Era
uma tarde quente. Pedro, 17 anos, estava sentado num banco no parque, mexendo
no celular e com uma cara meio triste. Ao lado dele, Clara, 22, universitária,
que costuma ser meio tagarela, tomava água e notou o clima do amigo.
—
Que foi, Pedro? Tá com cara de quem perdeu o sorteio do bife no almoço.
—
Ah... sei lá. Tô meio decepcionado. Postei no grupo que consegui a bolsa na
faculdade, e poucos curtiram. Teve até um que comentou de um jeito meio
debochado... Fiquei com a sensação de que ninguém ficou feliz por mim.
—
Sério que você tá se deixando abater por isso? Pedro, vou te falar uma coisa
que eu aprendi do jeito difícil: tem gente que não vibra com nada, nem ninguém,
nem por elas mesmas. Imagina pelos outros?
—
Ué, mas isso é o quê? Inveja?
— Nem sempre. Às vezes essa pessoa tá desgostosa com a própria vida, vivendo uma fase ruim, e ver alguém vencendo é doloroso pra ela. Já passei por isso. Quando consegui entrar na faculdade, fiquei toda animada, divulguei em todas as redes... Uma amiga, que eu considerava quase uma irmã, visualizou e não curtiu. Depois descobri que ela não tinha passado no vestibular. Tava pra baixo.
—
Caramba..., mas isso não foi meio egoísta?
—
Pode ser, mas é mais complicado. Quando a pessoa tá de cabeça cheia de nó, ela
não consegue enxergar o brilho do outro, nem sentir que o seu tá apagado. Só
que isso diz mais sobre ela do que sobre você, sabe?
—
Tá, mas... e quando a gente se mata de estudar, corre atrás, conquista uma
parada da hora, e as pessoas que a gente mais gosta não ligam? Isso não dói?
—
Dói. Claro que dói. Mas vou te falar um segredo que mudou a minha vida: se você
colocar sua felicidade na mão dos outros, vai viver frustrado. A gente cresce
querendo aplauso, reconhecimento, curtida..., mas às vezes ninguém vai bater
palma, e a conquista continua sendo sua. E linda.
—
Então quer dizer que eu tenho que parar de compartilhar as coisas?
—
Não, Pedro! Compartilhar é legal. O que você não pode é esperar que todo mundo
vá vibrar junto com você. Compartilha, comemora, vive — mas porque aquilo te
deixa feliz, não pra agradar plateia. Eu já caí nessa de ficar viciada em
curtidas. Cheguei ao ponto de ficar checando o celular a cada dois minutos.
Sabe o que isso estava causando? Ansiedade.
—
Jura? Você? Achei que fosse blindada para essas coisas...
—
Nada! Já me comparei demais, já achei que não era suficiente. Só que, com o
tempo, fui entendendo que a alegria que vem de fora dura pouco. O que fica é o
que vem de dentro. Tipo... quando consegui meu primeiro estágio. Postei, claro.
E teve gente que nem comentou. Mas eu tava tão feliz por mim, tão orgulhosa do
que ralei, que nem fez falta.
—
Mas... e quando é alguém próximo? Tipo, família ou amigo de verdade? Aí machuca
mais.
—
Com certeza. Quando é alguém que a gente ama, ser ignorado dói muito mais. Mas
nem sempre é má vontade. Pode ser distração, pode ser problema, pode ser dor
que a gente nem vê. Já tentou falar sobre isso?
—
Falar? Ah... dá vergonha.
—
Dá. Mas ajuda. Já passei por isso com uma amiga. Ela arrasou num projeto e eu,
atolada de coisas, nem comentei. Quando ela me chamou pra conversar, caiu minha
ficha. Fui péssima amiga — sem querer.
—
Agora, aquele cara que comentou de forma debochada... Ele não tava passando por
nada. Só foi escroto mesmo.
—
Sempre tem um. Sempre. Tem gente que parece que acorda decidida a jogar um
balde de água fria, querendo estragar o dia de quem tá feliz. Com essas
pessoas, ou a gente ignora ou corta. Simples assim. Não dá pra ficar carregando
peso morto.
—
Às vezes eu fico pensando se fiz algo errado pra merecer isso...
—
Ei, para com isso! Sua conquista não é erro, é mérito. Eu também já me
questionei. Já pensei: “Será que tô me achando demais? Será que tô exagerando?”
Mas aí lembro do esforço, das noites viradas, do tanto que ralei. E ninguém tem
o direito de apagar isso.
—
Você fala com uma firmeza que me assusta.
—
É que eu já estive aí, Pedro. Já chorei no banheiro por causa de silêncio
alheio. Já duvidei de mim por causa de comentários idiotas. A diferença é que,
hoje, eu sei que sou minha maior torcida. Pode parecer papo de autoajuda, mas é
real: quando você aprende a se apoiar, tudo muda.
—
Eu fico muito preso no que os outros pensam. Tipo, se ninguém curtir, parece
que o que eu fiz vale menos.
—
E aí é que mora o perigo. O que você fez vale porque foi você quem fez. Porque
você sabe o quanto aquilo custou. Quando eu passei no vestibular, dancei no
quarto sozinha, igual uma doida. Zero curtidas. Mas eu tava tão feliz que não
cabia em mim.
—
Você dançou sozinha?
—
Uhum. Coloquei uma música brega e me joguei. E sabe o que é melhor? Aquela
alegria era minha. Não dependia de ninguém. É isso que você precisa encontrar:
a felicidade que não pede permissão.
—
Tá, acho que tô começando a entender. Mas como é que eu faço pra parar de ligar
tanto?
—
Vai devagar. Começa perguntando pra si mesmo: “Eu tô feliz com isso?”. Se a
resposta for sim, então beleza. O resto é ruído. E mais: se cerca de gente que
comemora com você, que não sente vergonha de vibrar junto. Essas pessoas mudam
tudo.
—
Sabe, Clara... talvez eu até dance sozinho no quarto também.
—
Aí sim! E me chama que eu ensino uns passinhos ridículos. Mas falando sério:
comemora suas vitórias. E deixa quem não tá feliz com isso cuidar da própria
vida. Eles que se resolvam. Você só precisa continuar brilhando.
Os
dois riram. O sol já se punha devagar, tingindo o parque de laranja e dourado.
Pedro respirou fundo, mais leve. Clara deu um soquinho de leve no braço dele,
como quem diz: “tamo junto”.
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Sabe...
a gente tem essa mania de esperar aplauso. De querer que todo mundo veja,
curta, diga "parabéns", bata palma. Só que a real é que nem todo
mundo vai vibrar com o que você conquista — e isso não é o fim do mundo.
Às
vezes as pessoas estão travadas nas próprias dores. Não têm espaço pra alegria
do outro. E tudo bem. Não é sobre você, é sobre elas.
A
sacada é aprender a olhar pra si e reconhecer: “Caramba, eu consegui. Eu tô
feliz com isso.” A partir daí, o que vier de fora é bônus — não base.
Então,
se você tá lendo isso e se reconhecendo: comemora suas pequenas e grandes
vitórias. Seja uma nota boa, um dia difícil que você enfrentou, um passo que só
você sabe o quanto custou. Celebra. Sem vergonha.
E,
claro, se cerca de quem dança contigo, mesmo que a música seja ruim e os passos
sejam esquisitos. Essas pessoas são ouro.
Agora
vai. Posta aquela conquista, solta aquele sorrisão, dança no quarto,
compartilha isso com alguém que precisa ouvir: você não precisa de plateia pra
ser feliz.
Brilha.
Do seu jeito. Sem pedir licença.
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