Lucas, com seus 17 anos,
sentava-se na poltrona do consultório da terapeuta pela primeira vez. As mãos
inquietas, os pés batendo no chão. Não gostava muito da ideia de estar ali, mas
sabia que precisava de alguma ajuda. Ele vivia perdendo o controle, falando
coisas no calor do momento e depois, quando a raiva passava, ficava só o
arrependimento.
A
terapeuta, Dr.ᵃ Helena, observava em silêncio. Sabia que não precisava fazer
muito para ele começar a falar. E, claro, não demorou muito:
— Sabe, eu não aguento! Parece que as coisas vão saindo sem eu pensar. Quando eu vejo, já falei um monte e a pessoa fica lá, sem saber o que fazer. Depois… depois eu fico me sentindo horrível — Lucas desabafou, suspirando.
Dr.ᵃ
Helena sorriu de leve, com aquele olhar que passa tranquilidade.
— Entendo, Lucas. E me conta: o que te passa pela cabeça
quando você se arrepende?
Ele
abaixou o olhar, como se as palavras estivessem difíceis de sair.
— Eu penso que podia ter falado menos. Ou, sei lá, talvez
nem falar nada.
—
Interessante… — ela respondeu, pensativa. — Sabe, às vezes o silêncio
causa o maior barulho.
Lucas
a olhou confuso. Como assim silêncio e barulho juntos? Ele franziu a testa.
— O que você quer dizer com isso?
Ela
se ajeitou na cadeira, como quem está prestes a contar algo importante.
— Pense nisso, Lucas: quando a gente escolhe o silêncio,
muitas vezes, ele fala por nós. Você já percebeu que, ao ficar em silêncio,
você pode mostrar que não vale a pena gastar energia com aquilo? Que algumas
coisas falam por si, sem que a gente precise responder de imediato?
Lucas
ficou pensando e, pela primeira vez, ficou quieto. Dr.ᵃ Helena aproveitou o
momento para continuar:
— O silêncio é poderoso, sabe? Ele não é vazio, como muita
gente pensa. Às vezes, ele diz mais do que qualquer resposta. Quando a gente
escolhe não falar, estamos, na verdade, escolhendo o que merece ou não a nossa
atenção.
—
Mas eu tenho medo de que as pessoas pensem que eu estou concordando… que eu
tô aceitando tudo — ele confessou, olhando para a terapeuta com um pouco de
receio.
— Entendo esse medo. Mas o silêncio não é fraqueza, Lucas.
Ele é só uma outra forma de falar, uma forma de resistência. Em vez de mostrar
seu lado com palavras, você mostra com uma escolha. E o mais importante: ele te
dá tempo para pensar, refletir e ouvir você mesmo. Assim, quando você decidir
falar, suas palavras serão mais certeiras, sem arrependimento depois.
Lucas
ficou em silêncio por alguns instantes, pensando. Percebeu que aquela conversa
estava lhe fazendo sentido. Talvez, só talvez, ele não precisasse reagir a tudo
de imediato.
— Então, da próxima vez que eu sentir aquela raiva, eu
posso só… ficar quieto?
— Exato, Lucas. O silêncio pode ser seu aliado. Nem sempre
precisamos responder. Deixe que o silêncio faça o barulho que você quer
transmitir. Assim, você consegue mostrar força e, ao mesmo tempo, se proteger
do arrependimento. E tem mais, quando estamos em meio a uma discussão, ao
ficarmos em silêncio, sem reagir ou responder a uma provocação, isso irritará
mais a outra pessoa do que qualquer palavra que dissermos.
Lucas
sorriu de canto. Pela primeira vez, a ideia de ficar em silêncio não parecia
tão difícil. Talvez, dessa vez, ele estivesse começando a entender algo
realmente importante sobre si mesmo.
E
você, já pensou em ficar em silêncio para evitar discussões desnecessárias? Nem
sempre você precisa responder na hora, rebater, ou ter a última palavra. Quando
você escolhe ficar quieto, está dando a si mesmo um tempo precioso para
entender o que realmente está sentindo. Esse momento de silêncio é como um
escudo que te protege de dizer algo que, mais tarde, você possa se arrepender.
No fundo, é uma forma de controle: é você decidindo o que vale a pena ser dito
e o que é melhor guardar.
E
sabe qual é o poder disso? Quando você escolhe o silêncio, acaba chamando mais
atenção do que imagina. Quem está ao seu redor percebe e, muitas vezes,
respeita ainda mais a sua presença. O silêncio deixa espaço para que você se
conheça, para que entenda o que realmente importa. E, no fim das contas, o
maior barulho vem justamente desse silêncio cheio de intenção e escolha. Ele
fala por você — de um jeito mais poderoso do que qualquer grito.
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