Era uma tarde preguiçosa, dessas em que o tempo parece ter resolvido tirar uma folguinha. Sofia e Miguel estavam jogados na beira do laguinho do parque, descansando depois de uma semana daquelas — cheia de provas, cobranças e gente falando alto demais. O vento soprava leve, mal mexendo nas árvores, e o barulhinho das folhas fazia parecer que o mundo tinha se desligado por um instante.
— Cara… às vezes eu acho que o destino está contra mim, nada dá certo — soltou Sofia, atirando uma pedrinha no lago. — Sério, parece que eu tô sempre correndo atrás de alguma coisa, mas ela sempre se distancia e nunca alcanço.
Miguel olhou pra ela, meio pensativo, e deu um sorrisinho de canto.
— Engraçado, semana passada eu andava me sentindo mais ou menos assim também — disse ele. — Até que meu avô veio com aquele papo de “gratidão”.
Sofia arqueou a sobrancelha.
— Gratidão? — repetiu, com um pequeno sorriso. — Vixi, lá vem filosofia de vô…
— Pois é, eu também pensei a mesma coisa— respondeu ele, rindo junto. — Mas ele me falou um negócio que ficou martelando na minha cabeça: se a gente não consegue enxergar as coisas boas que estão presentes no nosso hoje, as coisas ruins vão ocupando espaços no nosso amanhã. Na hora eu nem dei muita bola, mas… depois, sei lá, cada palavra começou a fazer sentido.
— Tá, mas tipo, agradecer por tudo? Mesmo quando nosso dia tá desandando? — perguntou ela, virando o rosto pra ele.
Miguel deu de ombros.
— É. No começo parece meio esquisito, meio bobo até. Mas ela disse pra eu começar a ver as coisinhas pequenas, sabe? O cheiro do café fresquinho, o som da chuva batendo nas folhas das árvores e no telhado da casa, o riso de alguém que cruza nosso caminho. Aquelas coisinhas que passam batido. Eu comecei a tentar, sem acreditar muito… e, de repente, tudo começou a parecer diferente, comecei a enxergar os detalhes.
Sofia deu uma risadinha curta.
— Ah, Miguel… isso soa muito o papo daqueles caras que todo início de ano vão fazer palestras na escola
— Pode até ser — respondeu ele, sorrindo. — Mas não é que funcionou? Quer ver? Pensa em três coisas pelas quais você, digamos, seria grata por terem acontecido hoje. Só três. Vai.
Ela bufou, fingindo impaciência, mas entrou na brincadeira.
— Tá, deixa eu pensar… Primeiro, esse parque. Faz tempo que eu não paro num lugar tão lindo e calmo. — Ela olhou em volta, respirou fundo. — Segundo… ah, um amigo me mandou um meme engraçado hoje cedo. Me fez rir de um jeito que eu nem lembrava mais.
— Aí sim — disse Miguel, animado. — Falta uma.
Sofia hesitou, mordeu o lábio e olhou pra ele.
— Acho que também tô grata por estar aqui contigo. Mesmo com esse seu discurso de vô moderno e filósofo.
Miguel gargalhou.
— Tá vendo? É disso que eu tô falando. Gratidão é isso aí: enxergar as coisas boas, que deram certo, e não ficar remoendo aquilo que não saiu como planejamos.
Sofia ficou olhando para o lago, pensativa. O vento batia no rosto dela, e por um momento o silêncio pareceu confortável.
— Sabe que isso faz sentido? — disse baixinho. — Acho que eu passo tanto tempo reclamando do que não tenho, que esqueço de perceber as coisas boas e valorizo demais as coisas ruins.
Miguel sorriu e deu um empurrãozinho de leve no ombro dela.
— Gratidão, dona Sofia. Use sem moderação.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Você é impossível. E seu avô deveria ser o próximo palestrante lá na escola.
Os dois ficaram ali, quietos por um tempo, só ouvindo o barulho das folhas e dos passarinhos. E foi estranho — mas bom. Era como se o mundo tivesse ido dar um mergulho no lago e dado um tempinho pra eles respirarem.
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A conversa entre Sofia e Miguel mostra que gratidão não é só um discurso bonito — é um jeito diferente de olhar para o que está em nossa volta. Quando a gente aprende a reparar nas pequenas coisas, a vida muda de tom. Fica mais leve, mais viva, mais alegre.
A gratidão, por si só, não apaga os problemas, mas nos faz mudar o foco. Em vez de enxergar o que falta, a gente começa a ver o que sobra: carinho, riso, paz, companhia. E isso, pode acreditar, já é muita coisa.
No fim das contas, ser grato é como trocar a lente da alma. O cenário continua o mesmo — mas as cores ficam mais nítidas e a nossa visão do amanhã muito mais clara.
Se gostou do texto, compartilha com teus amigos, vai que um deles está esquecendo de agradecer por todas as conquistas que já teve? Acordar pela manhã e ter a chance de viver mais um dia, é uma delas.
E você, já agradeceu hoje?

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