Gabriel tinha 17 anos e
estava naquela fase da vida em que parecia que todo mundo tinha as respostas
certas… menos ele. Estava no terceiro ano e, entre provas, vestibular e as
expectativas da família, sentia o peso de precisar saber exatamente o que queria
da vida. A única coisa que sabia de verdade é que queria fazer algo grande, mas
havia um problema: o medo. Medo de errar, de se decepcionar, de escolher o caminho
errado.
Um
dia, depois de uma aula sobre riscos e investimentos, o professor Ricardo
percebeu que Gabriel estava quieto, pensativo, meio longe. Como um bom
professor de economia e administração, ele sempre acreditou que a mente dos
alunos precisava estar tão bem afiada quanto as contas que ensinava. Resolveu
puxar conversa.
— E aí, Gabriel, tudo bem? Você parece preocupado — disse Ricardo, com aquele tom meio descontraído.
Gabriel
deu um meio sorriso, um pouco sem graça, mas decidiu falar a verdade.
— Ah, professor… É que eu tô com medo de fazer as escolhas
erradas, sabe? Todo mundo fala que a gente tem que ir atrás dos nossos sonhos,
mas, na prática, parece mais assustador. Fico pensando, e se eu errar? E se eu
não for bom o suficiente?
O
professor fez uma pausa, como quem já sabia exatamente o que dizer, mas
preferiu deixar o jovem falar mais um pouco. Por fim, com uma calma que só anos
de experiência trazem, ele respondeu:
— Sabe, Gabriel, esse medo que você está sentindo… ele é
uma parte importante do processo. Sabe por quê? Porque ele mostra que você
realmente se importa. Só que, ao mesmo tempo, o medo também pode virar uma
armadilha se você der ouvidos demais a ele. Ele adora ser o chefe, o mandachuva
da situação.
Gabriel
sorriu de leve, meio confuso.
— Como assim, professor?
Ricardo
se ajeitou na cadeira, mais próximo de Gabriel.
— Vou te contar uma coisa. O medo é um mestre, mas também é
um bobo. Ele sempre tenta te assustar, mas a verdade é que ele não sabe o
futuro. Então, por que não brincar com ele? Ao invés de deixá-lo ditar as
regras, que tal se divertir com ele?
Gabriel
franziu a testa, interessado.
— Se divertir com o medo? Como assim?
O
professor sorriu.
— Quando o medo aparecer com aquele discurso de “e se der
errado”, você pergunta para ele: “E se der certo?” Ao invés de ver o medo como
uma parede, tenta ver como um trampolim. Cada vez que ele aparecer, é sinal de
que você está chegando perto de algo importante. Lembre disso: ele só tem a
força que você dá a ele. Você pode usar o medo como uma desculpa para não
tentar… ou como um desafio para se jogar.
Gabriel
ficou pensando nisso. Era a primeira vez que alguém dizia que o medo não
precisava ser o vilão da história.
— Nunca pensei por esse lado, professor… Acho que sempre vi
o medo como um problema. Como se ele fosse um obstáculo que eu tivesse que
vencer pra poder seguir em frente.
Ricardo
balançou a cabeça.
— E é um pouco isso, mas sabe o que é engraçado? O medo
também pode te ajudar a ir mais longe. Todo grande projeto que eu já vi começou
com alguém que estava com medo, mas que decidiu fazer mesmo assim. A diferença
é que eles aprenderam a rir do medo e seguir em frente.
—
Talvez… eu precise aprender a rir também, então, né? — Gabriel sorriu,
um pouco mais confiante.
O
professor deu um tapinha amigável nas costas dele.
— É isso, Gabriel. Da próxima vez que o medo aparecer,
lembre: ele está ali só para te desafiar. Dá uma risada e segue o jogo. Quem
sabe ele não te ajude a descobrir até onde você pode ir.
Saindo
da sala, Gabriel sentiu que algo havia mudado. O medo não havia sumido, mas
agora parecia uma companhia menos assustadora. Afinal, se ele podia se divertir
com o medo, então talvez, só talvez, ele estivesse mais perto dos seus sonhos
do que pensava.
O
professor buscou ensinar Gabriel a ver o medo como um aliado, e não um
obstáculo. Ao invés de se deixar paralisar, Gabriel deveria usar o medo como
motivação, percebendo que ele aparece justamente nos momentos que importam. O
medo, afinal, indica que ele está prestes a se desafiar e a crescer.
A
lição também foi sobre mudar a perspectiva: o professor mostrou ser possível
enfrentar o medo com leveza, até humor. Ao perguntar “e se der certo?” Gabriel
poderia transformar sua insegurança em empolgação e usar o medo para
impulsioná-lo rumo aos seus sonhos.
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