Júlia e Marcos estão
sentados à beira de um rio, observando as águas tranquilas refletirem o céu
alaranjado do fim da tarde. A brisa suave carrega o aroma das flores de um
jardim próximo. Depois de um tempo, Júlia quebra o silêncio.
—
Sabe, Marcos, tem dias em que eu olho para a minha vida e penso: “Será que eu
me conformei?” Tipo, aceito coisas que nem me fazem feliz, só porque é mais
fácil do que lutar por algo melhor. Já sentiu isso?
— Já? Muitas vezes. Acho que é normal, mas não deveria ser. A gente se acostuma a viver no “mais ou menos” porque o “muito bom” dá trabalho, exige coragem, sabe? Mas tem uma coisa que eu aprendi: respeitar-se é o primeiro passo para sair desse ciclo.
—
Tá, Marcos, mas como é que a gente se respeita de verdade? Porque, na prática,
parece que tudo conspira para a gente aceitar o que vier e pronto.
—
Respeitar-se começa com um “não”. Parece simples, mas não é. Dizer “não” para
algo que te machuca, mesmo que te pareça cômodo, é um ato de coragem. A gente
tem medo de perder, mas, às vezes, o que a gente está segurando é exatamente o
que nos impede de crescer.
—
É, mas esse medo de perder é real, sabe, Marcos? Eu fico pensando: “E se não
vier algo melhor? E se eu acabar ficando sem nada?”
—
Isso é o que mais paralisa as pessoas. A gente tem tanto medo do vazio que
prefere o desconforto do que já conhece. Mas, Júlia, vazio não é ruim. É só
espaço. Espaço para algo novo, algo que você realmente merece.
—
Você fala como se fosse fácil soltar essas coisas. Mas e o apego? E as pessoas
que dependem de você?
—
Não é fácil, claro. Mas, olha, Júlia, respeitar-se não significa virar as
costas para tudo. Significa estabelecer limites, mesmo que doa no começo. Você
pode amar alguém e, ainda assim, decidir que não quer mais aquele tipo de
relação. Pode ser grata por um emprego, mas saber que merece algo mais
desafiador.
—
Acho que nunca pensei nisso assim. Sempre achei que colocar limites fosse
egoísmo.
—
Egoísmo, Júlia, é você viver infeliz só para agradar os outros. Quando você se
respeita, ensina as pessoas a fazerem o mesmo. E sabe o que é mais louco? Quem
realmente gosta de você vai entender.
—
Tá, mas e quando você tenta e nada muda? Já passei por isso, de tentar me
valorizar e parecer que ninguém notava.
—
A mudança não é para os outros, é para você, Júlia. Quando você começa a se
valorizar, a sua energia muda. Você para de aceitar menos. E isso, mais cedo ou
mais tarde, afasta o que não te serve e aproxima o que te merece.
—
Parece tão... libertador. Mas também assustador, Marcos.
—
Liberdade sempre assusta no começo. É um salto no escuro. Mas quando você
entende que merece mais, esse salto deixa de ser um medo e vira uma chance. E,
olha, ninguém merece ficar preso em uma vida que não faz o coração vibrar.
—
Você tem razão. Acho que está na hora de eu rever algumas escolhas. Estou
cansada de ser minha última prioridade.
—
Isso mesmo, Júlia! Respeitar-se é lembrar que você é sua maior
responsabilidade. Porque, no final, só você pode decidir se merece uma vida
medíocre ou uma vida incrível.
.-.-.-.-.
O
diálogo entre Júlia e Marcos reflete uma inquietação comum: o medo de se
conformar com menos do que se merece. Júlia expressa sua dúvida sobre as
escolhas que faz e sobre como o medo do vazio pode aprisionar. Marcos, por sua
vez, oferece uma perspectiva transformadora, mostrando que respeitar-se é um
ato de coragem, mas também uma escolha necessária para abrir espaço ao novo.
A
conversa destaca a importância de aprender a dizer "não" quando algo
não nos faz bem, mesmo que pareça confortável. Limites não são egoístas; são
formas de se proteger e ensinar aos outros como queremos ser tratados. Essa
reflexão nos leva a perceber que, muitas vezes, é o apego que nos mantém presos
a situações que já não servem mais ao nosso crescimento.
Por
fim, o diálogo convida você a uma autorreflexão: será que você tem se
respeitado o suficiente para buscar o que realmente merece? Respeitar-se é o
ponto de partida para criar uma vida que faça sentido, cheia de significado e
autenticidade.
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