Como
acontece em todo início de ano letivo, a escola reúne os professores para
debater técnicas e orientações sobre abordagens aos alunos. Para essa reunião,
a diretora Márcia convidou o psicólogo educacional Marcos Santos Chagas,
conhecido por ministrar palestras e cursos para professores de várias escolas,
além de ser professor na universidade local.
A
reunião ocorreu em uma sala ampla, com uma grande mesa ao centro, onde os
professores estavam acomodados. Alguns seguravam cadernos e canetas, prontos
para anotar, enquanto outros apenas observavam com expressões atentas. O
psicólogo educacional, Marcos, sentou-se em uma das cadeiras, respirou fundo e
iniciou a discussão.
“Bom, pessoal, sejam todos bem-vindos. Hoje vamos falar sobre algo essencial para o nosso trabalho: aprender. Muitos de vocês podem pensar que ensinar é o nosso principal objetivo, mas vou lançar uma provocação: não basta ter alguém para ensinar se, do outro lado, não houver alguém realmente disposto a aprender. O que vocês acham disso?” – perguntou Marcos, percorrendo os olhares atentos.
A
professora Ana, que lecionava literatura, foi a primeira a se manifestar:
—
Eu concordo com você, Marcos, mas e quando encontramos aqueles alunos que
simplesmente não querem aprender? Muitas vezes tentamos diversas abordagens e,
ainda assim, não conseguimos alcançá-los. Eu já experimentei jogos pedagógicos,
discussões em grupo, projetos interativos, mas alguns parecem inatingíveis.
Ela
apoiou os cotovelos sobre a mesa, demonstrando preocupação.
Marcos
sorriu de forma compreensiva e respondeu com calma:
—
Ana, essa é uma situação bastante comum e desafiadora. Muitos alunos têm o
desejo de aprender, mas podem ter medo de falhar ou simplesmente não sabem como
expressar esse desejo. Imagine um aluno que vem de um ambiente familiar onde o
erro é punido severamente ou onde não recebe nenhum tipo de incentivo. Ele pode
não demonstrar interesse porque acredita que não será capaz de aprender ou tem
receio de ser julgado pelos colegas. É nesse ponto que entra a nossa capacidade
de observar e de construir um espaço seguro e motivador para que ele se sinta
confiante.
O
professor Carlos, de matemática, interveio, cruzando os braços pensativo:
—
Mas como podemos identificar isso na prática? Muitas vezes temos turmas grandes
e não conseguimos prestar atenção em cada aluno de forma individual.
Marcos
assentiu:
—
Carlos, eu entendo essa dificuldade. Uma estratégia é prestar atenção aos
pequenos sinais: quem evita responder perguntas, quem evita participar de
atividades em grupo, quem sempre tem desculpas para não entregar tarefas. Às
vezes, uma simples conversa, mesmo que rápida, pode fazer toda a diferença na
compreensão de um aluno. Quando ele sente que o professor está disposto a
ouvi-lo sem julgamentos, começa a se abrir. Aos poucos, ele se permite aprender
de maneira mais genuína.
A
professora Camila, de História, levantou a mão e, com uma expressão curiosa,
perguntou:
—
Então, você acredita que essa relação professor-aluno faz toda a diferença? Eu
percebo que meus alunos se engajam muito mais quando criamos esse vínculo.
Marcos
sorriu e confirmou com a cabeça:
—
Exatamente, Camila. A relação interpessoal é essencial. E vocês provavelmente
já notaram isso: os alunos se saem melhor com professores que demonstram
empatia e valorizam até os menores progressos. Um ambiente acolhedor, onde o
professor acredita no potencial de cada um, pode transformar o desempenho
acadêmico de maneira incrível.
Eduardo,
o professor de Ciências, se inclinou para frente e fez outra pergunta:
—
E quando temos alunos com dificuldades específicas, como dislexia, por exemplo?
Como adaptar o conteúdo sem prejudicar o ritmo da turma?
