Os primos, Gabriel e Luana, ambos com 18 anos, estavam caminhando pela cidade, cada um imerso em seus próprios pensamentos. O barulho ao redor parecia distante, até que passaram por uma praça onde algumas crianças brincavam de esconde-esconde. Luana parou por um momento e observou. Ela deu um leve sorriso, como se algo familiar estivesse despertando.
— Você lembra como era? — perguntou ela, apontando para as crianças. — A gente brincava disso o tempo todo, sem se preocupar com nada.
Gabriel olhou para as crianças correndo e, por um segundo, sentiu uma onda de nostalgia. Era como se o tempo tivesse parado. Ele se lembrou de quando passava horas brincando na rua até anoitecer, sem nenhuma pressa de voltar para casa.
— Lembro, sim — respondeu ele, rindo. — Era como se o mundo fosse nosso. Sem limites, sem preocupações... Só correndo, se escondendo e achando graça em qualquer coisa.
Luana deu um passo em direção à praça e virou-se para ele com um brilho nos olhos, aquele mesmo olhar que ela tinha quando era criança, cheia de energia e impulsividade.
— Vamos lá. — Ela o puxou pelo braço, rindo. — Vamos brincar com eles.
— O quê? Tá louca? — Gabriel riu, meio incrédulo, olhando para os jovens que corriam pela praça. — A gente já passou dessa fase, né?
— Quem disse? — retrucou Luana, determinada. — Olha só pra eles, Gabe! Eles não estão pensando em nada além de se divertir. E por que a gente também não pode? Só por um dia... É o Dia das Crianças, afinal!
Gabriel hesitou por um momento, mas ao ver a empolgação dela e a alegria das crianças, algo dentro dele mudou. Talvez ela tivesse razão. Talvez ele estivesse se levando a sério demais ultimamente. Com um suspiro profundo e um sorriso surgindo nos lábios, ele cedeu.
— Tá, você venceu. Vamos lá.
Antes que Gabriel pudesse processar a ideia, Luana já estava correndo em direção às crianças, chamando atenção deles com uma animação contagiante.
— Vocês precisam de mais gente na brincadeira? — perguntou ela, ofegante, mas com um sorriso largo no rosto.
As crianças olharam para ela e depois para Gabriel, que vinha logo atrás, com uma expressão divertida e um pouco constrangida. Um garoto de boné olhou desconfiado por alguns segundos, mas depois sorriu de volta.
— Claro! — disse ele. — Mais gente, mais difícil achar!
Em poucos minutos, Gabriel e Luana estavam de volta à infância, correndo, rindo e se escondendo como se o tempo tivesse retrocedido. O coração de Gabriel batia rápido, mas não era por cansaço. Era a excitação de se sentir livre, como não se sentia há muito tempo. Ele correu para trás de uma árvore, tentando se esconder, rindo como uma criança, enquanto Luana se jogava no chão atrás de um banco, sujando as roupas, mas sem se importar.
— Ei, Gabe! — gritou Luana de seu esconderijo. — Lembra de quando a gente fazia isso na escola? Você era o pior em se esconder!
— E você era a mais barulhenta! — respondeu Gabriel, tentando conter a risada enquanto tentava não ser descoberto.
O jogo continuou por mais algum tempo, até que os dois se jogaram na grama, exaustos, mas com sorrisos enormes no rosto. As crianças ainda corriam ao redor, mas Gabriel e Luana estavam felizes apenas em observar. Era como se, por um breve momento, eles tivessem reencontrado uma parte de si que havia sido esquecida.
— Eu precisava disso — disse Gabriel, olhando para o céu, agora sem nuvens. — Acho que a gente esquece como é bom simplesmente se divertir, sem pensar tanto no que vai acontecer depois.
Luana, ainda recuperando o fôlego, virou-se para ele.
— Exato. A gente cresce e começa a se prender a tanta coisa que esquece o mais importante: viver o momento. Hoje foi o dia de lembrar isso.
— E a gente se preocupando com tantas coisas que, no fundo, nem importam tanto — disse Gabriel, agora mais leve. — Acho que o segredo é esse: lembrar de como era ser criança. Não levar tudo tão a sério o tempo todo.
Luana sorriu e, em silêncio, ambos continuaram deitados ali, observando as crianças brincando. Estavam tão alegres, mas cansados, que nem perceberam que as crianças tinham ido embora e o Sol, que antes brilhava intensamente, estava cedendo espaço para o início da noite.
Naquele dia, Gabriel e Luana entenderam que a vida pode ser cheia de responsabilidades, mas também de oportunidades para redescobrir a leveza da infância. Quando nos permitimos escapar das preocupações por um momento e simplesmente viver o presente, reencontramos o que realmente importa: a alegria simples de ser, de sentir, e de rir. Às vezes, tudo o que precisamos é parar de nos levar tão a sério e lembrar que, mesmo adultos, ainda há uma criança dentro de nós, pronta para brincar.
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