
—
Então, deixa eu te contar: outro dia fiquei preso naquela frase, “Se está com
medo dos lobos, não entre na floresta”. A princípio pensei: “Tá, é só sobre não
ser medroso”. Mas depois percebi que é bem mais do que isso.
—
Eu já ouvi também. Mas, peraí, você tá dizendo que não é só sobre coragem?
—
Isso. Olha só: a floresta pode ser a nossa própria vida, e os lobos são aqueles
problemas que a gente evita. Só que tem uma pegadinha: às vezes, o maior lobo
mora dentro da nossa cabeça.
—
Ih, lá vem você com filosofia. Mas fala aí, esse lobo interno seria o quê?
— É aquela voz que diz: “Vai dar errado”, “Não tenta, não vale a pena”. Parece até parente chato em festa de família, sabe? Sempre pronto pra estragar a diversão.
—
Tá, agora você pegou pesado, mas entendi. É como se o lobo fosse a insegurança
disfarçada de conselheiro.
— Isso! Ele se veste de bom senso, mas, na real, quer só te segurar. Se a gente não encara, fica rodando em volta da floresta sem nunca dar o primeiro passo.
—
E se entrar na floresta e o bicho pular em cima? Porque, olha, a vida não poupa
ninguém.
—
Aí é que tá: ele pode até pular, mas nem sempre morde. Muitos lobos são só
barulhentos. Fazem um au-au enorme, mas quando você olha direito, é quase um
cachorro perdido querendo atenção.
—
Essa foi boa. Então, quer dizer que nem todo problema é do tamanho que parece?
—
Exatamente. Às vezes, a gente aumenta tanto o barulho na cabeça que se assusta
mais do que deveria.
—
Mas, falando sério, tem hora que a floresta parece assustadora demais. Escura,
cheia de barulhos estranhos…
—
E não é? Mas pensa: se fosse fácil, não teria graça. Imagina contar pra alguém:
“Ah, eu conquistei meu sonho sem nenhum problema, sem nenhum lobo, sem nada.” A
pessoa vai responder: “Nossa, que emocionante… só que não.”
—
É verdade. Ninguém gosta de filme em que nada acontece.
—
Pois é. A vida funciona como uma boa história: precisa de obstáculos, de
vilões, de floresta escura. É isso que dá valor à vitória.
—
E você já entrou em alguma floresta dessas?
—
Já. Uma vez, quando precisei falar em público. Eu suava tanto que parecia que
tinham aberto um chuveiro em cima de mim. O “lobo” era o medo de passar
vergonha. E olha que passei mesmo: esqueci parte do texto, a voz falhou.
—
E você sobreviveu?
—
Tô aqui contando, não tô? O detalhe é que ninguém morreu de rir, como eu
imaginava. Na real, até riram um pouco, mas depois bateram palma. E adivinha?
Na segunda vez foi menos doloroso.
—
Então cada floresta deixa a gente mais preparado pra próxima?
—
Exato. É como ganhar experiência em jogo. Quanto mais lobo você encara, mais
forte fica.
—
Mas e quem prefere ficar do lado de fora, olhando de longe?
—
Essa pessoa vai viver segura, mas também vai viver incompleta. É como assistir
a um show pela TV em vez de estar na plateia. Você vê, mas não sente.
—
Pesado, mas real. Ninguém vira protagonista sem entrar na floresta.
— E ninguém descobre quem é sem olhar nos olhos dos próprios lobos.
—
Então a frase não tá expulsando a gente da floresta. Tá só avisando: “Se vier,
venha preparado”.
—
Exatamente. É tipo placa de estrada: “Curva perigosa”. Não é pra você desistir
de dirigir, é só pra ter consciência do que vem.
—
Gostei dessa. E faz sentido, porque a vida dá sinais o tempo todo.
—
Dá mesmo. O problema é que a gente lê os sinais e inventa desculpas. “Ah, o
lobo é muito grande”, “Ah, a floresta é muito escura”. E assim o tempo passa, e
a gente continua na beira do caminho.
—
Então, no fundo, a frase é um cutucão: “Quer viver de verdade? Vai ter que
aceitar os lobos junto.”
—
Isso. Porque os lobos não são monstros eternos, são desafios temporários. Cada
vez que você enfrenta um, abre espaço pra uma versão mais corajosa de si mesmo.
—
Agora ficou claro. Não é sobre fugir, é sobre estar consciente.
—
E, cá entre nós, até os lobos respeitam quem entra de cabeça erguida.
—
Será? Porque eu não queria testar isso com um lobo de verdade.
—
Melhor não. Vamos manter só na metáfora, que é mais seguro.
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A
frase “Se está com medo dos lobos, não entre na floresta” não é um convite à
covardia, mas um lembrete de responsabilidade. Ela nos alerta de que todo
caminho importante vem acompanhado de riscos, e que, se queremos atravessá-lo,
precisamos estar prontos para encarar os desafios.
A
floresta representa os momentos decisivos da vida, e os lobos são os medos e
obstáculos que nos cercam. Fugir deles é escolher viver pela metade.
Enfrentá-los é escrever uma história completa, cheia de quedas, risos, tropeços
e vitórias que ninguém pode tirar de nós.
E,
no fim, a moral é clara: não espere um caminho sem perigo. Se você tem sonhos,
aceite a floresta, aceite os lobos, e vá em frente. O medo late, mas a coragem
sempre grita mais alto. E quando você atravessar, vai perceber que, no fundo, o
maior lobo que existia era o medo de começar.
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