Léo estava sentado na
varanda com o avô, num fim de tarde tranquilo, quando resolveu desabafar. Ele recém havia completado 16 anos e acabara de perder o estágio e, sabendo que a vaga logo seria preenchida por
outra pessoa, sentia um vazio estranho no peito. Olhou para o avô, que saboreava
o café lentamente, e não resistiu:
— Vovô, você já se sentiu… substituível?
O
velho sorriu de canto, observando o neto por alguns segundos antes de
responder.
— Olha, Léo, já sim. Acho que todo mundo sente isso em algum momento, principalmente quando perdemos algo que a gente acha que só nós sabemos fazer — começou ele, ajeitando os óculos. — Mas deixa eu te contar uma coisa… você lembra da história da oficina, né?
Léo
assentiu. O avô havia trabalhado por anos como mecânico, e era conhecido por
ter um jeito especial com os carros. Mesmo aposentado, seu nome ainda era
lembrado pelos antigos clientes.
— Pois bem, eu amava aquele trabalho, mas um dia decidi que
era hora de parar. Senti um aperto no peito, uma sensação de que talvez
estivesse deixando algo que ninguém faria como eu. Mas aí, o tempo passou, e
olha só: a oficina continua funcionando. Outros mecânicos assumiram, e eles
também são bons. Fazem o serviço direitinho. No fim das contas, a vida segue.
Léo
suspirou, balançando a cabeça, ainda sem saber se isso era uma boa notícia ou
uma má notícia.
—
Então… eu sou substituível? — perguntou, meio desanimado.
O
avô riu, passando a mão no ombro do neto.
—
No que você *faz*, sim, meu garoto. E isso não é ruim. Isso significa que a
gente não precisa carregar o peso do mundo nas costas, que as coisas não
dependem só da gente. Mas — ele fez uma pausa, fitando o horizonte — você
é insubstituível em quem você *é*, Léo.
Léo
franziu a testa, tentando entender.
— Como assim?
O
avô pegou uma folha caída no chão e a segurou entre os dedos.
— Essa folha, por exemplo, é única. Nenhuma outra vai ser
exatamente igual a ela. Pode até haver outras folhas na árvore, mas essa aqui
tem a sua própria forma, suas marquinhas. E é dessa forma que as coisas
funcionam. Aquilo que você “faz” pode ser feito por outras pessoas, mas o que
você “é” — o seu jeito, o modo de pensar, sentir, a maneira como lida com as
pessoas — isso é seu, ninguém consegue imitar.
Léo
ficou em silêncio, pensando no que acabara de ouvir. Começava a entender o que
o avô queria dizer. Ele não era só as atividades que desempenhava, as tarefas
que executava. Era o jeito único com que tocava a vida das pessoas, os momentos
que só ele sabia criar.
—
Então, você quer dizer que eu posso perder um estágio, um emprego…, mas
ninguém pode ocupar o espaço de quem eu sou de verdade? — perguntou Léo, já
com um olhar mais confiante.
—
Exatamente — respondeu o avô, dando um sorriso orgulhoso. — E é isso
que você deve valorizar. Faça tudo do seu jeito, deixe um pouquinho de si em
tudo que faz. É disso que as pessoas irão lembrar… e é isso que ninguém pode
tirar de você.
Eles
ficaram em silêncio, enquanto o sol se punha no horizonte. Léo sentiu o peso
sair dos ombros e uma leveza tomar conta. Ele sabia que, dali em diante, seria
lembrado não só pelo que fazia, mas pelo que era — e isso, afinal, era o que
realmente importava.
Nunca
se esqueça: o que você faz, outras pessoas podem fazer também. Mas o que você
é? Isso ninguém pode copiar. O seu jeito, as suas ideias, como realiza suas tarefas, como você se expressa
e trata os outros — tudo isso é só seu. As suas ações são importantes, claro,
mas a sua essência é o que realmente deixa uma marca no mundo. É isso que faz
você ser único.
Então,
tente se lembrar de valorizar o que faz de você uma pessoa especial — não
apenas o que você faz. O legado que você deixa não está só nas tarefas
cumpridas, mas na forma genuína e autêntica com que vive, na empatia e no
carinho que você espalha. Quando você se permite ser verdadeiro e age com o
coração, as lembranças que você cria são especiais, porque vêm de quem você
realmente é. E isso ninguém nunca vai substituir.
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