assim, lembre-se: sua vida tem valor. Você
faz diferença no mundo, mesmo que não perceba. Cada um de nós tem um jeito e um objetivo no mundo. Você só precisa achar o seu lugar, e com certeza ele vai ser muito importante. Procure ajuda, fale com alguém.
Você é mais forte do que pensa, e o futuro ainda tem muito pra te oferecer. Não
desista de você. Sempre tem alguém que te ama e sentirá a sua falta.
Um recado para os pais:
Se
o seu filho está passando por um momento de sofrimento emocional, é fundamental
criar um ambiente acolhedor, sem julgamentos. Reserve tempo para ouvi-lo com
atenção, mostrando interesse genuíno no que ele sente e pensa. Evite minimizar
sua dor com frases como “é só uma fase” ou “isso vai passar”; ao invés disso,
valide os sentimentos dele e demonstre apoio. Caso perceba sinais de
isolamento, tristeza profunda ou comportamentos preocupantes, procure ajuda
especializada, como um psicólogo ou psiquiatra. Mostrar que ele não está
sozinho e que você está disposto a caminhar ao lado dele pode fazer toda a
diferença.
Um recado para os amigos:
Se
um amigo está enfrentando dificuldades emocionais, seja uma presença constante
e confiável. Muitas vezes, ele não precisa de conselhos, mas apenas de alguém
que o ouça sem críticas ou pressões. Mostre que você se importa e que está
disponível para apoiá-lo, mesmo em silêncio. Incentive-o a buscar ajuda
profissional e, se necessário, ofereça-se para acompanhá-lo. Pequenos gestos de
cuidado, como enviar uma mensagem ou convidá-lo para uma conversa, podem ser um
ponto de luz em dias escuros. Lembre-se: sua amizade pode ser um suporte
valioso para que ele não se sinta sozinho.
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