Marcos
pensou por um momento antes de responder, buscando ser claro:
—
Eduardo, a inclusão pede ajustes, mas sem deixar o aprendizado de todos de
lado. Podemos usar recursos simples, como imagens, ler para os alunos em voz
alta, usar a tecnologia e também contar com o apoio da equipe pedagógica. O
mais importante é entender o que o aluno precisa e como ele aprende. Além
disso, ter a família envolvida faz toda a diferença, porque quando o aluno
sente esse apoio, a autoestima dele vai lá para cima e isso impacta diretamente
no desempenho. Entender também como ele se relaciona com os colegas é uma chave
importante para integrá-lo sem forçar a barra. Mas, o mais importante: nunca
podemos deixar de incluir o aluno nas atividades com o grupo.
A
professora Mariana, de Artes, fez uma pergunta que fez Marcos pensar um pouco antes de responder:
—
E como podemos usar a criatividade para engajar mais os alunos? Eu acredito
muito que a arte é um caminho para isso, não é?
Marcos
sorriu e respondeu com energia:
—
Claro, Mariana! A criatividade tem um poder incrível. Misturar disciplinas,
trabalhar com mídias digitais ou até fazer atividades manuais pode deixar o
aprendizado mais interessante e conectar as matérias com algo que faça sentido
para os alunos. A arte tem esse poder de mexer com as emoções deles, de ajudar
na comunicação e até de desenvolver o pensamento crítico, mas de um jeito que
eles nem percebem. Coisas como teatro, música, pintura… essas atividades podem
realmente transformar a forma como a escola é vista. Criar um vínculo entre os alunos e com a escola.
O
professor Roberto, de Física, levantou outra questão bem importante:
—
E como lidar com os alunos que têm dificuldades em se organizar? Muitos chegam
sem o caderno, esquecem provas, atrasam tudo...
Marcos
refletiu por um momento e respondeu com calma:
— Roberto, a organização é algo que a gente vai ensinando aos poucos. Não dá pra esperar que eles sejam organizados do nada. Podemos começar com coisas simples, como listas de tarefas ou colocar um cronograma visível na sala de aula. E quando eles cumprem os prazos, a gente reforça isso, elogiando. Aos poucos, esses hábitos vão se tornando mais naturais. Muitos apresentam essa desorganização por viverem assim em suas casas.
A
professora Juliana, de Inglês, trouxe uma dúvida bem comum entre os
professores:
—
E como podemos aumentar a autoconfiança dos alunos? Muitas vezes vejo que eles
têm medo de errar.
Marcos
respondeu de forma muito empática:
—
O segredo é criar um ambiente onde errar não seja um problema, mas uma parte
natural do aprendizado. Eles precisam entender que ninguém aprende sem errar, e
que isso faz parte do processo. A gente deve celebrar até os pequenos avanços,
como participar mais nas aulas ou melhorar nas notas. Isso ajuda a fortalecer a
confiança deles.
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A reunião continuou com mais perguntas e discussões, mas, no fim, todos saíram com uma visão renovada: ensinar vai muito além de passar conteúdo. Envolve acolher, ter paciência e, principalmente, olhar para cada aluno como um ser único, com necessidades e desafios próprios.
O
que Marcos colocou nos fez perceber que o papel do professor é muito mais
complexo do que simplesmente ensinar. Ensinar é olhar para cada aluno com
atenção, compreender suas dificuldades e apoiá-los no seu processo de
aprendizagem.
Motivar
os alunos, na verdade, exige que o professor esteja sempre disposto a ouvir, a
se adaptar e a fazer com que cada um se sinta parte de algo maior. Às vezes, um
gesto simples, como um elogio ou uma palavra de apoio, pode mudar a trajetória
de um estudante de forma significativa.
No
fim, o verdadeiro aprendizado só acontece quando o ensino encontra a vontade de
aprender. E essa vontade precisa ser alimentada todos os dias, com muito
carinho, paciência e dedicação.
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