quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Se está com medo dos lobos, não entre na floresta.

 
            — Então, deixa eu te contar: outro dia fiquei preso naquela frase, “Se está com medo dos lobos, não entre na floresta”. A princípio pensei: “Tá, é só sobre não ser medroso”. Mas depois percebi que é bem mais do que isso.

— Eu já ouvi também. Mas, peraí, você tá dizendo que não é só sobre coragem?

— Isso. Olha só: a floresta pode ser a nossa própria vida, e os lobos são aqueles problemas que a gente evita. Só que tem uma pegadinha: às vezes, o maior lobo mora dentro da nossa cabeça.

— Ih, lá vem você com filosofia. Mas fala aí, esse lobo interno seria o quê?

— É aquela voz que diz: “Vai dar errado”, “Não tenta, não vale a pena”. Parece até parente chato em festa de família, sabe? Sempre pronto pra estragar a diversão.

— Tá, agora você pegou pesado, mas entendi. É como se o lobo fosse a insegurança disfarçada de conselheiro.

— Isso! Ele se veste de bom senso, mas, na real, quer só te segurar. Se a gente não encara, fica rodando em volta da floresta sem nunca dar o primeiro passo.

— E se entrar na floresta e o bicho pular em cima? Porque, olha, a vida não poupa ninguém.

— Aí é que tá: ele pode até pular, mas nem sempre morde. Muitos lobos são só barulhentos. Fazem um au-au enorme, mas quando você olha direito, é quase um cachorro perdido querendo atenção.

— Essa foi boa. Então, quer dizer que nem todo problema é do tamanho que parece?

— Exatamente. Às vezes, a gente aumenta tanto o barulho na cabeça que se assusta mais do que deveria.

— Mas, falando sério, tem hora que a floresta parece assustadora demais. Escura, cheia de barulhos estranhos…

— E não é? Mas pensa: se fosse fácil, não teria graça. Imagina contar pra alguém: “Ah, eu conquistei meu sonho sem nenhum problema, sem nenhum lobo, sem nada.” A pessoa vai responder: “Nossa, que emocionante… só que não.”

— É verdade. Ninguém gosta de filme em que nada acontece.

— Pois é. A vida funciona como uma boa história: precisa de obstáculos, de vilões, de floresta escura. É isso que dá valor à vitória.

— E você já entrou em alguma floresta dessas?

— Já. Uma vez, quando precisei falar em público. Eu suava tanto que parecia que tinham aberto um chuveiro em cima de mim. O “lobo” era o medo de passar vergonha. E olha que passei mesmo: esqueci parte do texto, a voz falhou.

— E você sobreviveu?

— Tô aqui contando, não tô? O detalhe é que ninguém morreu de rir, como eu imaginava. Na real, até riram um pouco, mas depois bateram palma. E adivinha? Na segunda vez foi menos doloroso.

— Então cada floresta deixa a gente mais preparado pra próxima?

— Exato. É como ganhar experiência em jogo. Quanto mais lobo você encara, mais forte fica.

— Mas e quem prefere ficar do lado de fora, olhando de longe?

— Essa pessoa vai viver segura, mas também vai viver incompleta. É como assistir a um show pela TV em vez de estar na plateia. Você vê, mas não sente.

— Pesado, mas real. Ninguém vira protagonista sem entrar na floresta.

— E ninguém descobre quem é sem olhar nos olhos dos próprios lobos.

— Então a frase não tá expulsando a gente da floresta. Tá só avisando: “Se vier, venha preparado”.

— Exatamente. É tipo placa de estrada: “Curva perigosa”. Não é pra você desistir de dirigir, é só pra ter consciência do que vem.

— Gostei dessa. E faz sentido, porque a vida dá sinais o tempo todo.

— Dá mesmo. O problema é que a gente lê os sinais e inventa desculpas. “Ah, o lobo é muito grande”, “Ah, a floresta é muito escura”. E assim o tempo passa, e a gente continua na beira do caminho.

— Então, no fundo, a frase é um cutucão: “Quer viver de verdade? Vai ter que aceitar os lobos junto.”

— Isso. Porque os lobos não são monstros eternos, são desafios temporários. Cada vez que você enfrenta um, abre espaço pra uma versão mais corajosa de si mesmo.

— Agora ficou claro. Não é sobre fugir, é sobre estar consciente.

— E, cá entre nós, até os lobos respeitam quem entra de cabeça erguida.

— Será? Porque eu não queria testar isso com um lobo de verdade.

— Melhor não. Vamos manter só na metáfora, que é mais seguro.

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A frase “Se está com medo dos lobos, não entre na floresta” não é um convite à covardia, mas um lembrete de responsabilidade. Ela nos alerta de que todo caminho importante vem acompanhado de riscos, e que, se queremos atravessá-lo, precisamos estar prontos para encarar os desafios.

A floresta representa os momentos decisivos da vida, e os lobos são os medos e obstáculos que nos cercam. Fugir deles é escolher viver pela metade. Enfrentá-los é escrever uma história completa, cheia de quedas, risos, tropeços e vitórias que ninguém pode tirar de nós.

E, no fim, a moral é clara: não espere um caminho sem perigo. Se você tem sonhos, aceite a floresta, aceite os lobos, e vá em frente. O medo late, mas a coragem sempre grita mais alto. E quando você atravessar, vai perceber que, no fundo, o maior lobo que existia era o medo de começar.

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