quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Jogar palavras ao vento, é fácil. Difícil, é interpretar o silêncio.

 
Naquela tarde, os irmãos Pedro (17) e Clara (22) estavam em uma mesa, na calçada de uma cafeteria, apenas observando o movimento. A brisa leve bagunçava os cabelos deles, mas ninguém parecia muito preocupado com isso. Pedro, depois de um bom tempo em silêncio, resolveu perguntar:

Clara, por que você anda tão calada ultimamente? Parece que tá sempre pensando em mil coisas, mas nunca diz nada.

Clara suspirou, olhando para o chão como se tentasse organizar os pensamentos antes de responder.

Ah, Pedro... É que nem sempre eu quero falar, sabe? Às vezes, o silêncio é o jeito que eu encontro pra me proteger. Falar demais pode trazer problemas que eu prefiro evitar.

Pedro ficou quieto por um momento, tentando entender o que ela estava dizendo. Ele nunca tinha pensado no silêncio dessa forma.

Eu achava que quando você ficava quieta era porque tava brava comigo ou algo assim — ele confessou, meio sem graça.

Clara deu um breve sorriso, balançando a cabeça.

Não é bem isso. Na verdade, tem vezes que o silêncio é meu jeito de evitar confusão, de não transformar qualquer coisinha numa briga. Eu prefiro ficar quieta a falar algo que depois vou me arrepender.

Pedro franziu a testa, interessado.

Então, você usa o silêncio como um escudo?

Exatamente. Mas nem sempre é só proteção. Às vezes, também é um pedido de ajuda que ninguém escuta. Quando tô mal, eu não consigo falar, entende? Fico quieta, e, no fundo, queria que alguém percebesse, mas sem eu precisar explicar tudo.

Pedro se mexeu na cadeira, desconfortável, como se tivesse percebido algo importante.

E você acha que eu não?

Nem sempre. Você e a maioria das pessoas acham que o silêncio é vazio, mas ele pode ser um grito. Só que ninguém ouve gritos mudos — Clara respondeu, meio filosófica.

Pedro olhou para frente, processando as palavras dela. Depois de uns segundos, ele falou:

Sabe, agora que você disse isso, faz sentido. Eu sempre pensei que o silêncio era ignorar ou desistir de uma conversa. Mas talvez seja mais sobre tentar se proteger ou até atacar de outro jeito.

Clara assentiu, satisfeita que ele finalmente estava entendendo.

Exato. Tem momentos que eu fico calada pra evitar machucar alguém ou até mesmo a mim. E, outras vezes, é porque eu simplesmente não tô pronta pra falar. Respeitar o silêncio das pessoas é muito mais importante do que tentar arrancar palavras delas à força.

Pedro sorriu de canto.

Vou lembrar disso. E, da próxima vez que você ficar quieta, vou tentar escutar o que você não tá dizendo.

Clara sorriu de volta.

É disso que eu tô falando.

Clara levantou-se e foi pagar a conta do lanche que haviam consumido. Ela é seu irmão saíram da cafeteria de mãos dadas, quase que dançando, felizes pela cumplicidade de irmãos.

No fundo, o silêncio das pessoas carrega muito mais do que a ausência de palavras. Ele pode ser um sinal de proteção, de necessidade de espaço, ou até um pedido de socorro que não consegue ser expressado de outra forma. Respeitar esse silêncio é um ato de compreensão e empatia, porque nem todo mundo está pronto para se abrir no momento que a gente espera.

A verdadeira moral da história é que, às vezes, ouvir o que não é dito é mais importante do que tentar forçar uma conversa. O silêncio pode ser uma linguagem própria, e aprender a respeitá-lo é uma forma de mostrar cuidado e paciência com o outro.


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