Marcelo, com seus 17 anos,
estava em um daqueles dias em que o peso do mundo parecia maior do que ele
podia carregar. Sentado na varanda da casa do avô, olhava para o horizonte sem
prestar muita atenção em nada. Seu pai, João, e o avô emprestado, Sr. Antônio,
estavam ali também, em silêncio. O avô percebeu o olhar distante do neto e
quebrou o silêncio:
—
Parece que hoje tem alguma coisa entalada aí, hein, Marcelo? — disse o Sr.
Antônio com um sorriso leve, aquele típico jeito descontraído que ele usava
para começar uma conversa.
Marcelo deu de ombros, sem muito entusiasmo.
— É, talvez… Só um monte de coisa na cabeça.
João,
o pai de Marcelo, deu uma risada curta, tentando aliviar o clima.
— Isso aí é a juventude, filho. Quando a gente é novo, acha
que precisa resolver o mundo sozinho. Eu já passei por isso. Na verdade, é a
vida de adulto batendo na sua porta.
O
avô balançou a cabeça em concordância e, com um sorriso carinhoso, falou:
— E olha que eu também já passei por muita coisa. Ainda
mais com essa vida de avô “emprestado”, né? — Ele deu uma piscadela, se referindo ao fato de que se
casou com a avó de Marcelo quando o pai dele já era adulto e ele mesmo já tinha
seus 11 ou 12 anos. — Mas o amor que a gente construiu aqui é para valer.
Marcelo sorriu de canto, mas continuava sem se abrir. Aquele amor entre eles era tão
real que, às vezes, ele até esquecia que o Sr. Antônio era um avô “emprestado”.
Para Marcelo, ele sempre foi o avô de verdade, presente em cada momento
importante, como alguém que sempre esteve ali. Marcelo não chegou a conhecer seus
verdadeiros avôs.
O
Sr. Antônio continuou, com a voz serena:
— Eu sei que às vezes você sente que precisa dar conta de
tudo sozinho. Mas, olha, a gente está aqui para dividir o peso, viu? Eu e seu
pai estamos no seu time. Eu já passei por tanto nessa vida… E o que aprendi é
que ninguém vence sozinho.
João
assentiu e se aproximou mais do filho, acrescentando:
— O vovô está certo, Marcelo. A gente está aqui para você.
Não precisa enfrentar tudo sozinho. Aceitar o apoio de quem te ama não tira
nada de você. Pelo contrário, te fortalece.
Marcelo olhou para o pai e o avô, sentindo o peso nos ombros diminuir um pouco. Era
como se, ali, no meio daquela conversa simples, ele tivesse encontrado uma
calma que não sabia que estava procurando. Com a voz baixa, ele finalmente
respondeu:
— Eu sei… Só que, às vezes, é difícil deixar alguém ver
minhas inseguranças. Parece que mostrar fraqueza vai desapontar vocês.
O
Sr. Antônio deu uma risada baixa e colocou uma mão no ombro de Marcelo.
— Ah, meu rapaz, se tem uma coisa que aprendi é que aceitar
ajuda não é fraqueza. É ter coragem de deixar quem ama a gente estar perto, é
dar espaço para o outro dividir a carga.
João
sorriu e completou, olhando diretamente nos olhos do filho:
— E olha que até o vovô aqui foi parar na nossa vida
depois, mas está aí, de coração inteiro, com a gente. É isso que importa,
filho. Família é quem fica, quem se importa.
O
Sr. Antônio suspirou e um brilho nostálgico surgiu em seus olhos. Ele ajeitou o
boné, olhou para o horizonte e começou a falar, como se fosse levado por
lembranças antigas.
— Sabe, Marcelo, eu também já tive a sua idade. E, olha,
naquela época a vida era totalmente diferente da de hoje, eu também era cheio
de dúvidas, talvez até mais do que você. Eu não sabia bem o que queria da vida,
me sentia perdido muitas vezes. Mas eu tive algumas pessoas que me estenderam a
mão, que me aconselharam, que me fizeram enxergar o que eu não conseguia ver
sozinho.
João
e Marcelo se entreolharam, curiosos para ouvir mais daquela história, já que o
Sr. Antônio raramente falava do seu passado com tantos detalhes.
