sexta-feira, 18 de julho de 2025

Não seja o curativo nas feridas de outra pessoa, pois curativos são descartados quando elas cicatrizam.

 
            — Ei… posso sentar aqui? — ela perguntou, com aquela cara de quem tem muita coisa engasgada.

— Pode, claro — respondi, dando uma chegadinha para o lado no banco.

— Tô meio... sabe quando você tá cansada, mas não só do corpo?

— Do mundo inteiro, né? Já senti isso. Um cansaço que parece que nem cochilo resolve.

— Exato. Acho que tô virando apoio demais pros outros e zero pra mim.

— Bem-vinda ao clube dos que escutam todo mundo e voltam pra casa com a cabeça cheia e o coração meio vazio.

— É tipo isso. Sempre que alguém quebra, eu viro a “salva-vidas”. Mas quando eu tô afundando, ninguém nem vê.

— Você virou o curativo.

— Hã?

— O curativo. Aquela coisinha que cola na dor dos outros, segura o sangramento, ajuda a sarar... e depois é jogada fora.

— Nossa… que comparação triste.

— E real. Já fui isso. O cara que resolve tudo, escuta tudo, carrega todo mundo. Só não lembrava de carregar a mim mesmo.

— Me identifiquei agora. Às vezes, nem é que a pessoa seja ruim… mas ela só aparece quando precisa, né?

— Exatamente. Você começa a perceber que virou tipo uma farmácia emocional. A galera só passa quando tá doente.

— E quando melhora... nem lembra que você existe. Quem é que entra numa farmácia se não for para comprar um remédio?

— É. E a gente vai se acostumando com isso, achando bonito. Mas chega uma hora que dá um estalo.

— Tipo “ei, também tenho problemas, tá?”

— Isso. Só que quando você fala isso em voz alta, metade das pessoas desaparece.

— Porque só sabiam lidar com a gente quando a gente tava disponível pra elas. Não quando a gente precisava também.

— Aí você entende que tava sendo usada. E isso machuca mais do que qualquer decepção romântica.

— O pior é que eu comecei a achar que meu valor tava em ser útil.

— A gente se acostuma com esse papel. Se sente importante por ser o “porto seguro”. Só que ninguém pergunta se a gente tá naufragando.

— E como sai disso?

— Demorou, mas aprendi a dizer “hoje não dá”. “Tô mal também”. “Agora eu que preciso”.

— E a galera respeitou?

— Alguns sim. Outros sumiram.

— Doeu?

— Pra caramba. Mas libertou. Porque aí você vê quem tá com você porque gosta de você... e não porque precisa.

— Faz sentido. Mas dá medo, né?

— Dá. Mas sabe o que dá mais medo? Continuar vivendo pra agradar, servindo todo mundo e ficando de escanteio na própria vida.

— Tá me dando um aperto aqui no peito...

— É porque tá doendo de verdade. Mas dor às vezes é só um sinal de que a gente precisa mudar o jeito que tá se tratando.

— Eu sempre achei que ser boa com os outros era o certo.

— E é. Mas você não tem que se destruir pra isso. Tem diferença entre ser boa e ser trouxa.

— Ufa. Obrigada por dizer isso com todas as letras.

— A gente precisa ouvir. Porque tem gente aí tratando empatia como tapete. E não é.

— E como você lida hoje?

— Eu ajudo. Escuto. Mas com limite. E, principalmente, com reciprocidade. Se é mão única, eu pulo fora.

— Isso é maturidade.

— Ou cansaço mesmo. Porque a gente vai acumulando tanto peso que chega uma hora que a coluna emocional diz “chega!”

— E se a pessoa mudar depois?

— Aí você escolhe se ainda vale a pena. Mas nunca mais se coloca no mesmo lugar de antes. Porque a dor ensina, mas a gente que decide se quer repetir a lição.

— Cara, que conversa que tá me pegando de jeito.

— Fico feliz que tá fazendo sentido pra você. Porque um dia eu também precisei ouvir isso.

— E ouviu de quem?

— Da vida. No susto mesmo. Quando me vi sozinho, feito uma bala mastigada.

— Horrível essa sensação.

— É. Mas depois a gente aprende. Aprende a ser inteiro, não metade de ninguém. Aprende a se olhar no espelho e dizer: “você também importa”.

— Obrigada. De verdade.

— Eu que agradeço. Porque cada vez que a gente fala essas coisas em voz alta, alguém se liberta por dentro.

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Se você se sentiu nessa conversa, não ignora essa sensação. Tem coisa aí dentro que você está carregando há tempo demais, fingindo que está tudo certo. Mas não está, né?

Você não é suporte. Você não é rodapé da história de ninguém. Você é protagonista da sua. E, sinceramente, quem só aparece quando precisa… não merece nem saber o final do seu capítulo.

Para de viver sendo o curativo dos outros. Porque no fim, quem se arrebenta é você. Começa a ser presença, não função. Começa a ser escolha, não recurso. Começa a ser você — inteiro, do jeito que for, mesmo bagunçado.

E, por favor, se esse texto mexeu com você… compartilha. Alguém que você conhece pode estar nesse mesmo barco. E talvez essa conversa seja o que faltava para ele virar a chave.

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