quarta-feira, 16 de julho de 2025

As conquistas são suas, não dos outros.

 
            Era uma tarde quente. Pedro, 17 anos, estava sentado num banco no parque, mexendo no celular e com uma cara meio triste. Ao lado dele, Clara, 22, universitária, que costuma ser meio tagarela, tomava água e notou o clima do amigo.

— Que foi, Pedro? Tá com cara de quem perdeu o sorteio do bife no almoço.

— Ah... sei lá. Tô meio decepcionado. Postei no grupo que consegui a bolsa na faculdade, e poucos curtiram. Teve até um que comentou de um jeito meio debochado... Fiquei com a sensação de que ninguém ficou feliz por mim.

— Sério que você tá se deixando abater por isso? Pedro, vou te falar uma coisa que eu aprendi do jeito difícil: tem gente que não vibra com nada, nem ninguém, nem por elas mesmas. Imagina pelos outros?

— Ué, mas isso é o quê? Inveja?

— Nem sempre. Às vezes essa pessoa tá desgostosa com a própria vida, vivendo uma fase ruim, e ver alguém vencendo é doloroso pra ela. Já passei por isso. Quando consegui entrar na faculdade, fiquei toda animada, divulguei em todas as redes... Uma amiga, que eu considerava quase uma irmã, visualizou e não curtiu. Depois descobri que ela não tinha passado no vestibular. Tava pra baixo.

— Caramba..., mas isso não foi meio egoísta?

— Pode ser, mas é mais complicado. Quando a pessoa tá de cabeça cheia de nó, ela não consegue enxergar o brilho do outro, nem sentir que o seu tá apagado. Só que isso diz mais sobre ela do que sobre você, sabe?

— Tá, mas... e quando a gente se mata de estudar, corre atrás, conquista uma parada da hora, e as pessoas que a gente mais gosta não ligam? Isso não dói?

— Dói. Claro que dói. Mas vou te falar um segredo que mudou a minha vida: se você colocar sua felicidade na mão dos outros, vai viver frustrado. A gente cresce querendo aplauso, reconhecimento, curtida..., mas às vezes ninguém vai bater palma, e a conquista continua sendo sua. E linda.

— Então quer dizer que eu tenho que parar de compartilhar as coisas?

— Não, Pedro! Compartilhar é legal. O que você não pode é esperar que todo mundo vá vibrar junto com você. Compartilha, comemora, vive — mas porque aquilo te deixa feliz, não pra agradar plateia. Eu já caí nessa de ficar viciada em curtidas. Cheguei ao ponto de ficar checando o celular a cada dois minutos. Sabe o que isso estava causando? Ansiedade.

— Jura? Você? Achei que fosse blindada para essas coisas...

— Nada! Já me comparei demais, já achei que não era suficiente. Só que, com o tempo, fui entendendo que a alegria que vem de fora dura pouco. O que fica é o que vem de dentro. Tipo... quando consegui meu primeiro estágio. Postei, claro. E teve gente que nem comentou. Mas eu tava tão feliz por mim, tão orgulhosa do que ralei, que nem fez falta.

— Mas... e quando é alguém próximo? Tipo, família ou amigo de verdade? Aí machuca mais.

— Com certeza. Quando é alguém que a gente ama, ser ignorado dói muito mais. Mas nem sempre é má vontade. Pode ser distração, pode ser problema, pode ser dor que a gente nem vê. Já tentou falar sobre isso?

— Falar? Ah... dá vergonha.

— Dá. Mas ajuda. Já passei por isso com uma amiga. Ela arrasou num projeto e eu, atolada de coisas, nem comentei. Quando ela me chamou pra conversar, caiu minha ficha. Fui péssima amiga — sem querer.

— Agora, aquele cara que comentou de forma debochada... Ele não tava passando por nada. Só foi escroto mesmo.

— Sempre tem um. Sempre. Tem gente que parece que acorda decidida a jogar um balde de água fria, querendo estragar o dia de quem tá feliz. Com essas pessoas, ou a gente ignora ou corta. Simples assim. Não dá pra ficar carregando peso morto.

— Às vezes eu fico pensando se fiz algo errado pra merecer isso...

— Ei, para com isso! Sua conquista não é erro, é mérito. Eu também já me questionei. Já pensei: “Será que tô me achando demais? Será que tô exagerando?” Mas aí lembro do esforço, das noites viradas, do tanto que ralei. E ninguém tem o direito de apagar isso.

— Você fala com uma firmeza que me assusta.

— É que eu já estive aí, Pedro. Já chorei no banheiro por causa de silêncio alheio. Já duvidei de mim por causa de comentários idiotas. A diferença é que, hoje, eu sei que sou minha maior torcida. Pode parecer papo de autoajuda, mas é real: quando você aprende a se apoiar, tudo muda.

— Eu fico muito preso no que os outros pensam. Tipo, se ninguém curtir, parece que o que eu fiz vale menos.

— E aí é que mora o perigo. O que você fez vale porque foi você quem fez. Porque você sabe o quanto aquilo custou. Quando eu passei no vestibular, dancei no quarto sozinha, igual uma doida. Zero curtidas. Mas eu tava tão feliz que não cabia em mim.

— Você dançou sozinha?

— Uhum. Coloquei uma música brega e me joguei. E sabe o que é melhor? Aquela alegria era minha. Não dependia de ninguém. É isso que você precisa encontrar: a felicidade que não pede permissão.

— Tá, acho que tô começando a entender. Mas como é que eu faço pra parar de ligar tanto?

— Vai devagar. Começa perguntando pra si mesmo: “Eu tô feliz com isso?”. Se a resposta for sim, então beleza. O resto é ruído. E mais: se cerca de gente que comemora com você, que não sente vergonha de vibrar junto. Essas pessoas mudam tudo.

— Sabe, Clara... talvez eu até dance sozinho no quarto também.

— Aí sim! E me chama que eu ensino uns passinhos ridículos. Mas falando sério: comemora suas vitórias. E deixa quem não tá feliz com isso cuidar da própria vida. Eles que se resolvam. Você só precisa continuar brilhando.

Os dois riram. O sol já se punha devagar, tingindo o parque de laranja e dourado. Pedro respirou fundo, mais leve. Clara deu um soquinho de leve no braço dele, como quem diz: “tamo junto”.

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Sabe... a gente tem essa mania de esperar aplauso. De querer que todo mundo veja, curta, diga "parabéns", bata palma. Só que a real é que nem todo mundo vai vibrar com o que você conquista — e isso não é o fim do mundo.

Às vezes as pessoas estão travadas nas próprias dores. Não têm espaço pra alegria do outro. E tudo bem. Não é sobre você, é sobre elas.

A sacada é aprender a olhar pra si e reconhecer: “Caramba, eu consegui. Eu tô feliz com isso.” A partir daí, o que vier de fora é bônus — não base.

Então, se você tá lendo isso e se reconhecendo: comemora suas pequenas e grandes vitórias. Seja uma nota boa, um dia difícil que você enfrentou, um passo que só você sabe o quanto custou. Celebra. Sem vergonha.

E, claro, se cerca de quem dança contigo, mesmo que a música seja ruim e os passos sejam esquisitos. Essas pessoas são ouro.

Agora vai. Posta aquela conquista, solta aquele sorrisão, dança no quarto, compartilha isso com alguém que precisa ouvir: você não precisa de plateia pra ser feliz.

Brilha. Do seu jeito. Sem pedir licença.

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