— Tinha uma tia minha, que me criou e com quem eu morava — continuou ele —, que sempre me
dizia: “Antônio, a vida é feita de escolhas, mas ninguém precisa fazer todas
elas sozinho.” Na época, eu achava que ela só estava tentando me controlar,
sabe? Que eu deveria decidir tudo por mim. Mas hoje eu entendo. Ela queria que
eu soubesse que podia contar com ela, que não era um sinal de fraqueza procurar
ajuda.
Marcelo o ouvia com atenção, e o avô notou a expressão reflexiva do neto. Aproveitou
para contar mais.
— Mais tarde, quando fiquei mais velho, precisei tomar uma
decisão importante que mudaria minha vida. Eu queria me mudar para longe, atrás
de outra vida, e estava convencido de que era o que deveria fazer. Mas foi meu
melhor amigo quem me fez parar e pensar: “Antônio, você está indo atrás do que
realmente quer ou só do que acha que precisa?” Aquelas palavras me fizeram
refletir por dias. E foi assim que eu entendi que a gente precisa ouvir quem se
importa com a gente, porque às vezes eles veem as coisas de um jeito que a
gente não consegue ver.
Marcelo balançou a cabeça, absorvendo cada palavra. Era raro ver o avô tão aberto sobre
as próprias fraquezas, e isso o fez se sentir mais próximo, mais entendido.
O
Sr. Antônio então virou-se para Marcelo e colocou a mão no ombro dele.
— Marcelo, aceitar o conselho de quem nos ama não significa
que você não seja capaz de fazer suas próprias escolhas. Isso só mostra que
você é inteligente o bastante para entender que tem gente que vê as coisas de
um jeito diferente, que pode te ajudar. O apoio que eu recebi ao longo da vida
me fez enxergar quem eu queria ser e me trouxe até aqui. Me trouxe até sua avó,
e depois até vocês. Essa família que eu amo tanto.
João,
que escutava com um sorriso de orgulho, acrescentou:
— É isso, filho. A gente está aqui para ser essa voz amiga,
essa presença que te ajuda a encontrar o caminho. A vida sempre vai ter
desafios, mas família é isso: uma base segura pra te dar a força de que você
precisa.
Marcelo olhou para o pai e para o avô e sentiu o coração aquecer. Aquela conversa o
ajudava a entender que ter dúvidas não o tornava menos forte, e que aceitar a
ajuda de quem o amava era uma forma de honrar essa ligação que eles tinham.
—
Obrigado, vovô, por compartilhar isso — respondeu Marcelo, emocionado. — Acho que era isso que eu precisava ouvir.
O
Sr. Antônio sorriu, contente por compartilhar um pouco de sua jornada e por
conseguir, de algum jeito, tocar o coração do neto.
Naquele
momento, na quietude da varanda, entre sorrisos e olhares de cumplicidade, Marcelo entendeu que carregar o amor e os conselhos da sua família era como levar
um farol para guiar os passos.
E você ainda tem o seu vovô para te aconselhar? Já parou para escutar as histórias dele? E de seu pai? De sua mãe? Aproveite que você ainda tem essas pessoas, que estão dispostas a fazer de tudo para te ver feliz. Aqueles que realmente torcem para que você alcance teus objetivos. E não tenha vergonha de reconhecer isso, pelo contrário, tenha orgulho de ter pessoas que, às vezes em silêncio, fazem de tudo para te ver feliz.
É
muito comum pensarmos: “ah, eles já viveram a vida deles, agora quero viver a
minha. O tempo deles era outro, o meu é mais moderno e tecnológico e eles não
entendem isso.” Pois saiba que foram eles que começaram essa revolução
“moderna” de hoje. Foram eles que iniciaram as mudanças tecnológicas que
facilitam a tua vida de hoje.
Talvez,
por viverem em época diferente, sem tecnologias e mordomias de hoje, eles
passaram por dificuldades que você nem imagina e isso fez com que adquirissem
experiências de vida que podem, sim, te ajudar muito. Então, quando um deles
parar para te ouvir ou te dar conselhos, aproveite, pois com certeza você terá
muito o que aprender. E esse ensinamento será feito com muito amor. Já a vida,
se você quiser resolver tudo sozinho, poderá te ensinar com a dor.
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